Olimpíadas 2016

Rio tem noite de calmaria e não se contagia por euforia do Maracanã

Iwi Onodera/UOL
Barra da Tijuca teve clima de tranquilidade durante a abertura da Olimpíada no Rio imagem: Iwi Onodera/UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro*

Em contraste com o carnaval de cores e sons do Maracanã, outras regiões do Rio de Janeiro acompanharam a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de forma comedida nesta sexta-feira. A festa não contagiou outros pontos tradicionais de agitação noturna da cidade, como Zona Sul e Barra da Tijuca.

Dentro do Maracanã, a cerimônia de abertura organizou um desfile caprichado de referências típicas cariocas, principalmente com elementos do samba. No entanto, fora do estádio o clima na cidade foi de tranquilidade, da maneira como o prefeito Eduardo Paes havia pedido aos cidadãos locais na véspera, sugerindo que as pessoas evitassem deslocamentos pelo Rio.
 
Mesmo nas imediações do estádio do Maracanã a cerimônia não contagiou os cariocas que estavam pelas ruas. No bairro da Tijuca, bares e restaurantes tiveram movimentação discreta, sem euforia por conta da festa a poucos quilômetros dali. 
 
O mesmo clima pairou sobre a Barra da Tijuca, na região mais próxima ao Parque Olímpico. Orla vazia, barracas tradicionais, como a do Pepê, fechadas, nada de caminhões do exército com seus soldados armados, entradas dos principais hotéis às moscas. Quem passeava pelas ruas do bairro na Zona Oeste carioca na noite desta sexta podia facilmente se esquecer que a cidade sedia o evento mais importante do esporte mundial. 
 
O point era mesmo a avenida, que, nos últimos anos, ganhou bares e restaurantes e deu nova cara à região. A combinação de leve boemia e clima familiar atraiu brasileiros e estrangeiros para acompanhar pela TV a cerimônia e compartilhar com os filhos o início dos Jogos. "Quem vem para cá está fugindo disso", falou Rodrigo Magalhães, 35 anos, referindo-se à farra da zona sul, em praias como Copacabana e Ipanema. 
 
Na Praça Mauá e toda área do "boulevard olímpico" na zona portuária o clima também foi de festa comedida. Os cariocas, que eram maioria no local, aplaudiriam e se emocionaram em diversas partes da cerimônia, transmitida por telões espalhados por toda a área reformada dessa região do centro da cidade. O final da cerimônia trouxe a maior emoção, as pessoas se soltaram mais, num misto de alegria e alívio. 
 
A Lapa, tradicional bairro da boemia no Rio, demorou a se agitar. A maioria dos bares ainda tinha vários lugares vazios quando a abertura começou, mas foram enchendo na medida em que a noite avançou. Ao final da cerimônia, as portas de baladas já estavam abarrotados de brasileiros e gringos perambulando de caipirinha em mãos.
 
Quem sofreu o impacto das Olimpíadas preferiu ignorar a cerimônia de abertura. Na Vila Autódromo, onde centenas de pessoas foram removidas e só restaram 20 famílias, o desfile passava na televisão, mas não teve público. Os moradores preferiram fazer um churrasco para comemorar a 'libertação' e a permanência no local. Alguns deles davam uma espiadinha na TV, mas se sentiam mal pelo que os Jogos representaram: a perda de suas casas. "Eu olho para isso e só me lembro da casa que eu perdi", conta Suely Ferreira Campos.
 
O show pirotécnico da abertura dos Jogos do Rio-2016 fez os vizinhos do estádio do Maracanã se reunirem para ver o espetáculo. O morro da Mangueira, que fica ao lado, virou um camarote privilegiado. As famílias se reuniram nas lajes. No topo do morro, os jovens se aglomeraram na região chamada de Pedra para  assistir aos fogos. "Esta aqui é melhor vista do Rio", se empolgou o motorista Rildo Lima. A associação de moradores da Mangueira montou até um esquema de guias para levar jornalistas para locais do morro com boa visibilidade. Cerca de 20 equipes de TV e fotografia de vários países foram registrar as imagens.
 
Mais cedo, ainda antes da cerimônia, a região do Maracanã viveu instantes de tensão em razão de um choque entre manifestantes e o aparato de segurança da cidade. Um grupo contrário à realização dos Jogos Rio 2016 participou de um protesto pelas ruas do entorno do estádio. A estação Afonso Pena do metrô, que vinha sendo usada para chegar ao Maracanã, apesar de não dar acesso direto ao local, foi fechada por conta da manifestação.
 
A segurança do metrô informou que, por volta das 18h, a polícia usou bombas de gás para dispersar um grupo de manifestantes que ateou fogo a uma bandeira do Brasil na praça Afonso Pena. Foi possível sentir o cheiro do gás de pimenta dentro da estação. A ação da PM causou revolta em pessoas que estavam próximas ao local, que fica em uma área residencial da Tijuca.
 
*reportagem de Ana Cora Lima, Daniel Lisboa, Fernanda Schimidt, Luiza Oliveira, Rodrigo Bertolotto e Vinícius Segalla

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