Como o Brasil pode convencer rival de Mayra Aguiar a trocar judô por MMA
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Kayla Harrison, 26, já foi campeã pan-americana (em 2015), mundial (em 2010) e olímpica (em 2012). No entanto, precisou viajar ao Rio de Janeiro para ter a experiência de ser famosa. A norte-americana é atleta do judô, esporte que é bem mais popular no Brasil do que nos Estados Unidos. Além disso, é a principal rival de Mayra Aguiar, que disputa a categoria até 78 kg e é uma das grandes esperanças de medalha dos anfitriões na Rio-2016. Essa experiência sob os holofotes, aliás, pode ser crucial para o futuro de Kayla: convidada a migrar para o MMA, ela já pensa em estender os 15 minutos de popularidade.
“Quem não quer fama e dinheiro? São coisas que pesam, é claro. Obviamente estou considerando uma carreira mais lucrativa, mas só para depois. Agora quero estar focada nos Jogos”, contou a judoca no Rio de Janeiro.
Se trocar o judô pelo MMA, Kayla seguirá os passos de Ronda Rousey, que também fez essa transição e se tornou uma das referências no UFC, principal circuito do planeta de artes marciais mistas. E a experiência no Brasil pode ter peso para isso.
“É engraçado como eu acabo seguindo os passos da Ronda. Tudo que ela faz acontece depois comigo, mas eu faço melhor”, disse Kayla entre risos. “Ela conquistou muito nos últimos anos. É claro que essa fama e esse reconhecimento servem como exemplos”, adicionou.
Em Londres-2012, Kayla tornou-se a primeira norte-americana a conquistar uma medalha olímpica de ouro no judô. O feito, é claro, rendeu popularidade a ela. Contudo, a fama durou pouco.
“Quando você se torna campeã olímpica, as coisas mudam. Você mal percebe, mas há uma série de responsabilidades de carregar esse título. Para mim é uma honra ver que muitas crianças vão para o dojo e querem ser a próxima Kayla. Mas em termos de fama, acho que não acontece nos Estados Unidos. Temos os 15 minutos com paparazzi e tudo mais, mas depois isso passa”, relatou a atleta.
Na última quinta-feira (04), em entrevista coletiva com a equipe norte-americana da modalidade, ao menos três atletas foram questionados sobre aspectos como a relação com o anonimato e a dificuldade para explicar a modalidade a seus conhecidos. A própria Kayla pretende lançar uma competição com seu nome em 2018. O objetivo: fazer com que mais pessoas no país entendam o esporte que ela pratica.
Chegar ao Brasil para a Rio-2016, portanto, foi um choque de realidade para a judoca: “Acho que a torcida brasileira vai ser empolgante e apaixonada. Sinto isso só de andar por aí. As pessoas nos param para tirar fotos, o que raramente acontece nos Estados Unidos. Para mim, particularmente, estou empolgada. Os brasileiros amam judô, são apaixonados e vão fazer uma atmosfera incrível. Podem vir, brasileiros!”.
O chamado pode parecer uma provocação, mas nada em Kayla tem um tom de polêmica. A lutadora é adepta de respostas simpáticas, elogia o Brasil sempre que pode e também empilha elogios a Mayra Aguiar: “Ela me faz ser melhor. Sou uma pessoa e uma atleta mais forte graças a ela”.
Na Rio-2016, Kayla e Mayra só vão se encontrar se chegarem à decisão. Será o 17º confronto entre as duas – a norte-americana venceu nove até agora, e a brasileira triunfou nas sete restantes.
“Não estou preocupada. Estou aqui para uma coisa, tenho um trabalho a fazer e antes de pensar nela eu tenho de pensar em todo mundo que existe na minha frente. Estou empolgada, estou muito empolgada por ser uma Olimpíada. Estou pronta”, finalizou Kayla.