Olimpíadas 2016

Rio 2016 fecha ciclo de ascensão e queda do Brasil. O que virá depois?

Buda Mendes/Getty Images
O Brasil que dá início nesta sexta aos Jogos Olímpícos de 2016 não é o mesmo que começou a prepará-lo imagem: Buda Mendes/Getty Images

Vinícius Segalla

Do UOL, no Rio de Janeiro

Lá se vão nove anos desde que o Brasil foi escolhido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) como sede da Copa do Mundo de 2014. Lá se vão sete anos desde que o Brasil foi escolhido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Mas não parece mais? O Brasil que foi escolhido: 2007-2009. O Brasil de hoje: 5 de agosto de 2016.

No dia 30 de outubro de 2007, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi junto com o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, até Zurique, na Suíça, para ouvir do então presidente da Fifa, Joseph Blatter, que o Brasil estava sendo escolhido o país sede da Copa de 2014

Em 5 de agosto de 2016, dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula cumpre agenda política em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, no lançamento da candidatura do PT à prefeitura do município.

Já o ex-presidente Ricardo Teixeira, oficialmente, vive no Rio de Janeiro, mas faz tempo que não cumpre qualquer agenda, a não ser médica. No dia 14 de julho, apresentou atestado e razões de saúde para não comparecer em depoimento na CPI da Máfia do Futebol, que marcou nova data para ouvi-lo, mas encerrou os trabalhos antes que isso ocorresse, no último dia 21 de julho. Também é investigado pelo FBI, nos Estados Unidos, em ação judicial que o impede de ir para a Suíça, para os EUA e para a maioria dos países do mundo sem correr o risco de ser preso.

O ex-presidente Joseph Blatter, por sua vez, tampouco apresenta agenda pública neste 5 de agosto. Mas, na última quinta-feira, dia 4, ele deu declarações ao canal de TV alemão ZDF. Disse que continua em estado de choque pela suspensão de oito anos, posteriormente reduzida para seis, que lhe foi aplicada pelo Comitê de Ética da Fifa, afastando-o de qualquer atividade relacionada ao futebol profissional até 2022, quando ele terá 86 anos. Disse que é inocente nas acusações de fraude em contratos que recebe. Afirma que é vítima de grande injustiça.

Em 2007, a economia brasileira cresceu 5,4%. Em 2008, o então presidente Lula disse que a crise econômica que se abatia como um tsunami sobre Estados Unidos e Europa não seria mais que uma marolinha no Brasil. O país cresceu 5,2%, uma desaceleração de 0,2%.

No ano seguinte, o jornal francês "Le Monde", em editorial, afirmou que Lula teve “visão correta” ao chamar a crise de marolinha, pois “a rápida recuperação do Brasil demonstra a precisão da estratégia adotada”. A economia recuou 0,2%, mas cresceu 2% no segundo semestre, chegando ao sexto melhor resultado entre os países do G-20.

Antoine Morel/UOL
Moradores de Santarém (PA) agradecem o ex-presidente Lula durante passagem da tocha olímpica imagem: Antoine Morel/UOL

No dia 2 de outubro do mesmo ano, o então presidente Lula chorou em Copenhague, na Dinamarca, onde estava com o ex-presidente da Fifa, João Havelange, e com o então e atual presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman, ao ouvir o anúncio do COI de que o Rio de Janeiro seria a sede da Olimpíada de 2016. A previsão era a de que o evento custaria R$ 25,8 bilhões

No ano seguinte, 2010, a economia saltou 7,5%, o maior crescimento em 24 anos

Já neste dia 5 de agosto, João Havelange, cujo sucessor, Joseph Blatter, renunciou ao cargo no ano passado e está suspenso do futebol, e cujo genro Ricardo Teixeira está na mira do FBI, tinha planos de cumprir agenda pública, mas, de fato, teve que se dobrar à agenda médica, já que recebeu alta do hospital somente na última terça-feira (3), onde tratava grave pneumonia, e seus 100 anos de idade inspiram os maiores cuidados. Antes do prolongamento inesperado de seu período de internação, porém, o plano era estar presente nesta sexta no estádio do Maracanã, como convidado de honra do COI, entidade de que já foi conselheiro.

Carlos Arthur Nuzman, que preside o COB há 21 anos e que cumpre agenda olímpica neste 5 de agosto no estádio do Maracanã, a seu turno, planeja se candidatar ao sexto mandato consecutivo à frente da entidade, em eleições que acontecem no último trimestre deste ano. 

Rudy Trindade/Estadão Conteúdo
Carlos Arthur Nuzman, com outras figuras que seguem comandando o esporte e a política no país imagem: Rudy Trindade/Estadão Conteúdo

Neste 5 de agosto, a previsão é de que a economia encolha 3,6% neste ano, já depois de ter recuado 3,8% no ano passado, e ter crescido só 0,2% em 2014

A estimativa atual de quanto custou montar a Olimpíada ninguém sabe qual é, já que o governo brasileiro resolveu adiar para depois do final do evento a divulgação do orçamento definitivo dos Jogos. A última versão deste orçamento, de janeiro deste ano, estava em R$ 39 bilhões, contra os R$ 25,8 bilhões previstos em 2009.

Aos olhos do mundo, neste 5 de agosto, o Brasil já não é mais o mesmo Brasil que justificou sua escolha como sede dos dois maiores eventos esportivos do mundo. Os editoriais da imprensa estrangeira não são mais como aquele do "Le Monde". Eles agora criticam o desempenho da economia, das instituições e dos costumes políticos, e também a forma como tem se dado as atuais mudanças no poder. As agências internacionais reduzem nossas notas, e o país perdeu o tal grau de investimento

Muita coisa mudou de 2007-2009 para agosto de 2016. Sobre essas coisas que mudaram, há os que dizem que foi para o bem, há os que dizem que foi para o mal. Os culpados pela crise variam de acordo com o lado do interlocutor.

De qualquer maneira, a Olimpíada fecha um ciclo de ascensão e queda de um projeto de Brasil que, em algum momento, desandou. Sendo ou não um sucesso - e deverá ser, ao menos se considerada a experiência com a Copa do Mundo -, fechará um ciclo de ascensão e queda de um projeto e de uma expectativa de país.

O ciclo se encerra e, quando se olha para ele, é difícil de encontrar o moral da história. O que aprendemos com ele? O que deu certo? Mudamos alguma coisa? Estamos melhores? Ninguém tem essas respostas, mas a torcida é para que sejam sim.

Michael Heiman/Getty Images
O Brasil está pronto para os Jogos Olímpicos do Rio. E para o que virá depois dele? imagem: Michael Heiman/Getty Images

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