Festa em alto-mar e carona com a Marinha: Ouro fez vela virar "Maracanã"

Bruno Doro, Guilherme Costa e Gustavo Franceschini
Do UOL, no Rio de Janeiro

Quando Martine e Kahena pegaram uma rota alternativa na penúltima perna da regata, os amigos que estavam na praia do Flamengo ficaram apreensivos. A tática podia valer à dupla um lugar no pódio, na pior das hipóteses. “Eu falei: ‘Está tranquilo, gente. Elas têm um G da sorte’”, relembra Juliana Mota, uma das várias integrantes da torcida organizada da dupla brasileira na praia do Flamengo, brincando com o sobrenome Grael. Quando a estratégia das duas deu certo e o ouro chegou, Juliana e sua trupe iniciaram uma festa sem igual na Marina da Glória.

Amigos e familiares de Martine e Kahena não se contiveram. Largaram mochilas e pertences para trás e entraram no mar a nado atrás da dupla, que estava ainda em alto-mar comemorando na altura da linha de chegada da classe 49er FX. “Na hora de cruzar a linha foi emocionante, meu coração batia tanto. Eu estava quase sendo afogada ali com todo mundo me abraçando”, contou Kahena horas depois, aos risos diante dos jornalistas.

Abraçõs, beijos e gritos eram acompanhados de perto por um barco da Marinha que fazia a ronda operacional na prova. Era uma segurança bem familiar. O comandante do navio é um dos superiores diretos de Kahena e Martine, sargentos da Marinha. “Ele nos conhece, organiza tudo, busca apoio para a gente. Ele viu a gente no bar e falou para a gente subir”, disse Juliana, também velejadora e sargento da corporação.

A quebra de protocolo tirou o grupo de torcedores do alto-mar e os deixou em uma área teoricamente reservada. A festa era tanta que ninguém reclamou muito. Enquanto o barco de Martine e Kahena era carregado pela rampa com elas em cima, os amigos saltavam do barco da Marinha para nadar até a Marina da Glória. Entre eles estava, por exemplo, Marco Grael, irmão de Martine que também competiu na Rio-2016.

Benoit Tessier/Reuters
Martine Grael tem barco levado para fora da água após conquistar a medalha de ouro na classe 49er da vela nos Jogos Olímpicos de 2016
  

Com a roupa molhada pelo mergulho, Juliana passou pela área dos atletas com uma bandeira do Brasil na mão improvisando um coro que dizia “Vai ter pódio” e “Vai ter continência”. “Muita gente falou sobre isso, mas não tem a ver com militarismo. É uma reverência à bandeira, os militares fazem a continência para civis. Eu fiz também. Até pedi desculpa para o comandante, estava cantando o hino enquanto batia continência e ainda por cima estava descalça [risos]. Mas tudo bem, o que a gente mais fez hoje foi quebrar o protocolo”, contou ela.

O melhor estava por vir. Além das amigas que ficaram em uma espécie de área VIP, Martine e Kahena contaram com uma pequena multidão de fãs que se posicionou no entorno do palco em que o pódio foi posicionado. Separados das campeãs por grades, as dezenas de fãs foram agraciadas com uma pequena volta olímpica logo após o hino.

Martine e Kahena ainda foram na área VIP com as amigas e depois voltaram à galera, pulando a grade para ir comemorar com a torcida. A quebra de protocolo, mais uma na festa, deixou a organização perdida e sem saber o que fazer, já que os fotógrafos tentavam invadir uma área não-permitida pela organização. As campeãs, sem ligar para nada disso, foram à loucura.

“Só tenho a agradecer todas as pessoas. Fiquei muito feliz com a quantidade de amigos. Todo mundo fazendo ola, parecia um Maracanã assim”, resumiu Martine, com um sorriso no rosto.