Natação

Nadadora de Maldivas na Rio-2016 treina no mar e ganha R$ 626 mensais

PEDRO UGARTE/AFP
Aminath Shajan foi a porta-bandeira de Maldivas na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos-2016 imagem: PEDRO UGARTE/AFP

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não foi uma chance de ganhar uma medalha de ouro que levou Aminath Shajan, 22, a participar da Rio-2016. Tampouco a possibilidade de ser competitiva: a nadadora de Maldivas disputou apenas uma prova, os 100 m livre, e cumpriu o percurso em 1min05s71 (mais de um segundo atrás da penúltima colocada, a refugiada síria Yusra Mardini, que fez 1min04s66, e a quase 13 segundos da australiana Cate Campbell, líder das baterias eliminatórias). Para alguém que precisa treinar no mar e recebe apenas US$ 200 (R$ 626) mensais, estar nos Jogos Olímpicos já foi vitória suficiente.

“Estou curtindo muito tudo o que estou vivendo aqui. Em Maldivas, a natação não é tão popular. A gente não consegue fazer isso de forma profissional. A gente faz como um hobby, e o governo nos paga algo como US$ 200 por mês”, contou Shajan, que conta com a ajuda dos pais para se sustentar. Apenas para efeito de comparação, o salário mínimo no Brasil é R$ 880.

A delegação de Maldivas nos Jogos Olímpicos tem apenas quatro atletas (dois na natação e dois no atletismo). Shajan está na Rio-2016 por ter sido convidada, mas isso teve um preço alto: como havia apenas uma vaga para mulheres do país, isso custou a participação da irmã dela, Aishath Sajina, nadadora cujo estilo mais forte é o nado peito.

“Ela ficou me vendo pela TV. Meus pais não vieram porque é muito longe. Eu acabei vindo sozinha para cá”, contou Shajan.

Sem piscina, restou treinar no mar

A dificuldade da atleta, contudo, não se limita à questão financeira ou à disputa com a irmã por uma vaga nos Jogos. Shajan começou a nadar aos 11 anos e precisou lidar com a falta de estrutura do país. Por ser um destino turístico muito procurado, Maldivas tem piscinas apenas em resorts. A atleta, por causa disso, foi obrigada a treinar no mar.

“Não é fácil entrar nos resorts e não é fácil fazer o deslocamento até lá. Então a gente acaba treinando no mar, mesmo”, relatou Shajan. A atleta nada seis vezes por semana, uma hora e meia por dia, e só pode fazer isso no período noturno. “Antes disso há muito lixo na água. Precisamos esperar que a maré leve um pouco”, explicou.

Shajan disputa os Jogos Olímpicos pela segunda vez. Neste ano, a expectativa dela é que o desempenho no Brasil contribua para algo peculiar: torná-la famosa no país natal.

“As pessoas estão vendo as Olimpíadas nas Maldivas. Algumas pessoas não são muito familiarizadas a todos os esportes, mas acho que eles vão me reconhecer quando voltar”, encerrou a atleta.

Topo