Judô

Cristiano Ronaldo do judô é marrento para esconder a solidão que sente

L. Griffiths/Getty Images
Fabio Basile comemora o título olímpico do judô até 66kg imagem: L. Griffiths/Getty Images

Bruno Doro

Do UOL, no Rio de Janeiro

Fábio Basile, um italiano de 21 anos, venceu uma luta neste domingo (7), se virou para os fotógrafos e fez força, tanquinho à mostra. Lembrou Cristiano Ronaldo. Seria esquecido pelo torcedor comum, como muitos que passaram pelo tatame olímpico desde sábado (6) foram. Mas depois de cada luta, quando o replay era mostrado no telão do ginásio, ele parava, observava sua imagem e mandava beijinho.

Ao conquistar o ouro, o mais surpreendente da modalidade até agora na Rio-2016, a comparação com o atacante do Real Madrid estava completa. Boa pinta, marrento, vencedor. Basile conquistou a torcida brasileira assim. Mas ele é muito mais. O lado carismático esconde um lutador introspectivo, que usa o sofrimento e a solidão que sente em cima do tatame para vencer.

“Todos os gestos, a forma como me comporto, são para esconder o nervosismo que sinto no tatame. Eu nunca deixo transparecer aquilo que estou realmente sentindo”, explica o lutador. “Lutar judô, principalmente em uma competição, é uma atividade muito solitária. Eu me sinto muito sozinho. E tudo o que eu faço é para extravasar essa sensação”, completa.

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Torcida confundiu gesto com o raio de Bolt. É, na verdade, um arqueiro, em homenagem aos amigos imagem: L. Griffiths/Getty Images

Os beijos são contra a solidão. As poses. E até as olhadas no placar. Um gesto, porém, que também chamou atenção durante o dia do judô na Rio-2016 é de confraternização. De aproximação. Quando Basile aponta os braços, dobrados para o alto, lembra o raio de Usain Bolt. Mas não é isso. É um arqueiro: "É um gesto que faço para os meus amigos, sempre que venço. Para meus amigos e para meu técnico".

Técnico, aliás, que ganhou um beijo: Paolo Bianchessi foi um peso-pesado italiano que disputou dois Jogos Olímpicos e ganhou duas medalhas em Campeonatos Europeus. Hoje comanda os judocas italianos. "O beijo na testa foi porque ele é careca. Só isso".

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De ponta cabeça: comemoração após vitória sobre sul-coreano líder do ranking imagem: L. Griffiths/Getty Images

Pouca gente tinha ouvido falar de Basile antes dos Jogos do Rio de Janeiro. Ninguém apostaria em uma medalha. Muito menos em um ouro. Em seu currículo, o único título sênior era em uma Copa do Mundo disputada em Marrocos. Sua principal conquista, o Europeu de Bratislava, do ano passado, era sub-23.

Nada disso importou quando as lutas começaram. Foram quatro ippons em cinco lutas. Ele só não derrubou o esloveno Adrian Gamboc na semifinal. Na decisão, contra o sul-coreano An Baul, líder do ranking mundial e que tinha acabado de eliminar o tricampeão mundial Masashi Ebinuma, do Japão, a vitória veio em 1min24s.

“Pouca gente acreditou em mim quando disse que eu seria judoca. Por isso mesmo que eu coloquei tanta pressão em mim por isso. Nas últimas duas semanas, eu só tenho pensado nisso, nos Jogos Olímpicos. É um sofrimento enorme lidar com tudo isso. Mas eu fiz o que sempre faço: transformei o meu sofrimento em força para vencer”, explicou.

A medalha deve fazer Basile ficar conhecido na Itália: foi o 200º ouro italiano em Jogos Olímpicos.

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