Tenista "Pica Power" recusou os EUA e faz história por Porto Rico

Fábio Aleixo e José Ricardo Leite
Do UOL, no Rio de Janeiro
Kevin Lamarque/Reuters
Monica Puig fica emocionada após derrotar Petra Kvitova na Rio-2016

Ser fiel às raízes e até recusar convites para defender os Estados Unidos, a maior potência do planeta. Este é um dos lemas adotados por Monica Puig, tenista portorriquenha que está na final da Olimpíada do Rio de Janeiro e buscará neste sábado a primeira medalha de ouro da história da pequena ilha caribenha em todas as edições dos Jogos Olímpicos.

Ainda que não consiga, Puig - cujo apelido no circuito mundial é Pica Power -  já escreveu um capítulo importante na história esportiva do país. Ao vencer a tcheca Petra Kvitova por 2 sets a 1 (6/4, 1/6 e 6/3) garantiu ao menos a prata e se tornou a primeira mulher de Porto Rico obter uma medalha. Na decisão pelo ouro ela enfrentará a alemã Angelique Kerber, número 2 do mundo, que venceu a norte-americana Madison Keys nesta sexta.

"Quando estou com as cores de Porto Rico, tenho certeza que sou uma outra jogadora. Me motivo mais. Sempre será uma prioridade representar Porto Rico", disse Puig, que ocupa atualmente a 34ª posição do ranking mundial.

A tenista de 22 anos nasceu em San Juan, mas desde um ano de idade vive em Miami. Mudou-se tão cedo para os EUA pois seu pai, um engenheiro, foi transferido de seu trabalho em Porto Rico para uma filial na Flóirida. Foi lá que Monica começou a praticar o esporte quando tinha seis anos e ao longo do tempo recebeu propostas da USTA (federação americana da modalidade) para representar o país no circuito mundial. 

"Tive convites, mas sou muito fiel à onde nasci, de onde vim. Sou muito latina. Amo Porto Rico com todo coração e enquanto jogar tênis, vou seguir representando Porto Rico", afirmou após vencer a sua semifinal olímpica.

A opção de Monica é oposta a adotada por dois grandes tenistas que defenderam os EUA mas nasceram na ilha caribenha: Charlie Pasarell, que integra o Hall da Fama do Tênis, e Gigi Fernandez, que possui duas medalhas de ouro em Olimpíadas (1992 e 1996)  e foi número 1 do ranking mundial de duplas.

"Conheço os dois. São grandes campeões e já me ajudaram muito", disse quando questionada sobre ambos.

A tenista, entretanto, reconheceu que por viver há muito tempo nos Estados Unidos não sabe cantar bem o hino do país e não sabe se o conseguirá fazer no pódio caso ganhe o ouro. Mas garante: "Com certeza eu estarei chorando".

"Quero muito ganhar este ouro. Sei o que vim buscar aqui agora que cheguei na final", disse a jogadora que no ano passado no Pan-Americano de Toronto ficou com o bronze. Ela também disputa os Jogos Centro-Americanos, competição bem menor e que também não vale pontos no ranking mundial. Tudo pelo orgulho de ser portorriquenha.

Pica Power foi apelido dado por ex-técnico

O apelido surgiu por meio de seu treinador, o belga Alain de Vos, como forma de incentivar a jogadora em seus treinamentos, ainda quando jovem. A frase "picar (cortar) pedra" em Porto Rico tem sentido semelhante a "comer grama" no Brasil.
 
O técnico queria vê-la ser raçuda nos treinos e por isso começou a chama-la de Pica Power, que significa algo como a "super perfuradora". "Isso significa picar(furar, cortar) pedra, sempre ouvi isso de um treinador. Hoje é como uma marca", explicou.
 
"Picar pedra, basicamente, foi o meu treinador que fez isso. A gente me chama assim e fico encantada com isso. Também tive outros, como Mou, mas é esse que pegou mesmo e me chamam. Assim me gostam todos os ´boricuas".