! Ginasta brasileira se isola em 'bolha' e vira chance de medalha inédita - 08/08/2016 - UOL Olimpíadas

Ginástica

Ginasta brasileira se isola em 'bolha' e vira chance de medalha inédita

Fábio Aleixo e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

Poucos segundos antes de começar a competir, Rebeca Andrade entra em uma 'bolha' só dela. Ali, não há espaço para torcida, família, mãe. É um espaço em que conversa consigo mesmo, ora, repete mantras. Findo o ritual, está pronta para os difíceis movimentos que os aparelhos de ginástica exigem.

Foi com essa estratégia, montada com uma psicóloga, que a jovem de 17 anos se tornou a primeira ginasta a chegar com chances reais de medalha à final do individual geral feminino. Com um desempenho surpreendente nas eliminatórias, foi a quarta melhor entre todas as ginastas.

À frente de Rebeca, apenas nortes-americanas: o fenômeno Simone Biles, e Alexandra Raisman, e a campeã olímpica Gabrielle Douglas. Como os EUA só podem ter duas na final - sim, a campeã está fora -, Rebeca será, na prática, a ginasta com o terceiro melhor desempenho. Sua nota 58,732 lhe daria o quarto lugar no Mundial de Ginástica de Glasgow, em 2015.

"Vou dormir como uma princesa"; dizia, rindo após a prova. "Só quero ficar entre os 24, e seja o que Deus quiser no individual geral. Se ele achar que mereço a medalha, que venha a medalha."

"Seu discurso é claramente de uma atleta que poderia se considerar uma zebra para medalha. Mas isso não é por falta de potencial da atleta: seus treinadores sempre viram a possibilidade dela brilhar no individual. A questão é que, no ano passado, ela quase desistiu do esporte enquanto tentava se recuperar de uma séria lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito que a tirou do Pan de Toronto (CAN) e do Mundial.

"Sim, falei para minha mãe que queria parar de treinar, mas ela não deixou. Tem uns sete meses. Só que ela falou assim: 'Não acredito Rebeca, você vai desperdiçar 13 anos da sua vida para isso? Eu não vou deixar. Você nem tentou!' E eu falava: 'Eu não vou conseguir'. Agora eu vou ligar para ela e ela vai estar chorando e eu chorando também", descreveu.

Foi por causa da contusão que Rebeca só realizou um salto sobre o cavalo, evitando desgastar o ligamento. Assim, ajudou a equipe, mas não entrou para a final por aparelho.

De seus quatro aparelhos, apenas a trave não teve um desempenho tão satisfatório com a 22ª posição. Nos outros, sua atuação foi de alto nível a ponto dela admitir que "não errou nada". Ainda assim, sua prioridade para o coletivo fica clara em algumas frases.

Em determinado momento, ela ressalta que é bom "saber que eu não sou só mais uma e posso ajudar". Isso dito pela ginasta de quarto melhor desempenho nas eliminatórias da Olimpíada.

Há um momento, no entanto, que Rebeca guarda só para si. São aqueles segundos antes de subir na trave, saltar sobre o cavalo, entrar no solo ou se agarrar as barras assimétricas. É ali que ela entra no mundo só dela.

"Só existe eu e o aparelho e mais ninguém. Daí eu conto até dez, e respiro devagar. Depois começo a falar comigo: 'Calma Rê que você já treinou muito para isso. Faz o seu melhor'. Não importa o que as pessoas vão achar que vai dar tudo certo. Ai eu oro um pouco para Deus", descreveu.

Isso se repete em todos os aparelhos. Na próxima quinta, dia da final do individual geral, Rebeca terá quatro conversas decisivas consigo mesmo.

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