Medalhista mais velho da Olimpíada ganhou ouro na vela com só um pulmão
Santiago Lange tem 54 anos e 329 dias. É o primeiro campeão olímpico da classe Nacra 17, ao lado de Cecília Carranza. O argentino é o mais velho medalhista olímpico dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Não que a idade importe tanto assim. A vela é uma modalidade inclusiva, em que jovens e veteranos podem competir em pé de igualdade. O anormal no caso de Santiago é sua condição física.
No ano passado, ele descobriu que tinha um tumor no pulmão. Competiu com câncer até setembro, quando sofreu um desmaio e teve de ser operado. Ele estava no meio de uma competição em Barcelona. Todo o pulmão esquerdo foi retirado. Um mês depois, ele estava velejando novamente.
"Quando cheguei aqui e os jornais argentinos começaram a colocar minha doença no título das matérias, eu fiquei incomodado. Estamos nas Olimpíadas. É um evento esportivo. Temos de falar do esporte. Mas, aos poucos, eu entendi que o meu caso pode ajudar outras pessoas", admite o velejador. "Eu consegui ver esse outro lado. Eu sei que cada pessoa passa por isso de uma maneira diferente. Mas se eu conseguir passar algum tipo de esperança, isso me deixa muito orgulhoso. Percebo isso agora".
A medalha na vela é o segundo ouro da Argentina no Rio de Janeiro, somado ao título de Paula Pareto no judô. A simples presença do medalhista no Rio de Janeiro foi por acaso. Em 2008, após o bronze na classe Tornado, ele abandonou a vela olímpica. Voltou quando seus filhos, Yago e Klaus, decidiram fazer uma campanha para buscar a vaga na Rio-2016.
Inicialmente, Santiago seria o técnico da dupla na classe 49er. Mas não aguentou. "Era uma responsabilidade muito grande para mim ser técnico deles. Eu não sabia se seria capaz. Então, um dia, eu estava correndo na praia no Rio de Janeiro e pensei se não queria voltar a competir", conta. O convite para a Nacra veio em 2015, quando Cecília tinha acabado de perder o parceiro e pensava em voltar para a classe Laser Radial. "Eu disse para ela: Que tal tentar com esse velhote?". Em 2015, foi vice-campeão mundial.
Seus filhos também conquistaram a vaga. Nesta terça, enquanto o pai velejava para ganhar o ouro, se classificaram para a medal race em sua classe. Os dois, porém, estão em sétimo lugar, sem chance de medalha. “Esta edição dos Jogos Olímpicos é muito especial. Acho que nunca chorei tanto quanto nesta cerimônia de abertura, ao ver os meus filhos desfilando”, conta. “Quando eles eram pequenos, eu viajava muito, por causa da vela. Isso que aconteceu no Rio nos deixou muito mais próximos”.
O velejador, agora, soma cinco Jogos Olímpicos e três medalhas – ele foi bronze na Tornado em 2004 e 2008. E quer mais uma: “Eu ainda sonho. Acho que se a chance for boa, eu vou para Tóquio. Vou tentar, pelo menos. Enquanto os joelhos sobreviverem e as costas aguentarem, vou continuar”.