Futebol

Formiga diz que troca medalha por espaço para mulheres nos grandes clubes

Pedro Vilela/Getty Images
Formiga em jogo contra a Austrália imagem: Pedro Vilela/Getty Images

Luis Augusto Simon

Do UOL, no Rio de Janeiro

Formiga sonha com o ouro olímpico desde 1996, quando, aos 18 anos, era uma garota entre feras. No caminho, até se tornar um "mito", como é chamada por garotas como a atacante Bia, foram dois bronzes e duas pratas conquistadas.

Faltam dois jogos para o ouro. O primeiro, contra a Suécia, derrotada por 5 a 1 na fase inicial. Com o apoio da torcida, as chances aumentam. A ansiedade é grande. E, mesmo assim, Formiga abriria mão de tudo, de ouro, prata, bronze, em troca de algo que parece banal para suas concorrentes.

"Troco tudo que conquistei e o que posso conquistar pela implantação do profissionalismo no Brasil. Sem pensar um momento", diz, com voz baixa e tímida, no luxuoso hotel em que estão concentradas.

A argumentação que defende a troca é baseada no total desprendimento. "Eu não teria medalha, mas o Brasil ganharia muitas. Basta profissionalizar para que venha o ouro muitas vezes".

Formiga, já com 38 anos, vai se aposentar. E promete continuar brigando pelo seu esporte. "Não vou parar de falar. As coisas precisam melhorar".

O que pede é pouco. Um calendário. Poder jogar em seu país. Banalizar o que se vê de tempos em tempos. "Quando a gente joga aqui, o carinho é enorme. Todo mundo gosta da gente. É um sucesso. Por que os clubes não montam times femininos? Impossível dar errado".

Pode ser. Mas é muito mais fácil conquistar a medalha de ouro do que esperar por bom senso de cartola. O jeito, então, é se concentrar no que falta. A Suécia, por exemplo. Formiga dá um sorriso do tipo – "você não está entendendo nada" – quando se fala que a goleada na primeira fase mostra que a semifinal será fácil.

"Vai ser um jogo complicadíssimo. Elas eliminaram os EUA, elas tem uma grande treinadora e vão jogar da mesma maneira contra a gente. Precisamos paciência", diz a volante que se inspira em Dunga.

Formiga está ali, à frente da zaga de maneira onipresente. Disputa pelo alto, dá carrinho, cobre as laterais... Faz pouca falta. “E mesmo assim, dizem que sou desleal. Um exagero”.

No início, não era assim. A garota Miraílde infernizava, com dribles e mais dribles, os garotos da vizinhança, em Salvador. Entre eles, os irmãos que, ciumentos, descontavam com alguns socos.

A animosidade parou quando se pensou na possibilidade de escalar a irmã no time da rua, o Flamenguinho de Vila Lobato. O primeiro drible por entre as pernas do adversário foi comemorado pelo time todo. "Eu era abusada mesmo".

Hoje, Formiga é mais centrada. Gosta de ler livros com mensagem espírita, conversa muito com as mais novas e sente saudades imensas de quem já não está em busca de ouro. “Roseli, Pretinha, Sissi...Tanta gente boa. Queria ganhar por elas também. Ah, a Michael Jackson, que me ensinou tanto”.

Falta pouco. Depois, Formiga gostaria de ser uma dirigente ou treinadora. De futebol feminino. Se não der..."Já estou feliz. Minha mãe sempre me ajudou e eu pude retribuir. Temos uma casa em Salvador. Está bom para mim".

Topo