Olimpíadas 2016

"Em meu país as pessoas têm respeito", diz israelense ignorado por rival

Markus Schreiber/AP
Judoca Islam El Shehaby se recusa a cumprimentar israelense Or Sasson imagem: Markus Schreiber/AP

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

Política é questão diplomática e não tem que ser misturada no contexto esportivo em um momento de interação como os Jogos Olímpicos. Assim pensa o judoca israelense Or Sasson, que foi vítima de falta de cordialidade e espírito esportivo de seu oponente, o egípcio Islam El Shehaby.

Depois de levar um ippon do oponente, o perdedor se recusou a apertar a mão do rival ao final do combate e tentou deixar a área de luta sem fazer a reverência tradicional da modalidade. O público que estava na Arena Carioca 2 percebeu a atitude e vaiou muito o egípcio, que foi obrigado a voltar para a área e se curvar no tatame, como fazem todos os judocas após o combate. O gesto foi apenas protocolar: enquanto todos curvam-se em ângulos de até 90 graus, ele apenas fez um sinal com a cabeça.


Sasson diz não ter mágoa do oponente, nem quis opinar se ele deve ou não ser punido. Só ressaltou que em seu país as pessoas têm atitude de respeito umas com as outras e nada do que ocorre politicamente deve vir à tona.

“As pessoas em Israel são boas. Elas são pessoas respeitosas. Eu, como israelense, cresci na minha infância aprendendo a respeitar as pessoas. Eu só penso no lado esportivo e profissional, não nenhum tipo de preocupação política”, disse o judoca em entrevista ao UOL Esporte.

E, como destaque esportivo, ele levou a medalha de bronze entre os pesados do judô. “Penso que foi uma ótima sensação de conquistar uma medalha numa edição de Jogos Olímpicos, um sonho realizado. Eu esperei essa hora chegar há muito tempo, há vários anos eu esperava por isso. Fizemos um trabalho correto aqui. Além de eu estar feliz, toda a nação israelense está feliz por mim também.”

Mais casos e possível punição

A Federação Internacional de Judô emitiu um comunicado oficial horas após o ocorrido e disse que irá avaliar a atitude do atleta egípcio. No entanto, a entidade destacou o fato de atletas árabes aceitarem enfrentar israelitas.

“Já é um grande avanço que os países árabes aceitem (lutar contra) Israel. Não há uma obrigação em apertar as mãos, mas a reverência é obrigatória. A atitude dele será revista após os Jogos Olímpicos para ver se alguma outra atitude deverá ser tomada”, declarou o porta-voz da entidade, Nicolas Messner, em entrevista à AP.

Nesta semana, o Comitê Olímpico Egípcio já havia dado uma declaração oficial sobre o tema, prevendo que alguma situação semelhante pudesse ocorrer. De acordo com a entidade que controla o esporte no país, os atletas poderiam decidir se apertariam ou não a mão dos adversários.

“A delegação não permite que se misture política com esporte”, declarou o presidente do Comitê, Hisham Hatab.

Este pode não ter sido o único incidente do tipo ocorrido com israelenses no judô da Rio-2016. No segundo dia de lutas, na categoria meio-leve feminino, a israelense Gili Cohen e a saudita Joud Fahmy estavam na mesma chave e podiam se encontrar nas oitavas de final. Fahmy, porém, não lutou em sua estreia, contra Christianne Legentil, da Mauritânia. A delegação da Arábia Saudita disse que a atleta estava afastada, mas o jornal Times de Israel publicou que o W.O. foi causado para que a atleta não enfrentasse uma israelense.

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