Falta de comida e demora: público reclama de "barriga vazia" na Rio-2016
Bruno Doro, Fábio Aleixo, José Ricardo Leite, Luiza Oliveira e Pedro Ivo AlmeidaDo UOL, no Rio de Janeiro
O primeiro dia de competições dos Jogos Olímpicos está sendo um teste de paciência para parte do público que foi assistir às competições. Após os problemas relatados na manhã de longas filas para entrar nos locais, a reclamação no começo da tarde é com a falta de comida em Deodoro e escassez de fichas e opções de alimentação, além da demora de mais de uma hora para conseguir comprar algo, no Parque Olímpico.
A situação se agrava já que a espera longa nas filas para conseguir se alimentar é debaixo de um sol escaldante. No Parque Olímpico foram registrados casos de desmaio de pessoas que estavam na espera para comprar comida e bebida. Já em Deodoro, os funcionários dos bares relatavam que só tinha refrigerante, água e cerveja, sem uma opção sequer de alimentos durante as paradas da competição do tiro esportivo.
Nada para comer em Deodoro
Amante do tiro esportivo, o administrador Lucas Coelho não pensou duas vezes ao decidir comprar ingresso para acompanhar as importantes finais da modalidade logo no primeiro dia dos Jogos Rio-2016. Ao lado de seus pais, desembolsou R$ 250 pelas três entradas e queria curtir o dia no centro olímpico em Deodoro. Antes mesmo de assistir às aguardadas provas do brasileiro Felipe Wu, no entanto, a experiência já não era agradável.
“Está caótico isso aqui. Não dá para entender, é uma Olimpíada”, disse o administrador de 27 anos, explicando os transtornos com transporte, deslocamento e, principalmente, alimentação no local das competições de tiro.
Tudo porque a instalação sofreu com problemas graves de distribuição e não tinha qualquer opção de alimentos para o público que acompanha as provas desde o início da manhã deste sábado. Só estava disponível para a consumação dos torcedores refrigerante, suco de caixinha, água e mate.
“Estamos com fome, ideia era comer algo, tentar um almoço. Mas a menina do bar informou que só tem água, refrigerante e cerveja. E isso se repete em todos os bares. Não tem para onde correr. E estamos isolados, aqui é longe de tudo. Já sofremos para chegar, com informações e agora para comer. É bem complicado”, disse, se esconder a frustração, segurando uma garrafa de refrigerantes de 600 ml. “É meu almoço”.
Lucas, pelo menos, tinha cartão de crédito para pagar. Outros espectadores sofreram com o fato de os bares não aceitarem dinheiro no momento. “Estamos sem o caixa, não tem como. Atrasou tudo: distribuição de comida, de equipamentos, das nossas luvas. Só abrimos para não ficar feio e ter bebida para a torcida. Garantiram que amanhã [domingo] já terá tudo”, explicou uma atendente que tinha que lidar com a irritação das pessoas.
Só pipoca no tênis e demora no basquete
Nos locais de competição no Parque Olímpico, problemas semelhantes também eram relatados. O advogado carioca Bruno de Arruda reclamou da falta de opções e das informações desencontradas dos organizadores. "Acabou faz duas horas e eu nem pergunto se tem mais. Mandaram a gente ir lá fora comer que está liberado, mas nem está. Estamos à base de pipoca".
Na Arena Carioca 1, onde estão sendo realizadas as partidas de basquete masculina, as reclamações eram semelhantes. A designer de interiores Carla Gama demorou um longo tempo para conseguir comer. "Fiquei mais de uma hora na fila para pegar comida. Perdi todo o primeiro tempo do jogo", afirmou Carla, que acompanhava a partida entre França e Austrália.
A cardiologista Ana Carolina Falcão também se mostrava indignada com a situação. "A sinalização está péssima. Mas o pior de tudo é a parte de alimentação. Muitas filas e ainda tem coisas fechadas. Olha só este carrinho de cerveja parado aqui", afirmou ela, apontando para um carrinho sem nenhum vendedor.
No judô, as lanchonetes foram fechadas enquanto ainda rolavam lutas das quartas de final. Minutos antes do encerramento da sessão da manhã, o sistema de som anunciou "nossas lojas já estão fechadas, mas as do Parque Olímpico estão abertas".
Filas longas e calor no Parque Olímpico
Com falta de fichas de comida, os restaurantes do Parque Olímpico registravam filas de mais de uma hora sob o sol escaldante deste sábado no Rio de Janeiro. Sem resistir às altas temperaturas, algumas pessoas chegaram a desmaiar enquanto aguardavam para serem atendidos.
Muitas pessoas saíam das arenas reclamando de estarem de "barriga vazia", além de contestarem o preço alto das bebidas e comidas. A opção para vários deles foi comer em restaurantes na região da avenida Abelardo Bueno, quando deixaram o Parque Olímpico.
Procurado pela reportagem para comentar o caso, o diretor de comunicação da Rio-2016, Mário Andrada, disse que todo problema com a alimentação está sendo investigado. "Não era para ocorrer isso, de maneira alguma. Vamos avaliar área por área, são empresas diferentes em cada parque olímpico [Barra e Deodoro]. Precisamos entender e estabelecer essa distribuição corretamente", disse o representante do Comitê.