Olimpíadas 2016

Conheça a história de 5 brasileiros que defenderão outra bandeira no Rio

Fábio Aleixo

Do UOL, no Rio de Janeiro

Na Olimpíada do Rio de Janeiro, o Brasil terá em sua delegação mais de 20 atletas naturalizados ou repatriados. Mas o país também serve como exportador de mão de obra e terá competidores representando outras nações.

O UOL Esporte mostra a história de cinco brasileiros que defenderão outra bandeira na Rio-2016, mas que se sentirão em casa durante os Jogos Olímpicos.

1 - Falta de espaço no Brasil e família levaram Nacif Elias ao Líbano

Arquivo pessoal
imagem: Arquivo pessoal

Nacif Elias é naturalizado libanês desde 2013 e já representou o país em diversas competições internacionais ao longo dos últimos anos. Obteve o passaporte aproveitando-se do fato de seus bisavós terem nascido no país do Oriente Médio. A opção de trocar de pátria foi por causa das dificuldades encontradas no Brasil e até algumas desavenças com a Confederação Brasileira de judô (CBJ). Depois de batalhar até o último minuto por uma vaga nos Jogos de Londres na categoria até 81 Kg e perdê-la para Leandro Guilheiro, a CBJ queria que ele subisse para a categoria até 90 Kg para o atual ciclo olímpico. Mas ele não quis fazer a mudança. 

Neste período, Elias também estava sem patrocínio e com problemas para disputar competições pelo mundo. Então, veio a oferta da federação libanesa para a mudança de pátria. E ele não titubeou.

"Pelo Brasil iria conseguir fazer no máximo quatro competições por ano. Aqui tem muitos atletas bons, e a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) não pode mandar todo mundo para viajar. No Líbano, me ofereceram oito, com tudo pago e a melhor estrutura possível. E não me arrependo. Já fui eleito duas vezes o melhor atleta do país, sempre que estou lá converso com os ministros e sou muito bem recebido", disse o judoca, que segue vivendo no Rio de Janeiro e viaja ao Líbano quatro vezes por ano.

Apesar de ter se naturalizado libanês, Elias admite ter dificuldades para falar em árabe. "Apesar de minha família ter origem libanesa, ela não mantém tanto as tradições aqui", disse o judoca de 27 anos.

O atleta diz acreditar em uma medalha e torce para encarar o amigo brasileiro Victor Penalber apenas em uma decisão. "Torço para ele, por um bom resultado. Acredito que se não lutar contra ele, terei grande parte da torcida (a favor)", afirmou.

2 - Taciana encontrou o pai pela internet e foi defender Guiné-Bissau

Christian Fidler/IJF
imagem: Christian Fidler/IJF

Nascida em 1983 em Olinda e radicada em Porto Alegre durante boa parte da vida, a judoca Taciana Lima sempre foi criada pela mãe e passou toda a sua infância e adolescência sem ter contato com o pai. Isso até 2007 quando resolveu usar a internet e ir buscar informações sobre Óscar Suca Baldé, o seu genitor. Descobriu que ele vivia em Guiné-Bissau e trabalhava como ministro da Pesca.

Taciana não tinha contato com Óscar até então pois após engravidar a sua mãe nos anos 80 enquanto fazia faculdade de Engenharia no Brasil, o africano voltou ao seu país de origem. Ele ainda veio três vezes até o Brasil tentar localizar a filha, mas nunca conseguiu encontrá-la.

Após achar o pai e trocar mensagens pela internet, Taciana foi para Guiné pela primeira vez em 2012. No ano seguinte, membros da federação local de judô e do governo fizeram o convite para que ela se naturalizasse. Afinal, a modalidade não tem expressão nenhuma no país e Taciana tinha bastante experiência, tendo representado o Brasil em diversos torneios internacionais. Porém, nunca conseguiu disputar uma Olimpíada. Agora, terá esta oportunidade após obter a sua classificação pelo ranking mundial.

"O sentimento é o melhor possível, um sentimento de realização. Vou lutar os Jogos Olímpicos com a minha família e amigos na arquibancada, representando o país do meu pai. Um país no qual sou sempre recebida como uma rainha quando visito. Minha relação é ótima. E falo sempre com o meu pai depois de 26 anos sem contato", disse a judoca que treina e vive em Portugal.
 

3 - Canadense é filho de atleta que defendeu o Brasil em Olimpíada

Divulgação
imagem: Divulgação

Sergio Pessoa Junior chega a sua segunda Olimpíada defendendo o Canadá - também esteve em Londres. Ele é nascido em São Paulo e é filho do ex-judoca Sergio Pessoa, que competiu pelo Brasil nos Jogos Olímpicos de Seul-1988.

Junior é radicado no país da América do Norte desde que tem 16 anos - hoje já está com 27 - e obteve a sua naturalização em 2009.

"Foi uma decisão familiar para mudar o estilo de vida que tínhamos. Era muito corrido e buscamos uma melhor qualidade de vida. Queria aprender uma nova língua e foi o que aconteceu", disse Pessoa há tempos atrás, ao explicar a sua decisão de viver e defender o Canadá. "Mas para mim é indiferente se estou defendendo Brasil ou Canadá. Sinto os dois como sendo meus países".
 

4 - Brasileiro já faz história no Qatar antes de entrar em quadra

Amin M. Jamali/Getty Images
imagem: Amin M. Jamali/Getty Images

 
País de tradição nula no vôlei de praia, o Qatar contará com dois naturalizados em sua dupla no vôlei de praia. Um é o senegalês Samba Cheriff. O outro é Jefferson Santos, de 26 anos, que competirá no "quintal de casa".
 
Nascido no Rio de Janeiro, ele se mudou para o Qatar em 2012 após muitas negociações e convites para defender clubes locais, Com o tempo, veio também a oportunidade de se naturalizar e ajudar a desenvolver a precária estrutura do esporte no país do Oriente Médio. A federação não contava com treinadores, fisioterapeutas ou qualquer tipo de equipe de apoio.
 
A evolução em quatro anos foi grande e possibilitou a parceria disputar várias etapas do Circuito Mundial, o Campeonato Mundial e agora obter a classificação para a Olimpíada, algo inédito para o vôlei de praia do Qatar em nove participações olímpicas.
 
"Todos têm a imagem do Qatar como um país de muito luxo, por causa do petróleo. Claro que tem muito dinheiro, mas no vôlei as coisas são diferentes. Não temos contratos milionários como os jogadores de futebol, por exemplo, mas não passo nenhum tipo de necessidade. Tenho todo o apoio para jogar vôlei", disse ao UOL Esporte o atleta que vive no Qatar.
 
"No começo estranhava bastante a cultura, mas hoje já estou bem acostumado", disse o jogador que tem noções básicas de árabe, mas se comunica com seu parceiro majoritariamente em inglês.
 
Sobre disputar a Olimpíada em casa, Jefferson se mostra animado e espera contar com o apoio dos familiares na busca por bons resultados.
 

5- Carioca do polo dos EUA é o que tem mais chances de pódio

Sean M. Haffey/Getty Images
imagem: Sean M. Haffey/Getty Images

Tony Azevedo nasceu no Rio de Janeiro, mas foi com a família para os Estados Unidos quando tinha apenas um mês. Foi lá que passou a sua infância, juventude, frequentou escolas e se formou em Relações internacionais em 2004.

Foi lá também que adquiriu o gosto pelo polo aquático - modalidade que seu pai praticou e na qual foi integrante da seleção brasileira. Já disputou inúmeras competições pela seleção americana e tem uma medalha de prata em Pequim-2008. No Rio, é o atleta nascido no Brasil que defende outra nação que tem mais chances de subir ao pódio em sua quinta participação olímpica.

Apesar do longo tempo vivendo nos Estados Unidos, Azevedo fala português e já defendeu o Sesi-SP em algumas competições nacionais. Ele chegou a ser convidado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para defender a seleção brasileira neste ciclo olímpico, mas não topou. Alegou que só foi procurado após a entidade ter agilizado a naturalização do croata Josip Vrlic e do sérvio Slobodan Soro.

"Decidi continuar jogando pelos Estados Unidos porque eu era a última coisa na cabeça da CBDA. Primeiro eles decidiram naturalizar caras que não têm nada a ver com o Brasil", disse durante o Pan de Toronto, no ano passado.

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