Olimpíadas 2016

Judô brasileiro leva 70 sparrings para imitarem rivais e serem derrubados

Bruno Doro/UOL
Sparrings de Mayra Aguiar, catagoria até 78kg do judô, observam rivais da gaúcha para imitar estilo de luta imagem: Bruno Doro/UOL

Bruno Doro

Do UOL, em Mangaratiba (RJ)

As quatro judocas estão enfileiradas. Mayra Aguiar pega uma e derruba. A segunda também vai ao chão. A terceira e a quarta são jogadas ao tatame com a mesma velocidade. Quando Mayra levanta o olhar, aquela primeira que caiu já está de pé, pronta para voar novamente. É uma linha de produção para apanhar da atual campeã mundial dos meio-pesados (75kg).

A estratégia é geral. Cada um dos 14 lutadores da equipe olímpica brasileira tem, ao seu lado, quatro ou cinco judocas ao seu lado, ajudando nos treinamentos. São 70 sparings que estão lá justamente para cair, levantar e cair novamente.

São quase 40 tombos por atleta a cada treino. Com duas sessões diárias em três semanas, são quase 1500 vezes sendo jogados no chão. “É claro que dói. Dói bastante. Mas é para isso que estamos aqui”, diz a ligeiro (48kg) Gabriela Chibana. “É parte do nosso treinamento. Estamos ao lado de atletas muito fortes. E podemos ver que, se eles chegaram às Olimpíadas, nós também podemos. O sonho fica mais real”, completa.

A escolha de quem forma essa linha de montagem foi cuidadosa. Cada olímpico conta com quatro atletas. Dois são destros, dois são canhotos. E cada foi treinado para simular as características dos principais atletas que o judoca brasileiro pode enfrentar nos Jogos. Após cada sessão de treinamento, os sparings recebem vídeos com lutas desses rivais, para aprender movimentos e simular pegadas e entradas de golpes.

O time feminino tem um sparring a mais, masculino. “Nossas atletas são as melhores do país. É difícil encontrar, por exemplo, alguém tão forte quanto a Mayra no Brasil. Por isso, trazemos meninos das categorias de base. Atletas fortes para puxar um pouco mais os treinos”, explica o coordenador da seleção olímpica, Ney Wilson.

Beneficiados por isso, os olímpicos se derretem em elogios. “Eles são uns anjinhos. O judô é um esporte individual, mas você precisa do coletivo para evoluir”, diz Mayra. “Imagine se fosse só um atleta do outro lado? Seria cansativo e ele não aguentaria toda a temporada de treinos”, completa Maria Portela, indo para sua segunda Olimpíada nos médios.

“Eu já fui um deles. Eu fui medalhista olímpico cedo, aos 18 anos, mas desde os 14 anos eu morava sozinho em São Paulo. E, nesses quatro anos, eu que era o jogado. Eu estava lá todo dia para isso. Sei o quanto é doloroso”, lembra o judoca Tiago Camilo, vice-campeão olímpico em Sydney-2000 e bronze nos Jogos de Pequim, em 2008. Por isso mesmo, ao final de cada período de treinamento, o judoca paulista faz questão de enfileirar uma última vez os seus sparings. Mas, no lugar dos golpes, dá um abraço. Seguido de obrigado.

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