Pelo filho, pai de Gabigol já viu treino de árvore e tabelou com latinha

Dassler Marques
Do UOL, no Rio de Janeiro
Arquivo Pessoal
A serviço da seleção, Gabigol ao lado do pai Valdemir, a mãe Lindalva e a irmã Dhiovanna

Entre os jogadores da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos, dificilmente há um pai mais presente que Valdemir Barbosa. Responsável por vestir a camisa do Santos em Gabriel quando ele ainda era uma criança, Valdenir é do tipo que dedica a vida - pessoal e profissional - para tentar contribuir no sucesso do filho.

Bem antes de participar das decisões sobre o futuro de Gabigol com o empresário Wagner Ribeiro, ele também dividia momentos difíceis, quando a volta dos treinamentos para casa, muitas vezes, era a pé. Já subiu em muro e árvore para assistir a treinamentos do atacante que, já aos 15 anos, era considerado uma das principais apostas do Santos para um futuro próximo.

Elogiado no passado por Muricy Ramalho, primeiro treinador de Gabriel nos profissionais santistas, pela educação do filho, Valdenir passa um domingo especial de Dia dos Pais, mesmo distante do filho. Agora aos 19 anos, o atacante está a duas vitórias de conquistar a medalha de ouro olímpica. O primeiro desses jogos será na quarta-feira, contra Honduras, no Maracanã.

Leia o que Valdenir diz sobre o filho Gabigol:

PAIS GRUDADOS AO FILHO
"Somos assim desde o começo. Desde quando ele começou a jogar com 5 anos, 6 anos, vimos que ele tinha um pouco de talento para o futebol e começamos a trabalhar isso. Ele e a mãe dele sempre apoiamos. A gente é presente, gosta de ir aos treinos, aos jogos. O Gabriel sempre quis a gente presente, sempre perto dele. Sempre quis os pais estando presentes. Na Olimpíada, ele exigiu que eu, a mãe e a irmã estivéssemos presentes. Fomos aos dois jogos em Brasília, em Salvador e preparamos uma caravana para apoiar em São Paulo". 

ALGUMAS LOUCURAS PELO FILHO
"Na base, não deixavam os pais olharem o treino às vezes, então era complicado. Eu via ele de cima do muro, de cima de árvore, mas ele sabia que eu estava presente. Em algum lugar, eu estava olhando por ele. Se via alguma coisa que ele não fazia certo, eu chegava em casa e corrigia, trabalhava esse lado". 

OS MELHORES CONSELHOS
"Sempre falamos para o Gabriel confiar nele, no potencial que ele tem e sempre seguir em linha reta, que os pais iam protegê-lo. Dentro de campo, quando ele vê que está errando, tem que conversar com o professor. Se falta algo, tem que falar com o preparador, pedir uma orientação a quem conhece mais. Em campo, sempre dissemos para um ser amigo do outro".

PERSONALIDADE DO FILHO NA OLIMPÍADA
"Desde criança ele tem muita personalidade, gosta de chamar para si a responsabilidade. Eu falei para ele ter calma na Olimpíada, porque a gente via que a seleção não jogou tão mal. A bola não queria entrar. Foi isso que aconteceu. Quando ele tinha um tempo vago, a gente conversava e eu dizia 'tenha calma, tenha paciência e não liga para a pressão. Se concentra no que você pode fazer e no que você sabe que é capaz'. Passamos esse tipo de força, para ele não ligar para a pressão de imprensa e torcida e se concentrar no trabalho"

TEMPOS DIFÍCEIS
"A confiança que ele tem em mim é muito grande por conta do que passamos até chegar aqui. Nós morávamos na periferia de São Bernardo, no Montanhão (bairro). Ele pegava três ônibus para treinar e às vezes eu não tinha dinheiro para pagar condução. A gente pegava uma latinha no chão e ia tabelando na rua até em casa, era uma diversão. A gente tentava levar na boa para ele não ficar muito cansado, não sentir isso".

OS TREINADORES MAIS IMPORTANTES
"Ele tem três técnicos essenciais: o primeiro foi o Muricy (Ramalho) que chamou, colocou para conversar, para explicar como ele ia ser um jogador. Devo muito a ele, porque subiu o Gabriel com 16 anos. São poucos que sobem um garoto nessa idade e ele deu toda a retaguarda. O Oswaldo (Oliveira) foi outro paizão, porque chegou, confiou nele e apostou, deu tudo. E agora o Dorival, que sem palavras...é um segundo pai para o Gabriel. É um conselheiro, e o Gabriel tem aprendido muito com ele". 

O BANCO DE RESERVAS FEZ BEM PARA O FILHO 
"Com certeza! Tudo é necessário para se tornar um grande campeão, um vitorioso. Sentar no banco, puxar a orelha... tem que sentar sim e isso foi essencial para ele. Acho que ter os pais do lado do filho, aconselhando, e principalmente sendo obediente, levou ele a esse patamar".

COMO RESUMIRIA O FILHO
"O Gabriel é um garoto muito batalhador e que sabe o que quer. Ele conseguiu tudo o que almejava, quem sabe possa ser campeão olímpico. Sempre demos conselhos na dificuldade. No sub-11, no sub-13, no sub-15...às vezes na derrota pinta uma tristeza, você acha que não vai conseguir chegar. Eu e a mãe dele sempre conversamos para acalmar nas derrotas, para ele erguer a cabeça. Ele sempre foi essa pessoa. Não é de se entregar, de se abater".