Olimpíadas 2016

Símbolo nazista aparece em arena olímpica, e Rio-2016 abafa denúncia

Robert F. Bukaty/AFP
Caso aconteceu em estrutura de apoio a trabalhadores do ciclismo de estrada imagem: Robert F. Bukaty/AFP

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Uma suástica, símbolo associado ao nazismo, virou motivo de discórdia dentro do Comitê Organizador da Rio-2016. A imagem surgiu numa sala reservada ao descanso de colaboradores que atuam na arena olímpica de ciclismo de estrada contrarrelógio, no Pontal, zona oeste. Incomodou, principalmente, trabalhadores judeus da instalação. Um deles se organizou para denunciar a apologia ao preconceito. Foi desencorajado por uma gerente do próprio Comitê Rio-2016*.

A imagem da suástica foi desenhada num mural instalado numa área a qual só voluntários e trabalhadores olímpicos tem acesso. Nesse mural, geralmente são escritas mensagens de incentivo àqueles que se esforçam pela realização dos Jogos.

Acontece que, na quarta-feira (10), uma das chefes da arena de ciclismo do Pontal notou que ali havia uma suástica. Essa gestora é judia. O desenho a incomodou. Ela tirou uma fotografia do símbolo nazista e compartilhou com quatro colegas de trabalho, todos judeus, que se sentiram inseguros pelo desenho.

Um dos cinco, então, resolveu buscar ajuda da Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro). O colaborador entrou em contato com o órgão por meio de uma central de denúncias que funciona por um aplicativo de celular. Chegou a enviar uma primeira mensagem em busca de providências da Fierj.

Ao saber da denúncia, contudo, uma gerente do Comitê Rio-2016 procurou os colaboradores. Reuniu-se com eles. Solicitou que eles não enviassem a imagem da suástica à Fierj. Sugeriu que a questão fosse tratada "internamente".

Israelitas estranham silêncio

O gerente de segurança da Fierj, Átila Cordova, conversou com o UOL Esporte na quarta (10). Afirmou que ele mesmo recebeu uma mensagem denunciando o aparecimento da suástica numa arena olímpica. Átila pediu mais informações sobre o caso. O denunciante silenciou.

“Eu respondi a mensagem pedindo mais informações, mas quem a mandou não escreveu mais nada. Levei o caso a direção, mas não conseguimos avançar”, disse Átila, sem saber que o denunciante havia sido orientado por um superior a não dar seguimento à denúncia.

No Brasil, existe uma lei federal específica contra o preconceito de raça e cor (Lei 7.716, de 1989). O artigo 20 dessa lei, parágrafo primeiro, prevê que é crime passível de até cinco de prisão “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos (…) que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”.

O Comitê Rio-2016 foi procurado para informar que medidas tomou sobre o desenho da suástica e sobre a orientação contra a denúncia do crime. Ainda não respondeu.

Não há qualquer informação quanto a identificação dos responsáveis pela apologia ao nazismo nem de punição aos autores. A gerente da arena que orientou funcionários a não denunciar o crime trabalhou normalmente na quarta-feira. O UOL Esporte conversou com ela por telefone. Ela não quis falar sobre o caso.

*Os nomes dos envolvidos foram preservados

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