O que tem na lousa e nos treinos de Micale que já impressionou até Dunga?
Dassler MarquesDo UOL, em Goiânia
Às vezes, ele está de cócoras, concentrado. Mas, quase sempre, quando a seleção brasileira treina, Rogério Micale corre entre os jogadores, joga a bola de um lado ao outro, incentiva, orienta...às vezes perde o controle com a habilidade de Neymar e companhia: “se sai esse gol no jogo, eu invado o gramado”, chegou a gritar em um dos treinos na Granja Comary após um lance bonito.
Para Micale, a essência de seu trabalho, que encerrou uma etapa na quarta ao deixar Teresópolis, está justamente nesses treinamentos. Alguns deles, nos clubes brasileiros em geral, não costuma se ver com tanta frequência. Dunga, quando comandava o time principal, chegou a internamente fazer elogios aos métodos do colega. A falta de repertório para as atividades era uma das críticas que o antecessor de Tite recebia.
Abaixo, com a ajuda do próprio Micale, o UOL Esporte resume cinco dos principais treinamentos que a seleção utiliza para tentar ter a cara que o comandante espera dela nos Jogos Olímpicos. Normalmente, a explicação sobre as atividades é enviada antes aos jogadores via WhatsApp. Na sequência, já no gramado, são expostas em uma lousa. Depois, enfim, vem a prática.
O treino que Guardiola mais gosta
Os aquecimentos são feitos com os treinos chamados por “rondo”, a atividade preferida de Pep Guardiola. É muito parecido ao popular ‘bobinho’, mas Micale vê a possibilidade de impor conceitos. Passes rápidos entre os jogadores para a transição defesa-ataque são um exemplo. O outro é a possibilidade de organizar a marcação e, como diz o técnico, “fechar linhas de passe” com o posicionamento dos jogadores que estão no “bobinho”.
Atenção com as faixas
O técnico cria corredores no campo, dividido com faixas sobre o gramado. Entre intermediárias, os jogadores precisam passar a bola rápido. Só mais na frente é que estão livres para driblar. Em caso de inversão de um lado ao outro, os atacantes também podem fazer a festa em qualquer parte, no meio ou na frente: fintar está definitivamente liberado.
O caminho da bola
Micale finca oito estacas na linha do meio-campo. Ali, indica quatro corredores por onde a bola passa da defesa ao ataque. São regiões onde, normalmente, há mais espaço e menos risco. Quando essa bola chega aos atacantes, o trabalho é dos zagueiros. Como a ideia é simular contragolpes, eles sempre estão em inferioridade numérica. Dois contra três, três contra quatro. O treinador os ajuda a se organizarem para minimizar riscos e proteger o gol.
Quem acerta o quadrado?
Um dos princípios de jogo de Micale é fazer o time inverter a bola de um lado para o outro. Ele acredita que é assim que pode se encontrar espaços em defesas fechadas. Mas não é apenas no ataque que está liberado. As inversões podem ser feitas já na defesa. Por isso, ele coloca quadrados próximos à risca do meio-campo, nas laterais. Trata-se do local exato onde a bola deverá chegar na inversão – seja na diagonal, a partir da zaga, ou em linha reta. Volantes, zagueiros, laterais e até goleiros treinaram até cansar.
Por que a bandeira do Brasil?
Com a ajuda de faixas, a comissão técnica desenhou dois funis nos dois campos de ataque. Na soma com o círculo central, ficou similar à bandeira do Brasil. Mas a ideia é simples: simular situações de contragolpe e orientar posicionamentos. Atacantes se posicionam para receber a bola longa pelo lado de fora do funil para evitar interceptações. O goleiro se orienta pela ponta do mesmo funil: é ali que precisa estar pronto para cortar uma jogada do adversário.