Futebol

Mané Garrincha assusta, e Rio-2016 contrata time para ajuste de última hora

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Remodelado drasticamente para a Copa do Mundo de 2014, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, foi o mais caro entre os que receberam partidas da competição de futebol. O TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) estima que as obras no local tenham custado algo em torno de R$ 1,6 bilhão (o montante pode chegar a R$ 1,9 bilhão se contabilizar também as intervenções no entorno). Dois anos depois, a arena virou um problema para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

O lugar seria sede de sete partidas do torneio de futebol, mas COI (Comitê Olímpico Internacional), Fifa e comitê organizador temem a reação do gramado a essa quantidade de eventos num curto espaço de tempo. Por isso, recorreram a um trabalho de última hora e chegaram a debater um plano B.

A alternativa mais discutida entre as entidades seria aumentar o número de jogos em Belo Horizonte e São Paulo, cidades que têm estádios com os gramados mais bem avaliados por elas. Ainda assim, isso demandaria grande esforço em áreas como logística (resolver questões de pessoas que já compraram entradas, mudar locais de acomodação e rotas de transporte das equipes, reservar voos e montar esquema de segurança, por exemplo) e comunicação (justificar a troca, alinhar discursos sobre o gramado e cuidar de mais um problema relacionado aos Jogos Olímpicos).

Todas essas implicações diminuem a possibilidade de alteração - atualmente, a ideia das instituições responsáveis pela modalidade é esperar que as primeiras partidas sejam realizadas, acompanhar a deterioração do campo e tomar uma decisão apenas durante o torneio. O Mané Garrincha terá jogos nos dias 04/08 (masculino), 07/08 (masculino), 09/08 (feminino), 09/08 (feminino), 10/08 (masculino), 12/08 (feminino) e 13/08 (masculino), incluindo os dois primeiros compromissos do Brasil no torneio masculino (contra África do Sul, no dia 04/08, às 16h, e Iraque, no dia 07/08, às 22h), ambos com ingressos esgotados.

Além de acompanhar a deterioração do gramado, o comitê organizador da Rio-2016 contratou uma equipe para fazer reparos de última hora. Setores do campo foram replantados, e outras áreas receberam reforço de iluminação - o projeto do novo Mané Garrincha tem deficiência de luz natural em algumas regiões do solo, o que dificulta o crescimento da grama. O trabalho desse grupo começou efetivamente no dia 21 de julho e contou também com a preservação - a arena não tem sido utilizada.

Um membro do Comitê Rio-2016 chegou a dizer que o estado do gramado do Mané Garrincha é "espetacular". A entidade enviou imagens do estádio ao UOL Esporte para defender a tese de que as reformas de última hora funcionaram, mas outras pessoas da instituição admitiram temor sobre o campo. Os responsáveis pelos Jogos argumentam que a carga de partidas em um espaço tão curto seria complicada para qualquer arena, mas admitem que o aparato do Distrito Federal não foi entregue aos Jogos com condição adequada. "Todo mundo sabe que há razões políticas para as partidas serem realizadas lá", disse um membro do alto escalão do comitê. 

A questão dos gramados tem sido um dos principais motivos de discussão entre Fifa e comitê organizador da Rio-2016 no período que precede os Jogos. Em junho, a entidade que comanda o futebol em âmbito mundial fez uma visita ao Rio de Janeiro para avaliar estruturas para a modalidade e escancarou preocupação com alguns procedimentos adotados pelos responsáveis pelo evento.

O Mané Garrincha havia sediado poucos dias antes uma partida entre Flamengo e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro de Futebol. Naquele jogo foi possível notar grande quantidade de areia no gramado para esconder falhas no solo. Desde então, pouco foi feito para que o estádio atingisse um nível adequado a um grande evento.

A preocupação na época atingia também outras arenas. O Maracanã, por exemplo, terá um gramado com o mesmo sistema usado na Copa do Mundo de 2014. O campo foi plantado fora do estádio, em uma fazenda, e as placas foram posteriormente transportadas para lá. A diferença é que houve provas antes do torneio de futebol – no caso dos Jogos Olímpicos, o único evento-teste do futebol seria realizado em abril e acabou cancelado.

O Engenhão, outro estádio carioca que receberá partidas de futebol na Rio-2016, também chegará ao evento sem ser testado. Entre as arenas que serão usadas nos Jogos Olímpicos, essa é a única que não sediou jogos da Copa do Mundo de 2014. Portanto, há uma série de protocolos e detalhes comuns a um torneio de grande porte que jamais foram testados ali.
 
Nenhum desses cenários, contudo, chegou ao nível do estado do Mané Garrincha. Principalmente porque os problemas no estádio de Brasília atingem o campo de jogo, área que o próprio comitê organizador da Rio-2016 trata como “sagrada”.

O comitê organizador da Rio-2016 negou que exista uma crise nessa área, ainda que um funcionário tenha admitido que “faltou controle” na operação do Mané Garrincha. Segundo os responsáveis pelos Jogos, "uma força tarefa está trabalhando no Mané Garrincha para garantir as melhores condições possíveis no gramado".

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