Olimpíadas 2016

Banca na frente da Vila teme remoção. Funcionários até passam mal

Bruno Doro/UOL
Banca de alimentos na Avenida Olof Palme é o comércio mais próximo da Vila Olímpica da Rio-2016 imagem: Bruno Doro/UOL

Bruno Doro

Do UOL, no Rio de Janeiro

Os funcionários de uma banca de alimentos na avenida Olof Palme não dormem direito há três semanas. E os Jogos Olímpicos só aumentaram a sensação de insegurança. Mas nada a ver com violência. O problema é medo de perder emprego, mesmo.

A banca fica a poucos metros da entrada da Vila Olímpica, um complexo de 31 prédios que, a partir de outubro, virará um empreendimento de alto padrão que está quase todo vendido. Em frente à banca, durante o período olímpico, as pessoas só passam a pé. Veículos, só os credenciados. Agentes de trânsito, guardas municipais e alguns soldados da Força Nacional garantem isso.

Mas a proximidade da mais bem guardada instalação olímpica trouxe, também, um problema: as regras olímpicas, que restringem comercialização de produtos apenas de patrocinadores e proíbe propagandas de outras marcas, tentaram se infiltrar por lá. Fiscais da prefeitura passaram pelo local e pediram mudanças.

Quem trabalhava por lá temia o pior: um caminhão teria sido agendado pela prefeitura para remoção da banca. Todos perderiam o emprego. Essa tensão fez uma vítima. Uma das vendedoras não aguentou. A pressão foi subindo, subindo, subindo... O marido teve de ir busca-la. Ficou à tarde em casa, descansando. “Mulher, sabe como é... Se preocupa muito. Melhor se cuidar, mesmo”. Quem sabe ela aparecerá na quinta-feira, já com o problema resolvido.

A reportagem do UOL Esporte falou com a prefeitura. A banca está regular e não será incomodada. “As únicas notificações foram sobre venda de bebidas alcoólicas e por um freezer na calçada”, informou a Secretaria de Ordem Pública.

Para quem trabalhava por lá, porém, essas notificações foram um drama. “Primeiro, apareceram aqui e pediram para pintar a fachada. Tinha propaganda de empresas de telefonia. Depois, mandaram mudar a geladeira de sorvetes. Tiramos da rua. Hoje, implicaram com os cestos de lixo. Tiramos todos. Sorte que colocaram uma lixeira aí na frente”.

Quando a reportagem passou pelo local, durante a troca de turno, a tensão era evidente. “Se você sentir a banca mexendo, desce e deita na frente do caminhão. Não deixa levarem, não”. O medo era de aparecer um guincho no meio da tarde. Não aconteceu. À noite, um dos funcionários deu a notícia: “Está tudo certo. Podemos ficar tranquilos”.

Percebeu que esse relato inteiro não tem um nome? Pois é. Os personagens pediram para ser assim. “É melhor. Agora que está tudo bem, não queremos incomodar ninguém. Fizeram o que é certo e podemos trabalhar tranquilos”.

E os negócios, vão bem? “Olha, alguns atletas até passam por aqui, compram algumas coisas. Mas bom mesmo era durante a obra. A peãozada vinha, comprava refrigerante de dois litros, levava para dentro. Vendia muito mais. Hoje, na Vila, não entra comida de jeito nenhum. Então, até paramos de comprar. O que sobrou de dois litros é estoque. Ninguém mais compra, para não jogar na checagem de segurança”.

A reportagem entende a situação. Em ato de solidariedade, comprou uma garrafa de Guaraná. Foi bebendo até a entrada da Vila. Lá dentro, só Coca-Cola pode ser comercializada. 

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