Olimpíadas 2016

Esgrimista venezuelana diz que sofreu com machismo em foto e na política

Danilo Verpa/Folhapress
Alejandra Benitez é ex-ministra do Esporte da Venezuela imagem: Danilo Verpa/Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

Aos 36 anos, a esgrimista Alejandra Benitez representará pela quarta vez as cores da Venezuela em uma edição de Jogos Olímpicos. E, para concretizar este objetivo esportivo, foi preciso dar um tempo em uma função que executava há cinco anos: a de deputada federal pelo Partido Socialista, ao qual ainda é filiada.

Alexandra diz que só deu um tempo pelo esporte e continuará ativa no partido e em outros projetos políticos. Mas relata uma dificuldade que vivenciou no mundo da política: o machismo. A esgrimista sempre admitiu ser muito vaidosa na exposição de suas imagens. Um dos momentos marcantes em seu país foi quando fez um ensaio sensual, seminua, para a revista local Dominical, há sete anos. Diz que desde aquele momento até entrar na política, sempre sentiu certo preconceito pra executar suas funções.

Cria do ex-presidente Hugo Chávez, ela é figura política conhecida no país e já foi ministra do esporte no governo de Nicolás Maduro, por um ano. Seu mandato como deputada na Assembleia Nacional acabou no fim de 2015, e ela optou por não tentar a reeleição para se focar na Olimpíada.

“O mundo é muito machista. Há um conceito de que para uma mulher ser vencedora, ou ela tem que ser bonita ou ser mulher de algum homem importante, entende? Não veem méritos das mulheres. Na política vi muito isso, é um meio muito machista”, falou, aproveitando para colocar sua opinião sobre o impeachment de Dilma Rousseff. “Digo que foi um golpe também contra a mulher. Pra mim foi terrível esse golpe de estado. Eles têm sua posição, as pessoas que querem, os meios não foram a favor de Dilma e ajudaram a esse golpe”, prosseguiu.

Ela conta que viu comentários muito machistas e foi criticada quando decidiu fazer um ensaio em que aparece em uma foto nua se cobrindo com um capacete. Defende que mulher pode ser vaidosa sem que isso seja considerado vulgar.

“Não vejo nenhum problema de uma mulher querer ser bonita e se mostrar. Fiz uma foto e várias pessoas dizem que são atos de provocação ao corpo de mulher, mas o que tem? E se a mulher se sente bem e bonita na foto? Há questões extremas nesse debate, e quando há extremismo, a situação não flui bem, extremos são ruins. Dizem que a mulher não pode se exibir, mostrar seu corpo porque é uma questão imoral. Acho isso muito forte.  E há outro lado que dizem que pra aparecer tem que deixar as mulheres com pouca roupa. Acho extremo também”, falou.

“O que é melhor? A mulher se sentir bem. Gordinha, magra, com curvas ou sem curvas. É questão de atitude. A mulher tem que fazer o que gosta pra se sentir bem Me atacaram muito por essa foto, que me exibi e tudo mais. Eu me senti bem com meu corpo, e daí? As mulheres não se mostram numa praia? E por que, então, não podem fazer isso em uma foto?”, prosseguiu.

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imagem: Reprodução

Alejandra compete no sabre e ganhou medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015. Já ficou entre as dez primeiras do mundo no Campeonato Mundial de Nice, em 2001. Agora, no Brasil, quer desfrutar da energia favorável e quer que o esporte seja um apoio para os venezuelanos nesse momento de situação econômica.

“Me sinto em casa, América do Sul, pertinho, e a sensação diferente é esse calor do Rio de Janeiro. Quarta Olimpíada e é igual em termos de emoção, sempre querer fazer o melhor. Adoro o Rio. Essa questão de ter o mar junto, é uma cidade muito encantadora. Para a Venezuela é necessário dar um alívio no tema econômico e ajudar com bons resultados, seria genial para elevar a autoestima”, falou, fazendo elogios ao presidente Nicolas Maduro.

“O presidente, mesmo com a situação econômica, nunca nos deixou de apoiar nas preparações, treinos fora do país e agora aqui no Rio a mesma coisa. Ele apoiou 100%, nos dá muito incentivo e suporte pra nossa família. Ele quer o bem das famílias.” 

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