Ex-parceiro do COI, dono de time inglês está no centro da máfia do ingresso
O dono do clube de futebol inglês Ipswich Town, Marcus Evans, investigado em 2014 pela venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo, está mais uma vez na mira da Polícia Civil do Rio. O grupo de empresas que leva o nome do milionário, o Marcus Evans Group, controla a subsidiária THG Sports, alvo de uma operação realizada nesta sexta-feira (5) para desarticular uma quadrilha internacional de cambistas.
A ação resultou na prisão de um dos diretores da THG, o irlandês Kevin James Mallon, e na apreensão de 813 entradas de alto valor para eventos olímpicos, tais como as cerimônias de abertura e encerramento, além das fases finais das principais competições --juntos, os ingressos custariam R$ 626 mil. Os bilhetes foram localizados dentro do cofre do quarto de hotel em que Mallon estava hospedado, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Além de Mallon, prenderam Bárbara Zancopé Carnieri, natural de Rio Claro (SP), que trabalhava para o irlandês como tradutora há cerca de três meses. Ela foi autuada pelo crime de marketing de emboscada, mas liberada em seguida. O auto de prisão que consta na Central de Custódia da Justiça do Rio tem ainda os nomes de Evans e de John Dees. Dees também é da cúpula da THG Sports.
Evans já foi parceiro do COI (Comitê Olímpico Internacional). Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, a THG atuou como revendedora autorizada de ingressos. Dois anos depois, a empresa fez parte do escândalo de cambismo da Copa do Mundo do Brasil, e o seu então CEO, James Sinton, foi detido pela Polícia Civil. Sinton foi liberado após pagar fiança e acabou saindo do país.
Por meio da THG, de acordo com a polícia, Evans revende ingressos desde 2007. Atuou em grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de Rúgbi, em 2011, e os Jogos de Inverno de Sochi, em 2014. Entre seus clientes estão pessoas físicas e jurídicas, tanto no Brasil quanto fora do país. Segundo o delegado Aloysio Falcão, Evans é um empresário "multimilionário".
Sua empresa, porém, não obteve licença para revender entradas da Rio-2016. Montou, então, um sofisticado esquema de venda ilícita que geraria lucros de até R$ 10 milhões. Em circunstâncias ainda não esclarecidas pelo Nage (Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos da Polícia Civil), responsável pela operação, a firma estrangeira recebia ingressos de parceiros autorizados, como a norte-americana Cartan Global.
As entradas eram então revendidas junto com pacotes de hospitalidade a preços exorbitantes: de R$ 1.400, preço original, por até 8.000 dólares, isto é, mais de R$ 24 mil. Uma das vítimas teve prejuízo de R$ 80 mil ao comprar dez pacotes para toda a família e não entrar no eventos olímpico já que seus bilhetes foram apreendidos.
Segundo a polícia, os criminosos faziam uso de "artifícios para ludibriar as vítimas" visando a passar uma falsa imagem de credibilidade. Além de utilizar a logomarca dos Jogos Olímpicos de Londres em seu site oficial, a THG prometia um evento de recepção no Copacabana Palace, hotel de luxo do Rio, e outros benefícios.
Quando chegaram no Brasil, em vez do coquetel de gala, os clientes foram recebidos com "doces e salgados", afirmou o delegado Aloysio Falcão, no hotel Next Flat, na Barra.
Na avaliação da Polícia Civil, o esquema internacional de venda de ingressos da Olimpíada é considerado maior do que o que fora descoberto na Copa do Mundo. Não só por ter gerado lucros maiores, mas também "porque os dados coletados até o momento indicam a participação de um maior número de pessoas", explicou o delegado Ricardo Barbosa, que também ajudou na operação. A Cartan Global, por exemplo, ainda está sendo investigada em um desdobramento da operação original, assim como outras possíveis fontes de ingresso.
A polícia informou que, diferentemente do que ocorreu em 2014 com a Fifa e a Copa do Mundo, tanto o COI (Comitê Olímpico Internacional) quanto o comitê organizador da Rio-2016 estão colaborando com a apuração dos fatos.
Os 813 ingressos apreendidos nesta manhã já são considerados inválidos. Questão sobre ressarcimento ou não das vítimas deverá ser definida pelo Comitê Rio-2016. Na versão dos investigadores, todas as vítimas compraram as entradas em um canal não autorizado, isto é, acabaram por assumir a responsabilidade. “Não são [THG] o vendedor autorizado. Só podem ser vendidos ingressos pelo site”, afirmou Donovan Ferreti, diretor de ingressos do Comitê Organizador da Rio-2016.
A reportagem do UOL tentou solicitar um posicionamento oficial da Marcus Evans Group e da THG Sports, porém não houve resposta até o momento.