Infraestrutura

Rio-2016 abraça 'jeitinho' para produzir Olimpíada possível e "à la Brasil"

Júlio César Guimarães/UOL
Centenas de operários foram contratados de última hora para fazer retoques finais na Vila Olímpica da Rio-2016 imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

Para fazer brilharem os olhos do COI, na candidatura em 2009, o Rio de Janeiro prometeu "Jogos impecáveis alimentados pela energia do Rio e apoiados pela excelência técnica". Não deu. A crise econômica do Brasil e atrasos no planejamento provocaram falhas a ponto de causar "estresse" no sempre comedido comitê olímpico. Em 2016, diante dos problemas, os organizadores tiveram que abraçar o plano B: o jeitinho, a gambiarra, as medidas de última hora para realizar a Olimpíada. Infelizmente, o chavão que define o Brasil.

Logo ao chegar ao país, o presidente do COI, Thomas Bach, reconheceu que o brasileiro gosta de fazer tudo no último segundo. Nenhuma discordância do Comitê Organizador Rio-2016 que resolveu adotar esse discurso. “Não são os Jogos Olímpicos da Suíça”, resumiu o diretor de comunicação do Comitê Rio-2016, Mario Andrada. Respondia às seguidas demandas do COI, e explicava o que seria possível fazer em cada caso.

Não deu para despoluir a maior parte da Baía de Guanabara e as lagoas Rodrigo de Freitas e da Barra da Tijuca. Foram necessárias então medidas paliativas como o controle dos lixos por ecobarcos e ecobarreiras na área de competição, além de pelo menos melhorar o saneamento na região da Marina da Glória. Assim foi feito também na lagoa para evitar prejuízos a remadores e canoístas. A água estará suja, e possivelmente vai cheirar mal, mas será navegável. 

Não deu para garantir a segurança ideal nas instalações olímpicas. Boa parte delas funcionou sem raio-x em suas entradas porque o governo federal demorou para contratar uma empresa para opera-los. Sem qualificação e chamada de última hora, a empresa falhou. Restou usar a Força Nacional e uma outra firma para cobrir o buraco. Ainda assim, as filas se tornaram uma tônica no Parque Olímpico.

Não deu para apresentar um cidade segura como prometida no dossiê de candidatura. Os índices de violência caíram de 2009 até 2015, mas cresceram no ano olímpico. Um esquema de policiamento com 50 mil homens de polícia, Forças Armadas e a nacional tenta garantir áreas estratégias. Isso não evitou casos graves de violência, e assaltos nestes espaços. Pelo menos tenta se evitar problemas que afetem atletas. 

Não deu para concluir a Vila Olímpica inteiramente antes da chegada dos atletas. Ao entrarem nos prédios, delegações encontraram instalações hidráulicas e elétricas inacabadas ou funcionando mal. Construtoras não realizaram o serviço corretamente, e o Rio-2016 não verificou. Diante das reclamações e protestos, a solução foi contratar empresas de emergências para fazer consertos e deixar o local habitável.

Não deu para decorar as instalações olímpicas como previsto com faixas, backdrops e placas que dariam a cara dos Jogos. No jogo de estreia da seleção, no Mané Garrincha, havia ali umas poucas placas com os aros olímpicos, nenhum sinal do símbolo do Rio-2016. O comitê ainda luta para enfeitar as sedes como previsto, e usa o que tem para tampar buracos por enquanto.

Não deu para ter um orçamento que impedisse o governo federal e estadual de comprometerem outras áreas. Com dinheiro parco, o Estado declarou falência e teve de pedir socorro para a União para cumprir sua parte nos Jogos. Também sem recursos de sobra, o Governo Federal priorizou a Olimpíada enquanto segurava outros gastos. A prefeitura do Rio diz estar equilibrada em suas contas, mas precisou da União para executar boa parte das obras.

Não deu para bancar uma abertura com investimento grandioso como a de Pequim-2008, ou mesmo como a de Londres-2012. Uma das diretoras do evento, Daniela Thomas diz que foi necessário fazer uma “gambiarra” para promover uma festa com orçamento algumas vezes menor que os antecessores. Neste quesito, ressalte-se, é bem capaz de o improviso brasileiro conseguir superar a falta de dinheiro e não decepcionar o mundo. A conferir nesta sexta. 

Não deu para mostrar um novo Rio, um novo Brasil, como se prometeu há sete anos. Mas agora vai começar e o país fará os Jogos possíveis. E não faltará festa, emoção e envolvimento de boa parte dos brasileiros. Como explicou o COI, será uma Olimpíada "à la Brasil".

 

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