Rio-2016 faz brasileiro abandonar celular e evitar contato até com parentes

Guilherme Costa
Do UOL, no Rio de Janeiro
Satiro Sodre/SSPress
Henrique Rodrigues vai disputar os 200 m medley no dia 10 de agosto. Até lá, nada de celular

Não ligue para o nadador brasileiro Henrique Rodrigues, 25. Um dos representantes do país nos 200 m medley dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o atleta tomou uma medida radical para tentar aprimorar a concentração na reta final – ele compete apenas no dia 10 de agosto: desde a última terça-feira (02), quando entrou na Vila Olímpica, entregou o telefone celular ao técnico e se tornou incomunicável até para a família.

“Avisei meu pai e minha mãe: falem com meu treinador que eu estou fora. Depois que eu competir, pego o telefone de novo. Vai fazer diferença, cara: vou poder descansar a cabeça, me concentrar mais. Já tenho sentido isso em um dia e meio: o tempo demora mais para passar e rende mais. Tem sido bom”, relatou o nadador.

“Fiz uma última postagem e deixei com o treinador. Na hora em que botei o pé na Vila, entreguei para ele. Querendo ou não, tudo hoje gira em torno de rede social. O mundo inteiro hoje é WhatsApp, Instagram, Facebook, Twitter. Isso desfoca a gente. Você vê uma notícia que não gosta e fica meio mal, ou então vê algo positivo e se empolga. Eu acabei segurando e quero poder ficar bem concentrado. Até para socializar mais aqui: se você fica nesse mundo de celular, esquece o que está acontecendo ao redor. Olimpíada é um momento único. Não importa se você vai para uma, duas ou dez”, completou.

Henrique já participou dos Jogos Olímpicos em 2012, em Londres. Chegou à semifinal dos 200 m medley e terminou a competição na 13ª posição. Depois disso, teve um ciclo de evolução e resultados consistentes: além de ter sido campeão pan-americano em Toronto-2015, fechou a temporada passada com o sétimo tempo do planeta na prova (1min58s52) e tem neste ano a sexta marca do mundo na distância (1min57s91).

O desempenho nos últimos anos aumentou a expectativa em torno de Henrique na Rio-2016. A lista dos nadadores que fizeram tempos superiores a ele na temporada tem nomes de peso, como os norte-americanos Michael Phelps e Ryan Lochte ou o japonês Kosuke Hagino, mas o brasileiro tem evoluído de forma frequente durante todo o ciclo.

“Realmente, em uma a gente vai para aprender e na outra a gente vai para resolver. Na primeira, tudo foi novo para mim. Fiquei perdido no momento em que eu entrei na piscina. Dei de frente com o câmera, e aí você se assusta com tudo em volta. Em Londres era tudo enorme – a arquibancada era até maior do que a daqui. Aqui, por ser em casa e por eu ter passado quatro anos treinando, incluindo um problema no ombro, posso dizer que estou preparado. Hoje tenho toda uma equipe cuidando de mim. Naquela época, estava mais à vontade e mais tranquilo, apenas treinando”, disse Henrique.

Veto a celular não é para todos: com mulher e filhos, Guilherme Guido prefere contato

A estratégia radical de Henrique Rodrigues para melhorar a concentração às vésperas dos Jogos foi uma decisão individual. Não há orientação de COB (Comitê Olímpico do Brasil) ou CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) para que atletas abandonem celulares, ainda que as duas entidades tenham feito palestras e atividades para alertar sobre riscos oriundos do uso do aparelho.

O nadador Guilherme Guido, 29, é um exemplo de quem não consegue desligar do celular. Casado e pai de dois filhos, o atleta enxerga o aparelho telefônico como uma maneira de estar mais perto da família e mantém contatos diários com a família.

“Eu tenho dois filhos e uma mulher. Se fizer isso, acho que minha mulher desce de helicóptero aqui para me pegar. Acho que a atitude dele [Henrique] foi bacana, e se eu estivesse solteiro faria a mesma coisa. Mas com mulher e dois filhos ia até fazer mal para mim: a preocupação ia aumentar, e aí ia acabar até estragando. Eu tento não responder a coisas mais fúteis e não postar tanto, mas com a família eu gosto de estar perto. Falo todo dia”, contou Guido.