Olimpíadas 2016

Brasil se impõe pela 1ª vez e quer se meter entre as potências do esporte

Jonne Roriz/Exemplus/COB
Arthur Zanetti: meta do Brasil passa pelos braços do medalhista de ouro de Londres-2012 imagem: Jonne Roriz/Exemplus/COB

Bruno Doro e Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

O que é ser uma potência no esporte olímpico? No Brasil, significa estar entre os dez países que mais subiram ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam nesta sexta-feira. Não é só o fato de o país estar abrigando pela primeira vez o evento: é uma imposição de resultados inédita para os atletas que nasceram por aqui.

É a primeira vez que existe uma meta declarada de conquistas para uma Olimpíada. O número-chave varia. Já foi 30, chegou perto dos 20. Hoje, vai de 23 a 27 medalhas. É esse espaço que deve marcar a linha que divide o sucesso do fracasso.

A projeção do COB (Comitê Olímpico do Brasil (COB) para sua delegação que começa a competir no sábado está nesse intervalo. Envolve resultados expressivos em 15 modalidades – pelo menos cinco delas devem subir ao pódio pela primeira vez na história olímpica.

“Como é desenhada essa tabela: tem os três inatingíveis, que são Rússia, China e Estados Unidos, com mais de 80 ou 100 medalhas. Do quarto ao oitavo são sempre os mesmos há 20 anos: Reino Unido, França, Austrália, Japão e Alemanha. O nono e o décimo, nos últimos três Jogos Olímpicos, tiveram 27 ou 28 medalhas. Por isso, tínhamos como referência um número perto de 30. A tendência nos últimos quatro anos foi essa turma de cima, os oito, ganhar um pouquinho mais de medalhas e mais gente de baixo aparecer. Países novos subiram no quadro de medalhas. Se você olhar os mundiais dos últimos quatro anos e somar, quem ficou no top 10 teve entre 23 e 27 medalhas. Então existe a possibilidade de esse top 10 ser alguma coisa menor do que 27”, explica Marcus Vinícius Freire, diretor-executivo do COB.

É bom ressaltar que todas essas projeções são feitas com base no número total de medalhas, não no número de ouros. Mesmo sem exigir o resultado máximo, já é um objetivo ousado. O Brasil nunca ganhou 20 medalhas em Olimpíadas. O recorde foram as 17 dos Jogos de Londres, há quatro anos. Mais: o país só superou pela primeira vez os dois dígitos em 1996.

Para chegar a essa meta, a aposta é em velhos conhecidos. O judô fez três pódios em Londres-2012, é a modalidade recordista em medalhas olímpicas no país e, nos últimos quatro anos, teve duas campeãs e mais quatro atletas subindo ao pódio em Campeonatos Mundiais. O vôlei também: a seleção feminina é bicampeã olímpica e a masculina ficou entre os três melhores dos Jogos nas últimas três edições. Na praia, as quatro duplas, Alison/Bruno Schmidt e Evandro/Pedro Solberg no masculino e Larissa/Talita e Bárbara/Agatha, são candidatas a um lugar no pódio. Assim como o campeão olímpico Arthur Zanetti da ginástica, a seleção de futebol de Neymar & Cia. e o multicampeão Robert Scheidt da vela.

Mas existem também novatos. Isaquias Queiroz, da canoagem, estreia em Jogos Olímpicos com três títulos mundiais. A dupla Martine Grael e Kahena Kunze, da vela, liderou o ranking mundial, venceu os dois eventos teste na Baía de Guanabara e conquistou um título mundial nos últimos três anos. Ana Marcela Cunha, da maratona aquática, é dona de seis medalhas em Mundiais e foi eleita a melhor do mundo na modalidade em 2015.

E sempre existem as surpresas. Fernando Saraiva, do levantamento de peso, está entre os cinco ou seis melhores do planeta – e os dopings na Rússia tiraram alguns favoritos de sua categoria de peso. Aline Silva foi vice-campeã mundial na luta olímpica. Felipe Wu é líder do ranking mundial no tiro esportivo.

Essas opções, e muitas outras, foram moldadas desde 2009 com investimento farto. O governo federal nunca colocou tanto dinheiro no esporte de alto rendimento. Convênios, Lei de Incentivo, bolsas, Lei Piva ou patrocínios estatais, as torneiras estavam abertas para quem tivesse um plano olímpico palpável. Só o Bolsa Pódio, programa para bancar atletas brasileiros que estavam entre os melhores do mundo, nasceu com promessa de R$ 1 bilhão a serem repassados em quatro anos.

“Acho que nós demos para os 450 atletas brasileiros a melhor preparação para eles terem a possibilidade de registrar ali a melhor atuação da vida. Se isso vai acontecer ou não, aí depende do adversário, de como eles vão se comportar no dia. Mas a tranquilidade, isso eu tenho treinado. Quando acabar, se vocês tiverem feito 12º ou 15º lugar, se tiverem uma medalha a menos do que o esperado, cara, eu durmo tranquilo”, completa Marcus Vinícius.

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