Turma dos "sem ingresso" vê Olimpíada com cadeira de praia e água de coco
Bruno Freitas, Tais Vilela e Vinícius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Com direito a cadeira de praia em locais estratégicos e água de coco na mão, os cariocas da Zona Sul viveram intensamente o primeiro dia de competições da Olimpíada, neste sábado. Poucas horas após a cerimônia de abertura no Maracanã, o cidadão do Rio já estava curtindo duas das provas mais democráticas dos Jogos, realizadas em espaços que não exigem obrigatoriamente que os fãs desembolsem dinheiro por entradas.
A turma dos "sem ingresso" fez a festa no ciclismo de estrada e no remo, com muita disposição e com direito a camarotes improvisados. Esse grupo foi composto basicamente por moradores da parte nobre da cidade, residentes nas proximidades das provas, e por aficionados dessas duas modalidades.
Pontualmente às 9h30 (horário de Brasília), muitos cariocas ergueram os celulares para registrar em vídeo a largada do ciclismo de estrada, junto ao Forte de Copacabana. Quem chegou cedo teve a oportunidade de se posicionar bem e captar as melhores imagens dos atletas, que dispararam rumo à Zona Oeste em menos de dez segundos na frente do público. Durou bem pouco, é verdade, mas a primeira experiência olímpica espalhou euforia entre os presentes.
"Vim ver uma prova que me chama muito a atenção, porque eu sou ciclista amador nas horas vagas, sou apaixonado pelo ciclismo. Então não podia deixar de ver, principalmente pertinho de casa e sem precisar pagar ingresso, melhor ainda. Fiquei arrepiado", afirmou Leonardo Maia. "Eu vim ver os meus ídolos. Os caras que eu vejo nas revistas, na internet, sigo no Twitter, no Facebook. Tive o prazer de treinar com eles essa semana. Os melhores do mundo estão aqui. Não tem como eu não participar, principalmente do lado de casa e de graça, não tem nada melhor do que isso", endossou Eduardo Rocha, outro ciclista amador.
Remadas e água de coco
A poucos quilômetros dali, os admiradores do remo foram mais criativos ainda para encontrar pontos de observação gratuitos nas margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. As disputas duraram toda a manhã e avançaram pelo começo da tarde de sábado. O turista paulista Jonathan Ferreira entrou no clima da cidade sede e, mesmo com ingresso comprado no bolso, se instalou na área popular – com cadeira de praia e uma água de coco.
"Quando eu procurei pela internet, vi que era uma das provas que eles colocavam como acesso livre. Se você quiser acompanhar tomando uma cerveja, uma água de coco, uma água, ou até caminhando em torno da prova", afirmou Ferreira. "Mais tarde eu vou lá para arquibancada para ver", completou.
Vizinho da Lagoa Rodrigo de Freitas, o aposentado Robert Frederick também aderiu à água de coco num quiosque, a poucos metros da plataforma de partida de remadores: "é bem tranquilo, quase um camarote". Por sua vez, com dinheiro contado, o casal Gabriel Araújo Paulo e Bruna Manoela Cardoso curtiu a experiência olímpica, um dia antes de assistirem ao remo do lado de dentro. "De fora, podemos ver melhor a saída. De dentro do estádio, só conseguimos ver a chegada", explicou o fã de Blumenau, também remador.
Outro catarinense, Luiz Nogara era um dos mais empolgados na área dos "sem ingresso" na Lagoa. Remador do Vasco da Gama nos anos 60, o aposentado deixou o conforto de casa para ver atletas olímpicos a poucos metros. "Eu moro nesse prédio aí em frente, assisto lá de cima, lá da cobertura. Eu tenho um binóculo, vejo até à noite", disse.
Mais um ex-praticante do remo observava com atenção as eliminatórias durante a manhã de sábado. Mauro Silva, que também defendeu as cores do Vasco no remo, valorizou a área de quem não precisa pagar. "É impossível comprar ingresso para tudo, vai dar um valor exorbitante. Então eu comprei para os principais. Comprei para o atletismo, para o remo. Mas o que eu puder assistir sem ter despesa, é a ideia", afirmou.
"Tem um pouco de diferença, mas só pela perspectiva. Aqui é um pouco difícil saber quem vem na frente. Como são classificatórias, não tem muita importância. Eu vim ver o evento em si. É um esporte muito plástico, com o sincronismo dos remadores. Ver um pouco mais de cima é melhor, mas nada que desmereça isso aqui. Estou bem feliz de estar aqui", completou Mauro Silva, vestido com camisa da seleção de futebol, nome de Ronaldinho nas costas.
Aldo Mendes viajou de Brasília para prestigiar a Olimpíada e concorda com as vantagens especiais de acompanhar as disputas do remo do lado alternativo e mais econômico. "Na arquibancada você tem um pouco mais de informação. Aqui a gente não tem tanta informação. Mas, por outro lado, tem mais mobilidade. A gente pode ir lá ver a largada", disse. "Um evento desses é imperdível. Quando vai ter outro novamente? Não na minha existência, certamente. Tem que aproveitar", comentou.
Onde torcer sem pagar na Rio-2016
O torcedor que estiver no Rio de Janeiro durante a Olimpíada terá a chance de acompanhar nove modalidades sem a necessidade de pagar por ingressos: maratona, marcha atlética, triatlo, maratona aquática, ciclismo contrarrelógio e de estrada, remo, canoagem de velocidade e vela (confira mais na agenda dos Jogos 2016).
Todas essas modalidades contam com ingressos pagos, como na chegada da Maratona, no Sambódromo, e no Estádio de Remo da Lagoa. Nas competições de remo e canoagem de velocidade, no entanto, as restrições são amenas para quem deseja assistir às disputas sem pagar. As provas poderão ser vistas em quase toda a margem da Lagoa Rodrigo de Freitas. Em alguns trechos, atrás de grades de proteção, mas muito próximo das raias olímpicas.
Já as competições de vela, mesmo que mais distantes, poderão ser acompanhadas do Aterro do Flamengo, da Urca e até do Pão de Açúcar. Copacabana também vai abrigar a maratona aquática e o triatlo, com arquibancada na Avenida Atlântica, mas igualmente com espaços populares, sem necessidade de ingressos. Por fim, os fãs poderão testemunhar as emoções da marcha atlética bem de perto, no Recreio, próximo à Estrada do Pontal.