UOL visita a Vila dos Atletas e experimenta o prazer da vida em condomínio

Maurício Stycer
Do UOL, no Rio de Janeiro
Pascal Le Segretain/Getty
Atletas caminham na Vila Olímpica no Rio de Janeiro

Do sexto andar vem um grito incompreensível. Todo mundo que passa embaixo olha para cima. Na varanda do apartamento, adornado com a bandeira do Azerbaijão, um sujeito está falando algo, aos berros, para um compatriota, no térreo, que responde gritando, igualmente.

A cena poderia ter ocorrido em um condomínio qualquer, mas este é especial. Trata-se da Vila Olímpica, um conjunto de 31 edifícios de 17 andares, preparado para receber cerca de 18 mil pessoas, entre atletas e membros das delegações dos 207 países que participarão da Rio-2016.

Excepcionalmente, nesta quinta-feira (4), o condomínio foi aberto para a visitação de um pequeno grupo de jornalistas. É uma visita sem guia. Cada um pode ir para onde quiser e entrar onde for aceito.

É fácil saber onde estão hospedadas as delegações. Os países exibem, orgulhosos, bandeiras e faixas na fachada dos prédios. Apenas dois países se escondem, sem identificação visível – os Estados Unidos e a Coreia do Norte. 

O repórter do UOL circulou pelas áreas públicas. O clima é muito semelhante ao de outros condomínios na Barra da Tijuca, com a diferença que habitado por atletas de ponta. Assim, é possível ver um quimono azul pendurado na varanda do prédio da Coreia, cruzar com uma espanhola que carrega o florete na mão, sem susto, ou ver um búlgaro comendo pastel em um banco.

Pascal Le Segretain/Getty
Atleta neozelandesa treina em academia na Vila Olímpica
O restaurante principal está em uma tenda de 27 mil metros quadrados. Tem capacidade para atender até 5 mil clientes ao mesmo tempo e oferece cinco cardápios diferentes: culinária asiática, “sabores do mundo”, “o melhor do Brasil”, “pizza e pasta” e comidas halai e kosher (realizadas segundo as restrições do islamismo e do judaísmo, respectivamente).

O principal ambiente para diversão dos atletas, se é que se pode chamar assim, é a gigantesca academia de ginástica que ocupa um naco da avenida principal. O espaço conta com equipamentos de última geração, que permitem aos atletas terem os seus desempenhos acompanhados à distância por seus treinadores.

Dentro dos prédios, algumas delegações oferecem pequenos confortos adicionais aos atletas. Na Casa Brasil, por exemplo, há três aparelhos de TV, uma sala de estar e uma sala com videogames para os atletas. Nos quartos, não há TVs.

Pascal Le Segretain/Getty
A piscina dos atletas na Vila Olímpica
A "divisão de classes" é visível na Vila. Esportistas de delegações menores não dispõem destes “luxos”.

Entre o restaurante e a academia, estrategicamente localizado, fica a “policlínica”, um pronto-socorro para atender a clientela que não dispõe dos próprios serviços médicos.

Vários prédios dispõem de piscinas, mas o tempo no Rio, nesta quinta-feira, não estava convidativo. Vi muitos atletas passeando de bicicleta pela área comum. Ao longo de todo o condomínio há ciclovias, mas faltam bicicletários. Cada delegação é responsável pelas suas bicicletas.

Um parque, com laguinhos artificiais, é outro ponto turístico da Vila. Ali fica uma escultura, com os anéis olímpicos e o 2016, símbolo dos Jogos. Atletas fazem fila para tirar fotos diante da peça.

Os prédios do condomínio são batizados com nomes como “Apoteose”, “Arcos da Lapa”, “Dois Irmãos” e “Pedra da Gávea”. Parte dos imóveis já foi vendida e será ocupada por seus verdadeiros donos depois dos Jogos.

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Vista geral da Vila Olímpica no Rio de Janeiro
A calma (ou tédio) do ambiente foi quebrada, nesta tarde, pela visita de algumas autoridades. Sempre acompanhados de muitos seguranças, os presidentes da França (François Hollande) e da Georgia (Giorgi Margvelashvili), além do secretário-geral da ONU (Ban Ki-moon) passearam pelo local, lembrando que aquele não é um condomínio qualquer.

Junto ao complexo há, ainda, um anexo, chamado “Zona Internacional”. Este espaço serve para os atletas se encontrarem com jornalistas, patrocinadores e familiares. Neste espaço, a maior atração é um McDonald´s, que serve lanches de graça. As filas são sempre enormes. Há, ainda, uma loja oficial, um mercado, correio e lavanderia.

Consta que também há “pokemóns” na Vila Olímpica. Mas não vi nenhum atleta os caçando esta tarde.