Olimpíadas 2016

Atleta sem mão e antebraço rejeita ser coitadinha: "é só jogar e me vencer"

GRIGORY DUKOR/Reuters
Natalia Partyka, polonesa que disputa Jogos do Rio-2016 imagem: GRIGORY DUKOR/Reuters

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

A cada bolinha que tem que buscar no fundo ou lateral da mesa, Natalia Partyka repete a mesma cena há 20 anos: coloca a raquete embaixo do ombro direito, e com a mão esquerda, pega todas as bolas que estão espalhadas e lhe dão tanto felicidade.

A mesatenista polonesa de 27 anos não tem a mão e parte do antebraço direitos desde que nasceu, em função de um problema genético. Mas se alguém pensava que uma garota como aquela jamais poderia se tornar esportista de alto nível, faltou só convencer a própria Natalia.

Ela é uma das dez atletas na história que já disputaram tanto Jogos Olímpicos como Paraolimpíada. No Rio, vai para sua segunda edição de Jogos. Em Londres, em sua primeira participação, chegou a vencer partidas. É a atual campeã bicampeã paraolímpica.

Natalia sabe que venceu muitas dificuldades e pode mostrar caminhos inspiradores pras pessoas. Se diz feliz com a oportunidade, porém, jamais quer ser vista só como uma pessoa que consegue o que poucos acreditam. Nada de “coitadinha” ou “ela é vencedora só de estar ali”. A polonesa é firme nas palavras.

“Nesse sentido, é verdade que posso encorajar as pessoas e mostrar que nada é impossível. Mas não fico pensando nisso na minha vida. Gosto de jogar tênis de mesa. Sei que dou bons exemplos, ok, mas tudo bem. Não quero ser só isso. Quero mais e mais e ganhar no meu esporte. Não fico pensando em ser exemplo. Tenho objetivos no esporte, sonhos, coisas para executar nele. Quero vencer”, disse ao UOL Esporte.

Sem alarde, a polonesa fala com muita naturalidade sobre como sonhos e desejos  que parecem difíceis podem acontecer, sem que seja ela uma grande referência pra  resposta só pela dificuldade que superou. “Se você trabalhar duro pra alguma coisa, ela pode acontecer. Na minha vida foi sempre assim. Por muitos anos eu treinei em dois períodos, muitas horas e decidi jogar todo dia.”

Nada de se achar em desvantagem contra as rivais por não ter um braço, mesmo tendo certa limitação no saque. E tampouco achar que não deveria competir na Paraolimpíada só porque tem bom nível mundial entre atletas sem deficiência (seu ranking é próximo de 70 do mundo e já venceu top 10). Tudo pode, é só chegar e tentar batê-la.

“Eu só tenho que cumprir as regras e cumpro. As regras permitem que eu participe dos dois Jogos, que as pessoas (com deficiência e sem) joguem contra mim. É só chegar lá e tentar me vencer”, declarou Natalia.
 

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