Olimpíadas 2016

Terceirizados da Olimpíada trabalham 12h por dia e comem só fast food

UOL
Consumidores formaram filas para comprar comida e bebida no Parque Olímpico, e funcionários ficaram sobrecarregados imagem: UOL

Adriano Wilkson*

Do UOL, no Rio de Janeiro

Cerca de 3 mil funcionários terceirizados do Parque Olímpico da Barra e de Deodoro, no Rio, só recebem como alimentação durante o trabalho a comida que é servida nos estandes em que eles atuam.

“Uma garrafa de Coca-Cola e um lanche por dia, que pode ser uma baguete de frango ou um hambúrguer”, disse a atendente Sheila Vilela da Hora, 29 anos, depois de encerrar seu turno ao lado do Parque Aquático Maria Lenk.

A reportagem conversou com cerca de 15 funcionários de uma empresa terceirizada, a Dica do Chef, que tem parte das concessões de alimentação da Olimpíada. O assunto: as condições de trabalho oferecidas para atuarem no maior evento esportivo do mundo.

Com exceção de Sheila, nenhum quis se identificar, temendo retaliações. De maneira geral, nutricionistas, atendentes, coordenadores, caixas e estoquistas mostraram insatisfação. As reclamações variam do cardápio de fast food a turnos muito longos, maiores do que os acordados no momento da contratação.

No último sábado, primeiro dia de competições, faltou comida em pontos de outra concessionária, formaram-se filas enormes na frente dos guichês da Dica do Chef, clientes reclamaram, houve bate-boca e, depois, quando todos já tinham ido embora, muitos empregados tiveram que ficar no trabalho até o meio da madrugada, tentando resolver os problemas.

Alguns relataram turnos de até 12 horas. A reportagem viu uma conversa de Whatsapp na qual um chefe pede a suas funcionárias para ficar 11 horas e meia no trabalho.

A Dica do Chef admite ter dado apenas fast food a seus empregados, mas nega que eles estejam sobrecarregados. “Ninguém nunca tinha feito uma Olimpíada no Brasil, então a gente teve que acertar muita coisa. Tivemos problemas de logística por causa dos feriados na quinta e na sexta-feira”, disse Rodrigo Pedro, responsável pela segurança alimentar e porta-voz da Dica do Chef.

Minutos depois da reportagem e de fiscais do trabalho passarem pelos estandes da empresa, a Dica do Chef informou que seus funcionários receberiam tíquetes para se alimentar no restaurante do Parque, aberto também a outras pessoas trabalhando nos Jogos.

A seguir, listamos as principais reclamações dos terceirizados da Olimpíada.

Comida pouca e só fast food

Apesar de alguns terem dito que podem comer o tanto que quiserem, a maioria afirmou que só recebe um lanche por dia. A comida, dizem todos, é sempre a mesma: hambúrguer ou baguete e refrigerante. Eles também não têm um lugar apropriado para fazer refeições, já que não podem sentar nas mesmas mesas dos clientes. Por isso comem no chão ou em caixotes improvisados. A empresa admitiu o problema, mas disse que ele já tinha sido resolvido na tarde de segunda. No almoço desta terça-feira, muitos funcionários já receberam tíquetes para usar o restaurante.

Muito trabalho, zero hora extra

A reportagem teve acesso a uma conversa de Whatsapp em que um chefe pede a funcionárias para fazer um turno de 11 horas e meia, quando o horário acertado na carteira era de 8 horas diárias. Outros relatos dão conta de até 12 horas de trabalho. Segundo os empregados, não haverá hora-extra. A Dica do Chef nega que eles estejam trabalhando mais do que deviam.

Trabalho no sol, sem espaço para descanso

Não existem locais para descanso dos funcionários, que precisam passar o dia inteiro em pé. Como há poucos espaços de sombra no Parque Olímpico e como no fim de semana fez muito calor, muitos tiveram insolação e foram parar no ambulatório do Parque. A Dica do Chef diz que não lhe foi oferecido um espaço para acomodar seus funcionários.

Não podem levar celular ao trabalho

Empregados disseram que foram impedidos de levar celular ao local de trabalho, e alguns precisam entrar com o aparelho em locais constrangedores, como cueca e botas. A empresa nega a proibição, embora admita que haja uma orientação para que os celulares não sejam usados durante o expediente.

Não têm transporte dentro do Parque

Embora a organização da Rio-2016 tenha contratado ônibus para que a imprensa e os voluntários se locomovam dentro do Parque, os veículos não estão abertos aos terceirizados, que precisam caminhar bastante para chegar e deixar seus postos. Isso aumenta em até uma hora o tempo que o empregado fica no local. A empresa diz que a Rio-2016 oferece os ônibus apenas para "jornalistas e para a família olímpica".

O que diz a organização dos Jogos

Procurada pela reportagem, a Rio-2016 disse que está tentando convencer as empresas terceirizadas a compensar seus funcionários pelas longas jornadas.

"Os trabalhadores que estão se sacrificando estão tendo algumas vantagens", disse o diretor de comunicações Mario Andrada. "Estamos falando com as empresas e incentivando o bônus. Todo mundo está trabalhando longas horas por conta dos Jogos. Nós do Comitê Organizador, vocês da imprensa, e as empresas também. O importante é que não haja o exagero."

*Colaborou Vinicius Konchinski, do Rio

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