Atletismo

Isinbayeva anuncia aposentadoria e diz que medalhas valem menos sem russos

Alexander Z./AP Photo
Yelena Isinbayeva chora durante coletiva de imprensa na Rússia imagem: Alexander Z./AP Photo

Fábio Aleixo

Do UOL, no Rio de Janeiro

A saltadora Yelena Isinbayeva, um dos maiores nomes da história do salto com vara e dona de dois títulos olímpicos e três mundiais, concedeu entrevista nesta sexta-feira (19) após ser eleita para integrar a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em seu primeiro discurso como dirigente, a atleta confirmou sua aposentadoria após perder a disputa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro por conta da punição imposta pela Federação Internacional de Atletismo (Iaaf) à delegação russa da modalidade. 

“Vai ser muito triste para mim. Com esta eleição para o COI, não digo tchau ao esporte, digo adeus ao meu esporte, à minha vara, às minhas medalhas e minhas emoções de competir. Estou feliz pelo que consegui. Ganhei todas as medalhas que podia. Depois desta coletiva de imprensa, podem me considerar como uma atleta que completou a carreira”, revelou Isinbayeva, que está atualmente com 34 anos.

E, como não poderia deixar de ser, um dos principais temas abordados na entrevista foi o veto imposto pela Federação após um esquema de doping, que tinha o envolvimento do governo, ser revelado. Sem papas na língua, Isinbayeva lamentou a punição imposta pela Federação e colocou em xeque as medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, já que os atletas russos não participaram das competições por conta da punição.

"Claro que estas medalhas não terão o mesmo valor porque (nós russos) não competimos, mas não é culpa ou problema deles. Eles não devem pensar nisso. Se atletas russos não estão (no torneio), não é problema deles. Quando russos competem, estamos no topo. Não nego que temos problemas de doping na Rússia, mas é no nível de outros países. Este é um problema do mundo todo, e não só de um país. Por isso prego a luta contra o doping. Não dá para fazer de um país só motivo de luta. Existe esporte limpo na Rússia e sou um exemplo disso, e não sou a única. A escolha por se dopar é de cada atleta. Ninguém nos impõe nada. Atleta pego deve ser banido. Mas um atleta ser pego e o time todo ser punido não faz sentido", reclamou a atleta.

Apesar do desabafo, Isinbayeva fez questão de agradecer tudo que conquistou através do esporte e ressaltou que não se pode misturar a prática esportiva com questões políticas.

"Sem o esporte eu não seria o que sou hoje, uma pessoa respeitada em todo mundo. Não seria capaz de me apresentar ao mundo sem o esporte. Tudo que tenho me foi dado pelo esporte. Por anos eu trabalhei duro para ter a confiança de vocês. Estou deixando a minha carreira profissional, que é maravilhosa. Trabalhei pelo bem do mundo esportivo, do movimento olímpico, pois esporte não deve ter ligação com política", afirmou.

Confira outros pontos da entrevista de Isinbayeva

Mágoa com a Iaaf

"Antes eu disse que não iria perdoar a Iaaf pelo que fez comigo e com meus colegas russos, mas eu mudei de ideia. Eu vou perdoar e deixar que sejam julgados por Deus. Eu sempre fui limpa, e tenho certeza que vocês nunca duvidaram disso. Mas estou aqui falando com vocês ao invés de estar me preparando para a final porque a Iaaf não permitiu. Perdoo (Sebastian) Coe por esta injustiça e perdoo o Comitê Executivo, especialmente se eles acreditam que é justo (me tirar dos Jogos). Deixo esta decisão na conta deles. Deus será quem os julgará."

Escolha para integrar o COI

"Ontem fui eleita para a comissão de atletas do COI e isso demonstra que atletas de todo o mundo, campeões olímpicos, confiam em mim como uma pessoa limpa. Ninguém da Iaaf me parabenizou por ser eleita membro do COI, me senti ofendida por isso, pois fazemos parte do mesmo time."

Relatório elaborado pela Wada que serviu como base para exclusão dos russos

"Acredito que leis devem ser iguais para todos, independentemente de cor, sexo ou raça. Nossa federação cumpriu todos requisitos para ser reacreditada pela Iaaf, a bola está na mão do conselho agora. Só vou dizer uma coisa: todas as acusações foram construídas sobre algo em que não há provas ou fatos e isso foi suficiente para levantar questões e banir todo o time russo. Quero ver mais fatos e provas sobre atletas. Não devemos deixar o trabalho meio feito. O relatório está longe de ser completo. A decisão de banir nosso time de atletismo foi injusta", 

Prova do salto com vara na Rio-2016

"No dia 2 de junho, eu pulei 4,90 metros e foi melhor resultado no mundo. Esta foi minha primeira competição após três anos. Eu não tive possibilidade competir antes. Pode imaginar em três anos uma marca tão alta? Naturalmente, acreditava que não seria banida. E falava com meu técnico em fazer 5,10 m. Não tinha dúvida que seria capaz de competir neste nível. Eu acreditava na minha vitória, então elas competirem sem eu estar lá seria injustiça. Quem ganhar a medalha de ouro eu não vou duvidar. Mas não deveria ser uma medalha justa. Vou parabenizar e ela vai sentir que não é um ouro total, pois não pôde derrotar Isinbayeva. O mundo queria ver esta competição. 

Vai acompanhar a final? (Acontece nesta sexta-feira, às 20h30)

"Fisicamente, não serei capaz de ver a final. Atletas russos não estarão no Estádio Olímpico e então não verei. A garota que vencer será campeã olímpica, mas será que estará satisfeita? Isso vocês devem perguntar na zona mista."

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