Haitiano que aprendeu a nadar vendo Phelps na web fica em último e festeja

Guilherme Costa
Do UOL, no Rio de Janeiro
José Ricardo Leite/UOL
Frantz Dorsainvil, nadador haitiano que disputou as eliminatórias dos 50 m e dos 100 m livre no Pan de Toronto

Não é recorrente um atleta terminar em último numa prova com 85 concorrentes e ainda assim estampar um sorriso no rosto. Nesta quinta-feira (11), contudo, tudo que Frantz Dorsainvil conseguia exprimir após ter sido lanterna dos 50 m livre na Rio-2016 era um misto de felicidade e realização. O haitiano de 25 anos aprendeu a nadar apenas aos 19, vendo vídeos do norte-americano Michael Phelps, 31, no Youtube. A única piscina de 25 metros de seu país foi destruída em 2010, num terremoto que abalou a região. Após lidar com todas essas dificuldades e conciliar o esporte com outras duas profissões, o resultado da Rio-2016 passou a ser apenas um detalhe para o nadador.

“Sobre o resultado, eu me sinto muito orgulhoso. Não há nenhum tipo de tristeza”, disse Dorsainvil. “É muito importante para o meu país. A natação não é muito popular por lá, e participar aqui da Rio-2016 tem um significado enorme para mim”, completou o haitiano.

O Haiti tem pouco mais de 10 milhões de habitantes e o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do continente americano, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Quase a metade da população do local vive em áreas rurais, e a expectativa de vida por lá é de até 60 anos. A maioria do dos haitianos vive abaixo da linha da miséria – pelo menos 60% do povo é subnutrido –, e o terremoto grandes proporções que assolou o país em 2010, além de ter matado mais de 120 mil pessoas, só aumentou ainda mais esse caos social.

Dorsainvil tinha 18 anos na época e era apenas estudante. Entre tantos dramas, o terremoto destruiu a única piscina de 25 metros do país. Mesmo assim, ele resolveu iniciar em 2011 uma trajetória na natação. Começou a praticar o esporte vendo vídeos no Youtube do astro Michael Phelps, maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos.

“Comecei a treinar em uma piscina de 18 metros, e essa foi minha base”, contou o atleta. Dorsainvil conseguiu um lugar no Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia), em 2015, e teve apenas três meses para se preparar antes da Rio-2016.

A escassa preparação do haitiano ainda foi entremeada por duas outras profissões. Como a natação no Haiti não é profissional, Dorsainvil tem de atuar como fotógrafo e trabalha num estúdio de decoração para espetáculos teatrais.

Por tudo isso, o haitiano não lamentou o desempenho na Rio-2016. Dorsainvil nadou os 50 m livre em 30s86 e teve o 85º - e último – tempo das baterias eliminatórias. Para ele, porém, a única frustração provocada pelos Jogos Olímpicos foi relacionada ao início no esporte: “Meu sonho era encontrar Michael Phelps, mas não consegui”.