Refugiada que nadou para salvar vidas se despede da Rio-16: "Fiquei famosa"

Guilherme Costa
Do UOL, no Rio de Janeiro
Martin Bureau / AFP
Yusra Mardini, do time dos Atletas Olímpicos Refugiados, deu um exemplo neste sábado

A concentração de jornalistas em volta foi similar ao enxame que cercou Michael Phelps, 31, quando o maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos saiu da piscina. Na frente dos microfones, contudo, não estava sequer uma atleta vitoriosa. Yusra Mardini, 18, havia acabado de nadar os 100 m livre e de terminar a eliminatória da prova apenas na 45ª – e penúltima – posição. Ainda assim, foi tratada como estrela em sua última participação na Rio-2016. Representante do time de refugiados, a atleta nascida na Síria precisou nadar três horas e meia para sobreviver e salvar vidas numa travessia entre Turquia e Grécia.

“Não esperava toda essa atenção nas Olimpíadas. Não sei o que pode acontecer depois, mas tudo que eu sei é que quero continuar nadando e ajudando os refugiados. Esse time é incrível. São todas as cores, todos os países, todas as nações”, disse Yusra, cuja família ainda está na Síria. “Todo mundo me deu parabéns e me disse que fiquei famosa”, completou.

A refugiada é filha de um técnico de natação e sobreviveu a uma guerra civil que já matou mais de 400 mil pessoas na Síria. Fugiu com a família, passou por uma série de locais e vive na Alemanha desde setembro do ano passado. Numa dessas tentativas de buscar uma vida melhor, num trajeto da Turquia até a Grécia, o barco em que Yusra e a família estavam encalhou. Ela e a irmã tiveram de nadar por três horas e meia para evitar que pessoas morressem – muitos não sabiam nadar.

Yusra representa no Rio de Janeiro uma equipe que também tem atletas oriundos de países como Congo, Etiópia e Sudão do Sul.

“Bem, agora [que minha participação acabou] eu sei que tenho de dar muitas entrevistas coletivas. Depois, ainda não sei o que vai acontecer na minha vida”, relatou a nadadora. Além dos 100 m livre, Yusra, disputou na Rio-2016 os 100 m borboleta.

“A torcida foi incrível. Eles estão nos ajudando muito e torcendo muito pelo time de refugiados. Eles estão tomando conta de nós, e todo mundo tem uma recepção calorosa conosco. Isso tem sido incrível”, contou a atleta.