Olimpíadas 2016

Natação olímpica ainda busca novas referências em meio a 2º adeus de Phelps

Chris Graythen/Getty Images
Michael Phelps, nadador dos EUA, pode brigar por até seis ouros na Rio-2016 imagem: Chris Graythen/Getty Images

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Vai ser difícil encontrar um novo Michael Phelps. É essa constatação que vai acompanhar todo o programa da natação nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro – as disputas da modalidade começam neste sábado (06), mas ele só entrará na piscina para competir a partir de segunda-feira. Recordista de pódios em Jogos (22, com direito a 18 ouros), o norte-americano de 31 anos chegou a se aposentar após Londres-2012, mas mudou de ideia. Voltou às piscinas em 2014, conseguiu vaga em três provas individuais desta temporada (100 m borboleta, 200 m borboleta e 200 m medley) e terá chance de empilhar mais recordes antes da segunda, e talvez última, despedida. Enquanto curte o possível adeus a seu maior expoente, o esporte também terá de lidar com a perspectiva de futuro: sem Phelps, quais atletas vão ser as referências da natação nos próximos anos?

A Rio-2016 terá um papel fundamental para responder a essa pergunta. O evento pode significar uma ascensão de patamar para a norte-americana Katie Ledecky, 19, por exemplo. Em Londres-2012, aos 15 anos, a nadadora conquistou a medalha de ouro nos 800 m livre. Depois disso, estabeleceu um domínio descomunal na prova e estendeu a supremacia para outros eventos. No Mundial de esportes aquáticos de 2013, em Barcelona (Espanha), Ledecky esteve quatro vezes no topo do pódio (400 m livre, 800 m livre, 1500 m livre e 4x200 m livre). Em Kazan (Rússia), no ano passado, foi bicampeã de todas as provas e ainda venceu os 200 m livre.

“Todo mundo me pergunta como ela se sente ao ser cada vez mais reconhecida e cobrada. A resposta é simples: ela não sente. Katie ainda disputa todas as competições como se fossem provas colegiais nos Estados Unidos”, contou Bruce Gemmell, técnico da nadadora.

O discurso da própria Ledecky é igualmente conservador. “Eu só tento fazer meu melhor a cada vez que subo no bloco. Sempre estabeleci metas altas para mim, mas há alguns anos eu nem sonhava em disputar as Olimpíadas. Aí as Olimpíadas começaram a se tornar realidade, e eu comecei a pensar em como fazer isso melhor”.

No entanto, não se engane com as tentativas de minimizar o papel de Ledecky nos Jogos do Rio. A norte-americana vai disputar três provas individuais (200 m livre, 400 m livre e 800 m livre), mas não estará no Brasil apenas para coletar medalhas de ouro. Existe uma enorme expectativa em torno do que ela pode fazer no país – número de conquistas e recordes mundiais, por exemplo. Principalmente nos 800 m livre, prova que a nadadora domina mais. Em Londres-2012, Ledecky venceu a distância com 8min14s63. Hoje, dona das dez melhores performances de todos os tempos, já baixou a melhor marca da história para 8min06s68. No Rio de Janeiro, pode ser a primeira na história a cumprir o percurso em menos de oito minutos: “Não é meu único objetivo, mas estou chegando perto”.

Outra missão de Ledecky passa longe das piscinas. A nadadora é a maior aposta da Fina (Federação Internacional de Esportes Aquáticos) e da USA Swimming, entidade que comanda a natação nos Estados Unidos, para dar sequência ao legado de Phelps.

Em 2000, quando o nadador disputou os Jogos pela primeira vez, a seletiva olímpica dos Estados Unidos teve média de público em torno de 3 mil pessoas e pequena cobertura televisiva. Neste ano, o evento em Omaha teve ingressos esgotados para todas as 15 sessões e se tornou o primeiro torneio de natação no país a superar um total de 200 mil espectadores. Além disso, foi exibido ao vivo em TV aberta, em cadeia nacional, no horário nobre.

“É incrível ver o quanto o esporte cresceu. Há ocasiões em que nós precisamos ser acompanhados pela polícia por causa da multidão”, disse Phelps em Omaha.

Phelps fez a natação ser maior. A Rio-2016 será a quinta participação olímpica para ele – algo inédito para um norte-americano na modalidade. O nadador é o recordista em provas disputadas nos Jogos (24), em ouros (18), em ouros numa edição só (oito em 2008), em medalhas numa edição só (oito em 2008) e em pódios individuais (11), por exemplo.

Não é apenas Phelps, porém, que fará da Rio-2016 uma jornada de despedida. Entre os norte-americanos, os Jogos deste ano também serão um adeus para Ryan Lochte, 32, dono de 11 medalhas olímpicas.

Em contrapartida, vários novos talentos serão colocados à prova nos Jogos deste ano. Além de Ledecky, atletas como o britânico Adam Peaty (21), o chinês Sun Yang (24), o sul-africano Chad Le Clos (24), o japonês Kozuke Hagino (21), a norte-americana Missy Franklin (21), a lituana Ruuta Meilutyte (19) e a sueca Sarah Sjostrom (22) tentarão fazer da Rio-2016 uma jornada de afirmação. O posto de referência da natação mundial está prestes a ficar vago.

Brasil teve transição forçada antes da Rio-2016

Se em âmbito mundial a Rio-2016 acompanhará uma “troca de guarda” entre os destaques da natação, no Brasil esse movimento aconteceu antes dos Jogos. Cesar Cielo, 29, campeão olímpico em Pequim-2008 e principal nome do esporte no país, não conseguiu classificação para este ano.

Atual recordista mundial dos 50 m livre e dos 100 m livre, dono de seis títulos mundiais em piscina longa e de três pódios olímpicos (ouro nos 50 m livre e bronze nos 100 m livre em Pequim-2008; bronze nos 50 m livre em Londres-2012), Cielo teve um ciclo conturbado até 2016. Sofreu com lesões e seguidas mudanças em sua comissão técnica, alternou treinamentos entre Brasil e Estados Unidos e não conseguiu vaga no time que representará o país na Rio-2016. Chegou a fazer índice para os 50 m livre, mas acabou superado por Bruno Fratus, 27, e Ítalo Duarte, 24.

A principal referência entre os nadadores brasileiros na Rio-2016 é Thiago Pereira, medalhista de prata nos 400 m medley de Londres-2012. Neste ano, ele disputará apenas os 200 m medley.

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