Judô dá 1º ouro para Kosovo: "Espero que sirva para Brasil nos reconhecer"
Bruno DoroDo UOL, no Rio de Janeiro
Quando o COI (Comitê Olímpico Internacional) decidiu reconhecer a independência do Kosovo, ninguém comemorou mais do que a judoca Majlinda Kelmendi. Ela sabia que o fato a faria perder milhões. Mas, enfim, ela poderia ganhar uma medalha pelo país onde nasceu. Aconteceu neste domingo (07), na Arena Carioca 2, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Majlinda bateu a italiana Odette Giufrida nas finais da categoria até 52kg e deu ao seu país, o mais novo da Olimpíada, o título olímpico. É a primeira vez que a bandeira será hasteada. Primeira vez que seu hino será ouvido. Quem entregou a medalha de ouro para a judoca foi o presidente do COI, Thomas Bach, responsável pelo reconhecimento. "Algumas coisas a gente só vive uma vez na vida. Hoje foi um desses dias. Quando Thomas Bach me entregou a medalha, disse eu tinha cumprido minha parte do acordo. Ele sempre apoiou muito o esporte kosovar", explicou a campeã olímpica.
O Kosovo fazia parta da Iugoslávia até a Guerra dos Balcãs. Quando as repúblicas começaram a declarar a independência, os kosovares foram reprimidos pela Sérvia. A população tem origem albanesa e parte dela se refugiou no país vizinho. Kelmendi foi uma das que ficou. Seu técnico, o ex-judoca Driton Kuka, foi soldado e lutou na Guerra dos Balcãs. Juntos, os dois mudaram a lógica do esporte em seu país. Kuka criou uma academia de judô que formou campeões. Majlinda, com seus títulos, provou que era possível vencer.
"Sonhei tanto com esse momento. É especial para mim, para minha família, para meu técnico, para meu país... Mas, principalmente, para as crianças do Kosovo. Eu provei que se quiserem ser campeões olímpicos, eles podem, mesmo vindo de um país pequeno e pobre", disse Majlinda. "Kosovo não é só um país que sobreviveu a uma guerra. Nós temos uma geração jovem incrível. Eu tive tantas ofertas para defender outros países, muitos milhões, e abri mão disso só para sentir o que senti hoje. É inacreditável".
Esse momento, porém, só foi possível pela luta pelo reconhecimento. Até hoje, por exemplo, o Brasil não reconheceu formalmente o país. "Espero que o que fizemos aqui, com essa medalha de ouro, mostre para países que ainda não reconheceram Kosovo que merecemos. Espero que essa medalha de ouro sirva para o Brasil, também, nos reconhecer. Os jovens do Kosovo, como Majlinda, merecem o mesmo tratamento dos jovens de todo o mundo. Essa medalha de ouro é uma luz para qualquer país que ainda tenha algum tipo de reticencia com o Kosovo e o povo kosovar.", falou o técnico de Kelmendi, Driton Kuka.
Ele veio em dezembro daquele mesmo ano, quando o COI anunciou que a delegação do país competiria com sua bandeira no Rio de Janeiro. Em 2012, ela já tinha lutado a Olimpíada, pela Albânia. E, nos últimos quatro anos, enquanto dominava a sua categoria (é líder do ranking mundial e ganhava 20 títulos no circuito mundial, rejeitou inúmeros convites de naturalização. Algumas nações árabes, inclusive, ofereceram milhões para que ela mudasse de país. Ela nunca aceitou o dinheiro. E neste domingo, teve a recompensa.