! Casa LGBT inicia atividades com gaymada e sem apoio oficial - 10/08/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Casa LGBT inicia atividades com gaymada e sem apoio oficial

Daniel Lisboa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Desde o início das Olimpíadas, o público LGBT e seus simpatizantes tem uma casa oficial para recebê-los no Rio de Janeiro. É a Pride House Rio, iniciativa já promovida em diversos locais ao redor do mundo e que, por conta dos jogos, agora aportou na cidade.

Até o dia 20 de agosto, a Pride House Rio oferece uma extensa agenda de atividades esportivas, lúdicas, palestras, talk-shows, feiras de artesanato e intervenções culturais. Apesar da sua importância nestes tempos de luta pelos direitos LGBT, a casa não conseguiu nenhuma ajuda oficial para sua organização.

"Tivemos vários contatos com o comitê organizador dos jogos. Eles tentaram incluir de alguma forma a Pride House dentro da programação oficial, mas as negociações não avançaram principalmente pelo fato de não terem recursos financeiros para ajudar", diz Érico dos Santos, CEO da Pride House Rio e presidente do Comitê Desportivo LGBT Brasil. 

A Pride House Rio só se tornou viável com a união e apoio de mais de dez entidades culturais e de promoção da diversidade, e está sediada na Casa Nem, polo de atividades culturais gerida por travestis e transexuais na Lapa. 

"Apesar de uma negociação que começou em outubro do ano passado, nem a prefeitura nem o Comitê Rio 2016 contribuíram com a iniciativa. Tanto que as atividades lúdicas e esportivas só estão ocorrendo no Aterro do Flamengo por falta de um local mais adequado cedido pela prefeitura", explica Wembson Fernandes, diretor de esportes da Pride House Rio.

Por meio de sua assessoria, a Prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que não conseguiu oferecer nenhum tipo de suporte ao Pride House Rio porque os responsáveis pela iniciativa só entraram em contato no dia 1º de julho deste ano e não houve tempo hábil para a parceria. O argumento, entretanto, é refutado com veemência por Érico. "Eu e 13 instituições temos como provar que estamos em contato desde o ano passado. Isso não é verdade", diz.

Questionado a respeito do assunto, o Comitê Rio 2016 não emitiu nenhuma resposta oficial até o fechamento desta reportagem.

Entre as atividades lúdicas citadas por Wembson está a gaymada, disputada pela primeira vez no último domingo (07) no Aterro do Flamengo. A gaymada é, na prática, nada além da tradicional queimada revestida pela temática da inclusão. Deverá acontecer todos os domingos de agosto no espaço atrás do MAM (Museu de Arte Moderna).

A primeira gaymada deste período olímpico teve um público pequeno, mas a organização espera que, com a divulgação do evento, mais gente apareça nas próximas edições. Além da gaymada, a Pride House Rio organiza, aos sábados, partidas de futebol, vôlei e handebol, entre outras modalidades, nas quadras do Aterro do Flamengo.

Tanto as partidas quanto as atividades lúdicas não são abertas apenas ao público LGBT. A intenção é que algo singelo e divertido como uma gaymada ajude a combater o preconceito.

"O cara chega aqui e vê que a gente só está se divertindo, que ninguém vai assediá-lo", diz Wembson, que organiza atividades do tipo também pelo movimento Diversidade do Vale. "Já organizamos gaymadas aqui com 200 pessoas. Até criança participa. Os pais veem e percebem que ela não vai virar gay por jogar com nós, isso não tem absolutamente nada a ver".

Tanto Érico quanto Wembson elogiam a participação de Lea T na cerimônia de abertura das Olimpíadas. Wembson tem esperanças de que a visibilidade trazida pelas Olimpíadas, que hoje conta com 44 atletas assumidamente homossexuais, contribua com a causa de algum modo. Já Érico faz ressalvas.

"O Comitê Olímpico fez algumas coisas elogiáveis nesta preparação para as Olimpíadas. Mas, na minha visão, não reflete a situação no país. Sabemos que, depois dos jogos, a realidade será outra".   

Adriano Delgado/UOL Esporte
imagem: Adriano Delgado/UOL Esporte

Topo