Olimpíadas 2016

Filho de Baloubet está na Rio-2016. Mas mundo do hipismo teme por futuro

Daniel Brito

Do UOL, no Rio de Janeiro

É esperado para desembarcar no Rio de Janeiro dentro de três dias um cavalo da raça sela francesa chamado Palloubet D’Halong. Ele virá participar dos Jogos Olímpicos de 2016 na equipe de saltos do Qatar. É um dos filhos do inesquecível Baloubet du Rouet. Mas o animal pode estar fadado a reclusão e não ter o mesmo sucesso do pai. 

Para quem não se lembra, Baloubet formou conjunto com o cavaleiro Rodrigo Pessoa nos Jogos de Sydney-2000, e ganhou notoriedade no noticiário esportivo no Brasil porque refugou antes de saltar uma das últimas barreiras da prova olímpica. Se o salto fosse bem executado, como já fora toda o percurso, cavalo e cavaleiro dariam a primeira e única medalha de ouro do Brasil naquela edição.

Passados 16 anos deste episódio, Baloubet já está aposentado, já está em 28º ano de vida, e leva a vida como doador de sêmen. Palloubet é um de seus filhos. Foi comprado por 11 milhões de euro (quase R$ 40 milhões) pela federação equestre do Qatar. Apesar da quantia estratosférica, corre o risco de nem sequer apresentar-se ao público do Rio-2016.

Ele é o cavalo reserva do qatari Bassem Hassam Mohammed, que elegeu o cavalo Dejavu, da raça Belgisch Warmbloedpaard, como sua montaria titular.

É esta indiferença com Palloubet que faz com que a comunidade do hipismo mundial lance um olhar de desconfiança para o Qatar e os "novos ricos" da modalidade. “Este é o caso claro de que Palloubet foi comprado apenas para mostrar deslumbramento com o dinheiro que circula no mundo do hipismo”, disse ao UOL Esporte Thomas Borgmann, escritor alemão especializado em hipismo e enviado especial do jornal Stuttgarter Zeitung, da Alemanha, aos Jogos do Rio-2016.

A tese de Borgmann é comprovada quando recuperamos o noticiário da venda de Palloubet para os qatari, em 2013. “Desde o começo do ano [de 2013] apareceram muitos interessados em Palloubet. Mutias ofertas e muito dinheiro envolvido. Dissemos ‘não’ diversas vezes, mas as ofertas se mantiveram. Até chegar a um ponto em que tivemos que dizer ‘sim’. Foi muito estressante para me, porque Palloubet era meu bebê. Para mim foi um processo de convencimento mental muito difícil”, disse Janika Sprunger, sétima colocada no Campeonato Europeu de 2013 com Palloubet. Ela estará na Rio-16 com um cavalo holandês chamado Bonne Chance.

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Ferrari sem piloto

Borgmann cobriu as competições de Baloubet du Rouet no início dos anos 2000, quando o cavalo estava no auge da forma, e o classifica como um dos maiores nas provas de saltos. Lembrou, contudo, que não basta ter o melhor cavalo se o cavaleiro não estiver no mesmo nível. “Se você faz só 1% da prova com toda técnica que você tem e deixa que o cavalo faça 99% obviamente que ele não vai render o que se espera. O importante é que cavalo e cavaleiro se completem por igual”, afirmou Borgmann.

A belga Mariette Withages, que desde 2013 treina a equipe brasileira de adestramento, concorda com o escritor alemão. E ainda compara. “Não adianta ser um baita estudante se o seu professor é um estúpido. Você dificilmente vai render o que pode”, afirmou. Pedro Almeida, cavaleiro da equipe comandada por Mariette, lançou mão de outra comparação para lamentar o desperdício de talento de Palloubet nas mãos dos qatari. “Dá uma Ferrari para um cara que não é tão bom piloto assim, não será a mesma coisa se der a quem tem experiência”, afirmou.

Bassem Hassam Mohammed está longe de ser um cavaleiro à altura da tradição dos filhos de Baloubet du Rouet. No Mundial Equestre de 2014, em Caen, na Normandia, terminou em 53º na prova individual. Seu melhor resultado foi o 15º lugar na Copa do Mundo de Las Vegas, do ano passado. Ele não figura entre os postulantes ao pódio no Rio-2016.

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