Japonesa "imbatível" vê ouro ficar com americana na luta olímpica
Nathália MendesEnviada Especial do Portal EBC
Saori Yoshida chegou ao Rio de Janeiro pronta para fazer história. Afinal, não havia ninguém que considerasse a possibilidade da wrestler não vencer a categoria até 53 kg da luta olímpica estilo livre feminino. Este seria o quarto ouro consecutivo da japonesa, que havia vencido em Atenas, Pequim e Londres. Seria, porque, no meio do caminho, Yoshida topou com a norte-americana Helen Louise Maroulis, que deixou o ginásio inteiro em choque ao imprimir a terceira derrota internacional na carreira de Yoshida - a primeira em mundiais ou olimpíadas - e tirar o ouro da até então imbatível japonesa.
Yoshida era a única campeã de sua categoria desde que as mulheres passaram a competir na modalidade em Jogos Olímpicos. Se chegasse ao quarto ouro seguido, ela se tornaria, ao lado da compatriota Kaori Icho, da categoria até 58 kg, a mulher com o maior número de ouros em esportes individuais e a atleta, entre homens e mulheres, mais vencedora da modalidade em Jogos Olímpicos. A derrota por pontos desmontou a lendária lutadora, que desabou em lágrimas no tapete central da Arena Carioca 2 quando o cronômetro zerou.
Saori Yoshida, de 33 anos, venceu absolutamente todos os campeonatos mundiais desde que passou a competi-los, em 2002 - são 13, no total. Por causa das mudanças nas faixas de peso para o estilo livre feminino, implantadas há dois anos, a japonesa, que até então competia entre as atletas de até 55 kg, precisou perder peso para entrar na categoria olímpica de até 53 kg. Depois de chegar com autoridade à final, vencendo suas lutas sem ceder nenhum ponto, a derrota na final era tida como "impossível" por jornalistas japoneses. Do outro lado do mundo, o Japão acordou cedo para ver o esperado quarto ouro olímpico da lutadora.
Filha de Eikatsu Yoshida, campeão japonês de wrestler, Saori Yoshida deu seus primeiros golpes aos três anos. Sua fama extrapola o âmbito esportivo: com status de celebridade em seu país e extremamente conhecida - até por quem não tem tanta intimidade com a luta olímpica -, ela também se arrisca no meio artístico. Já foi estrela de comerciais, lançou uma música, fez participações em novelas e séries da televisão japonesa e considera seguir a carreira de atriz quando encerrar a vida esportiva.
A norte-americana Hlen Maroulis segue competindo na categoria até 55kg, que não é olímpica. Foi nesta faixa de peso que ela se tornou campeã mundial no ano passado, já sem a sombra da japonesa. A estreante em Jogos Olímpicos tornou-se, aos 24 anos, a primeira americana a faturar a medalha de ouro no estilo livre feminino. "É um sentimento incrível. Ainda estou processando tudo isso", admitiu. "Eu sabia que a luta seria extremamente difícil, mas dei o meu melhor e deixei tudo que eu podia no tapete".
A nova campeã conta que a grandeza da adversária da final não a assustou nem por um momento. "Quando luto, não penso se meu oponente é pior ou melhor do que eu. Afinal, somos todas competidoras. Eu dizia a mim mesma que qualquer uma poderia ganhar e acreditava que estava pronta". O ouro de Maroulis foi o 53º dos Estados Unidos na luta olímpica, sendo 52 em categorias masculinas.
A derrota desmontou Yoshida e deixou o público incrédulo, sem acreditar no que acabara de presenciar. E foi nos braços de sua mãe e do irmão, que assistiram a tragédia pessoal da campeã das arquibancadas, que ela buscou consolo - cercada, obviamente, por uma multidão de fotógrafos, que praticamente ignoraram a celebração de Maroulis. "Eu peço desculpas pela minha derrota", afirmou a japonesa, que não soube responder se tentará a classificação para lutar em casa, em 2020.
A queda de Yoshida está sendo comparada a um dos fracassos mais chocantes da história do esporte: o do russo Alexander Karelin. O mito da luta greco-romana permaneceu invicto durante toda sua carreira, sem perder nenhum ponto nos últimos dez anos, até a luta que marcaria sua aposentadoria. Nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000, Karelin estava a uma vitória de se tornar tetracampeão olímpico - assim como a japonesa -, e foi superado pelo desconhecido norte-americano Rulon Gardner por 1 a 0.