Olimpíadas 2016

Nadadora que fez vaquinha para estar na Rio-2016 termina em último e chora

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

É fácil entender o choro de uma atleta que termina em último em uma prova olímpica. No caso da nadadora Daniah Hagul (17), porém, as lágrimas derramadas neste domingo (07), no Estádio Aquático Olímpico, representavam muito mais do que a frustração com o resultado na piscina. Única mulher a representar a Líbia na modalidade da Rio-2016, ela também significava o esforço de muita gente. A atleta precisou de um crowdfunding, espécie de vaquinha virtual, para arrecadar fundos e bancar a viagem ao Brasil.

Hagul disputou apenas uma prova na Rio-2016. Inscrita na primeira bateria dos 100 m peito, disputada neste domingo, cumpriu o percurso em 1min25s47. O tempo foi quase três segundos superior ao de Teona Bostashvili, a penúltima colocada (1min22s91). A norte-americana Lilly King avançou às semifinais com a melhor marca (1min05s78), quase 20 segundos de vantagem para a atleta da Líbia.

Quando passou na área de imprensa do Estádio Aquático, Hagul chorava. Não parou para conversar com jornalistas e não falou sobre o que representou para ela a disputa de uma prova olímpica.

Entretanto, não é difícil dizer que significou muito. Nascida em Malta, onde passou a maior parte da vida, Hagul começou a nadar competitivamente em 2011, aos 12 anos. No ano passado, aos 16, migrou para a Inglaterra e passou a treinar em um programa local de natação.

A temporada 2015 também marcou a estreia de Hagul em competições internacionais. Ela decidiu defender a Líbia, terra de sua família. Participou do Mundial de esportes aquáticos em Kazan (Rússia), em agosto, e de uma competição internacional no Qatar, em dezembro. Nesse evento, coletou três medalhas de ouro em três provas.

A distância entre Hagul e os Jogos Olímpicos estava ficando menor, mas havia um grande impeditivo para a presença dela no Rio: a federação de natação da Líbia não tinha condições de bancar a viagem.

Envolvida em constantes conflitos civis desde 2011, quando o ditador Muammar Kaddafi foi deposto, a Líbia atualmente tem três governos: um em Trípoli, que a ONU (Organização das Nações Unidas) considera rebelde, um m Tobruk, reconhecido por vários países, e um terceiro chamado de união nacional.

A própria família de Hagul vive em Malta em uma comunidade de refugiados da Líbia. Com um país tão esfacelado e envolvido em questões sociais graves, faltava dinheiro para a natação olímpica. A atleta correu então a um site e iniciou um financiamento coletivo: conseguiu arrecadar US$ 7,7 mil (R$ 24 mil) e viajou ao Brasil.

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