Olimpíadas 2016

Inédito: elas são as primeiras casadas no papel a jogar juntas em Jogos

Mark Kolbe/Getty Images
Kate Richardson-Walsh (esq.), número 11, comemora gol de sua mulher, a camisa 8 Helen imagem: Mark Kolbe/Getty Images

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

A blusinha usada pelas jogadoras no hóquei feminino é curta, e ler o nome na parte de trás para identificar uma atleta requer boa visão e muito exercício. Duas camisas, em especial, são quase impossíveis de se ler, mesmo de muito perto, escrito em letras miúdas: “Richardson-Walsh”. Sim, esse sobrenome é utilizado por duas mulheres diferentes na seleção do Reino Unido.

Kate Richardson-Walsh, a número 11, e Helen Richardson-Walsh, camisa 8, são donas de um feito inédito na história dos Jogos Olímpicos: o primeiro par casado no papel a competir junto em um mesmo time. A primeira, capitã e principal líder do time, tem 36 anos e pode fazer no Rio sua despedida olímpica e a tempo de que as duas conseguissem o inédito feito, justamente em uma época de debates sobre casamento gay.

A dupla já esteve junta antes em três edições de Jogos Olímpicos, inclusive em casa, em Londres, em 2012, mas não eram casadas naquele momento. Somente um ano depois a rainha da Inglaterra sancionou a lei que aprovou oficialmente o casamento gay, em um projeto impulsionado pelo primeiro-ministro David Cameron, que sofreu forte pressão política e popular pelo fato acontecer em uma terra de raízes mais conservadoras.

Reprodução/Instagram
Kate Richardson-Walsh e Helen Richardson-Walsh, do hóquei na grama imagem: Reprodução/Instagram

Na primeira Olimpíada que competiram juntas, em Sydney, ainda não eram namoradas. Na época, Kate ainda tinha relacionamento com o então capitão do time masculino de hóquei do Reino Unido Brett Garrard.  Depois que se separaram, assumiu ser gay e começou a relação com a companheira de time.

Kate e Helen têm relacionamento e vivem juntas desde 2008. Em setembro de 2013, três meses depois da aprovação final do casamento gay, deram início aos trâmites para se juntarem também no papel. “Nossas famílias e amigos foram muito compreensivos, favoráveis e gentis”, disse Kate, na época, ao site Getreading.com. Ela disse que espera que tenham muitos outros casais gays disputando os Jogos Olímpicos no futuro.

Além dos números 11 e 8, o que distingue as duas camisas é uma fita rosa na de Kate que simboliza a capitã do time. É ela a que mais grita no time, não só quando está em quadra, mas também nos momentos que fica fora. Em certos momentos até ofusca o treinador diante de sua liderança. Ela já declarou que é um pouco difícil ter que dar as ordens no time para sua própria mulher. Mas Helen diz não ligar e vê como privilégio a chance de poder competir ao lado de sua parceira.

“Pra mim é uma questão natural. Quando estou lá dentro entendo o papel de cada uma e respeito completamente a sua liderança. Ali tenho que me preocupar com meu jogo e ela com o dela e esse papel no time. É cada uma com suas funções fazendo o melhor pra que o time vença”, explicou Helen, ao UOL Esporte.

E até agora vem dando certo nos Jogos do Rio. O time britânico venceu os três primeiros jogos que disputou, diante de Austrália, Índia e Argentina. O duelo contra as argentinas aconteceu nesta quarta-feira. Os dois times têm forte rivalidade, e Helen marcou um dos gols da vitória e primeiro abraçou todas as jogadoras em uma roda, só para depois ter o cumprimento individual da capitã e companheira. E ela diz estar se divertindo no Brasil.

“Esse jogo em especial foi incrível. Os fãs argentinos são bem diferentes e lotaram a arquibancada. A atmosfera é muito legal aqui na arena, estamos aproveitando bastante”.

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