Atletas assumidos são dobro de Londres e Rio-2016 é a mais gay da história
Gustavo FranceschiniDo UOL, no Rio de Janeiro
Há quatro anos, só uma atleta brasileira foi a Londres como homossexual assumida. Mayssa, goleira do handebol, falou abertamente do assunto e se assustou com a repercussão. Hoje, ela está menos sozinha. De Londres para cá, o número de atletas LGBT nos Jogos Olímpicos quase dobrou, fazendo da Rio-2016 a edição com mais gays na história.
A lista tem seis brasileiros: Larissa (vôlei de praia), Mayssa (handebol), Julia Vasconcelos (taekwondo), Isadora Cerullo (rúgbi), Ian Matos (saltos) e Rafaela Silva (judô). Entre os estrangeiros estão medalhistas olímpicos como Tom Daley, britânico dos saltos ornamentais, e Megan Rapinoe, americana do futebol feminino, entre vários outros nomes.
O levantamento foi feito pelo site Outsports, especializado na cobertura esportiva da comunidade LGBT. Em 2012, o veículo havia listado 23 esportistas assumidos, sendo só três deles homens. Desta vez, já são 49, 11 deles homens.
Na visão de Jim Buzinski, co-criador do site e um dos responsáveis pelo monitoramento, o aumento do número de atletas assumidos tem a ver com a visibilidade que o tema tem ganhado nos últimos anos. A lista pode ser ainda maior, já que o Outsports admite que é difícil fazer a cobertura de todos os mais de dez mil atletas da Rio-2016. O aumento, no entanto, tem valor simbólico.
“Visibilidade é vital e é o único jeito que as pessoas podem ver que os atletas LGBT pode ter sucesso em um nível tão alto. O Tom Daley, por exemplo, é um grande espelho para jovens gays em todo o mundo que pensam se vão ficar bem se assumirem”, disse Buzinski.
Historicamente, há uma evolução. Tony Scupham-Bilton é um historiador especialmente dedicado à cultura LGBT e mantém o blog “Queer Story Files”. No último mês, ele divulgou um levantamento apontando que só 257 atletas, na história centenária das Olimpíadas, se assumiram gays. O Rio, portanto, recebe sozinho quase 20% desse montante, um número recorde na comparação com qualquer outra edição.
O aumento dificilmente pode ser creditado ao país-sede. Embora tenha uma legislação avançada em termos de direitos LGBT, o Brasil não é considerado um dos lugares mais seguros para homossexuais. Primeira e mais importante ONG da área no país, o Grupo Gay da Bahia dá conta de que um membro da comunidade LGBT é agredido no país a cada 28 horas e que há um aumento da homofobia nos últimos anos.
“Sempre há uma reação quando minorias vão atrás de seus direitos. Mais visibilidade pode trazer mais ataques já que as pessoas preferem reagir à moda antiga, mas com a visibilidade vem a força. Rafaela Silva ganhou o primeiro ouro do Brasil e tem uma namorada. Esse é um posicionamento muito forte”, disse Buzinski.