! 98% de aprovação ou "maquiagem"? O enigma da Saúde na cidade olímpica - 13/08/2016 - UOL Olimpíadas

Infraestrutura

98% de aprovação ou "maquiagem"? O enigma da Saúde na cidade olímpica

Daniel Lisboa e Marcela Sevilla

Do UOL, no Rio de Janeiro

O que será do sistema público de saúde do Rio de Janeiro ao fim destas Olimpíadas? Os jogos deixarão um legado? A Prefeitura do Rio divulga altíssimos números de aprovação do atendimento médico e de melhorias em sua cobertura.

O secretário de Saúde da cidade, Daniel Soranz, diz que a reestruturação da rede municipal será o maior dos legados.

Mas há denúncias de privilégios na assistência para "olímpicos", e depoimentos dados ao UOL Esporte por pacientes em dois hospitais ainda deixam dúvidas sobre a real situação da saúde na cidade olímpica. 

Prefeitura: satisfação quase total

Divulgada logo na primeira semana dos jogos, uma pesquisa de satisfação, pela pela própria secretaria de saúde, no atendimento médico feita com visitantes no Rio indicou que, entre os dias 3 a 7 de agosto, 96,3% deles julgaram que foram atendidos de forma boa ou ótima.

Outros números da mesma pesquisa também são bem expressivos. Questionada se os dados não seriam exagerados ou refletiriam apenas o atendimento aos "olímpicos", a prefeitura rebateu afirmando que também possui excelentes números entre a população local: de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, pesquisa realizada de 1º a 10 de agosto mostrou que 98,5% da população também consideram o atendimento médico público bom ou ótimo. 

Vídeo polêmico

Há, entretanto, um outro lado que ainda torna nebulosas as expectativas sobre a saúde no Rio. Um vídeo gravado no Hospital Souza Aguiar, no Centro, pelo fotógrafo carioca Rodolfo Viana, flagra o momento em que maqueiros tentam fazer uma senhora trocar de cadeira de rodas. Rodolfo estava no hospital para tratar um tornozelo torcido. 

De acordo com o relato de Viana, a senhora de 93 anos chama-se Conceição Cândida, mora no Catumbi e, na verdade, foi forçada pelos funcionários a mudar porque a cadeira em que ela estava, "especial", era reservada apenas para visitantes das Olimpíadas.

O fotógrafo diz que o maqueiro, constrangido, admitiu que cumpria ordem dos diretores do hospital. A qualidade do vídeo é baixa e é difícil compreender o que de fato é dito, mas ele reitera sua versão. "Não só eu reafirmo, mas outras duas testemunhas que estavam presentes", disse Viana. "Ele (o maqueiro) afirmou a plenos pulmões que estava seguindo uma ordem. O que torna a situação mais absurda, porque o mais frágil faz o trabalho sujo", completa.

O Souza Aguiar, considerado um exemplo de bom funcionamento pela Prefeitura do Rio, é um dos hospitais oficialmente aptos a receber quem está na cidade acompanhando os Jogos. É parte de uma rede que inclui outros quatro hospitais, três unidades da Coordenação de Emergência Regional e uma Unidade de Pronto Atendimento.

Na porta dos hospitais, reclamações

Em busca de respostas que fossem além dos números, a reportagem do UOL Esporte visitou três hospitais: o Souza Aguiar, o Salgado Filho (no Méier, Zona Norte) e o Rocha Faria (em Campo Grande, Zona Oeste). Também entrevistou o Secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz.

Os depoimentos dados pelos pacientes não têm valor científico e não servem de base para contestar as pesquisas. Porém, com exceção do Salgado Filho, que recebeu alguns elogios, nos dois outros hospitais os entrevistados fizeram diversas reclamações em relação ao atendimento.

Fala o secretário

As queixas foram mostradas a Soranz. Ele concordou que ainda há o que avançar, mas salientou que, no caso do Rocha Faria, o hospital melhorou muito desde sua municipalização em janeiro deste ano.

Disse também que as imagens feitas por uma paciente no interior do hospital revelam apenas um momento de lotação de um horário de pico, e mostrou à reportagem fotos feitas no local apenas um dia após a visita. Nelas, o interior do Rocha Faria está quase vazio. 

Questionado sobre o caso da maca no Souza Aguiar, ele afirmou que o episódio já foi investigado e que a acusação não procede, apesar do vídeo e da presença das testemunhas. "É uma resposta típica de assessoria de imprensa. De algum lugar veio a ordem (para mudar a senhora de cadeira). Tem que investigar de onde", diz Rodolfo.

O secretário foi além e afirmou que a melhora do sistema de saúde pública, com a estruturação da atenção primária na cidade, "será talvez o maior legado das Olimpíadas".

Essa evolução seria atestada por diversos dados oficiais da prefeitura. A Secretaria Municipal de Saúde informa que 128 novas unidades foram inauguradas desde 2009, e que a rede municipal conta hoje com o maior número de leitos hospitalares do país. Afirma também que hoje 55% dos cariocas têm cobertura de saúde integral e a meta oficial é ampliar o número para 70% até o final deste ano olímpico. 

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