Capivaras, jacarés e corujas assustam e encantam gringos no campo de golfe

O finlandês Mikko Ilonen pode até sair do Brasil sem uma medalha, mas já viveu um daqueles momentos únicos da vida: avistou uma capivara passeando pelo campo olímpico de golfe, na zona oeste do Rio.
“Nos treinos eu vi”, ele contou no sábado de manhã (13), logo depois de completar o 18º buraco do circuito. “Aquele porquinho pequeno, como chama?”
“Capivara”, eu ensino. Capivara, o maior roedor do planeta, natural da América do Sul, é um bicho que praticamente só os brasileiros conhecem.
“Isso! Aí fui lá e tirei uma foto. Eu já tinha ouvido que haveria animais assim, mas quando eu vi de fato, fiquei UAU!”, disse ele, arregalando os olhos e mexendo as mãos. “Mas eu acho que assustei ela e ela fugiu.”
A construção de um novo campo para o torneio de golfe da Olimpíada esteve cercada de uma espiral de polêmicas, a principal delas é que ele está dentro de uma área de proteção ambiental.
Por todo o caminho, placas avisam que o local está cheio de capivaras, jacarés e corujas. “Eu vi um jacaré e um furão, eu acho, e um desses ratos gigantes [capivaras] que eu nunca tinha visto antes”, disse o britânico Danny Willet. ”Mas felizmente eles não se aproximam de você, e você não vai querer chegar muito perto deles também. Eu ficaria com medo se eles se aproximassem.”
“Hoje vínhamos no buraco 4”, contou o chileno Felipe Aguilar, “e vindo pela a esquerda vimos uma coisa que me parecia um hipopótamo pequeno. Perguntamos a um local e ele disse: ‘Não, é... ALGO’.
Algo? Capivara?
“Sim, capivara. Um rato gigante! Um rato gigante, e então foi correndo para direita. Minha mulher se assustou e correu pro outro lado [risos]. Primeira vez que eu vi algo assim, mas me disseram que elas são muito tranquilas.”
“Já vi um monte de capivaras, jacarés, corujas”, disse o americano Rickie Fowler, um dos golfistas mais badalados a vir pras Olimpíadas. “Cobras não, mas já ouvi falar que tem.”
Vida selvagem é tema central na primeira Olimpíada no Brasil
Desde o sacrifício da onça-pintada Juma, em Manaus, após a passagem da tocha olímpica, a vida selvagem tem sido um personagem importante na história dos primeiros Jogos brasileiros. Depois do episódio, a organização chegou a se desculpar e vetar a exploração de outros animais durante eventos olímpicos.
Na lagoa Rodrigo de Freitas, onde se compete o torneio de remo, um casal de quero-queros ganhou uma cerquinha para proteger seus ovos e uma credencial do COI.
“Olha que linda”, disse uma torcedora britânica ao avistar uma coruja perto do buraco 17 do campo de golfe. A coruja, pousada no chão, olhava para os lados e ensaiava um voo baixo, enquanto uns dez estrangeiros se amontoavam a uns cinco metros de distância. “Ela não sabe direito o que fazer. Tomara que os fotógrafos estejam atentos.”
“Estatística do dia”, escreveu no Twitter o austríaco Bernd Wiesberger, lembrando que vários golfistas importantes desistiram de vir ao Brasil com medo do zika. “Capivaras: 2. Jacarés: 1. Corujas: 3. Mosquitos: 0.”
Mas há pelo menos um visitante que parece não ter se impressionado com a vida selvagem carioca. O sul-africano Gary Player, considerado por muitos um dos três maiores golfistas de todos os tempos, não se mostrou atraído pelo assunto quando eu o levantei no último sábado.
“Você já viu algum bicho por aí?”, perguntei enquanto ele distribuía autógrafos a crianças.
“Bicho?”
“Sim”
“Meu amigo, eu sou da África. Bicho é o que nós temos lá. Se você não se cuidar eles te comem.”