Olimpíadas 2016

Mãe de um dos acusados de terrorismo tem medo de ser apedrejada na rua

Mauro Pimentel/Folhapress
Mãe de Alisson de Oliveira tem medo de sair de casa após prisão do filho imagem: Mauro Pimentel/Folhapress

Leandro Carneiro

Do UOL, em Saquarema (RJ)

A mãe do jovem Alisson de Oliveira, de 19 anos, teve uma mudança grande em sua rotina há quase uma semana. Moradora de uma casa humilde em Saquarema, Lucineia de Oliveira tem medo de sair na rua. O motivo é a prisão de seu filho, acusado pelo governo de arquitetar atos terroristas para serem executados durante os Jogos Olímpicos Rio-2016. Alisson e outras dez pessoas presas estão em uma penitenciária de segurança máxima, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O jovem era empacotador em um supermercado na região. 

"Está difícil, gente apontando a gente, passa um e fala besteira, que sou mãe do homem bomba. Estou com medo de sair na rua. Ontem fui até o mercado, mas a perna tremia. Graças a Deus, ninguém falou nada, mas a cabeça da gente fica", falou em entrevista ao UOL.

"Eu tenho medo de ser apedrejada na rua, pelo que ouvi falando, se ele vier para Saquarema, vão matar ele. Pessoal dizia que ele ia explodir a Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica). Gente, nunca ouvi falar. Alisson tem boca, mas não fala. Em nossa casa, nunca falou nada (disso)".

Não por acaso, Lucineia tem evitado trabalhar desde o ocorrido. Provedora da única renda fixa da casa, um salário mínimo sendo inspetora de um colégio na cidade, ela recebeu liberação para ficar afastada um tempo até que essa questão seja resolvida. "Nunca fui de falta, nem quando ficava doente".

Desde que o filho foi levado preso pela Policia Federal, Lucineia não teve mais contato com Alisson. Sem condições de viajar até Campo Grande (MS), local em que os 11 acusados de atos preparatórios para terrorismo estão detidos, a mãe do garoto comentou sobre o último contato que teve com o menino. "Alisson não é de chorar nunca, ele é duro na queda, mas ele é carinhoso comigo. Falou: 'mãe, te amo. Te amo muito'. E nisso a polícia levou".

A mãe de Alisson aguarda o prazo dado pela Polícia Federal, de 60 dias, para voltar a ter contato com o garoto de 19 anos.

Confira trechos da entrevista com Lucineia de Oliveira:

"Um garoto fechado, que não tem coragem de matar um mosquito"

Era um garoto tranquilo, vivia dentro de casa, não saía para nada. Às vezes, ia comprar ração para os gatos na cidade, dava dinheiro para ele comprar ração, que ele tem 7 gatos. Às vezes, ia na padaria comprar pão. Era isso que ele fazia. Parou de estudar, ficou faltando, faltando e parou de estudar no nono ano. É isso, garoto calmo, tranquilo, nunca foi de alterar voz para ninguém. Não tem coragem de matar um mosquito, ele vê e expulsa mosquito. Falava que o mosquito ia morder, ele falava que a religião não permite.

Fã de Pokemon e Game of Thrones

Não era muito de conversar, vivia no mundinho dele. Conversa que tinha com ele (irmão) era de videogame, futebol, Pokémon, gostava de negócio de Pokémon.

Ele lia muito, livro das Crônicas de Gelo e Fogo, assistia muito Game of Thrones, 10 Mandamentos, gosta muito daquilo. Ele estava traduzindo o Alcorão, da língua deles para português, ele falava a língua deles. Eu levantava tarde da noite, escutava aquele negócio. Estava sentado na cama e lendo. Eu não entendia nada.

Alisson teve direito a café antes da prisão

Na hora que (a polícia) arrumou tudo, deu voz de prisão, papel tava na mão, foi aí que ele começou a tremer, ele tava muito nervoso. Aí pediram para fazer café da manhã para ele, mas ele não conseguiu comer porque estava muito nervoso. 

Celular escondido

Alisson tava dormindo, acordou, aí jogou o celular dele branco embaixo da nossa cama, a gente sempre fica ali (quarto do outro filho que casou), policial achou e achou que era do meu marido, mas não era.

Sabia que tinha celular que tava com problema, sempre tava lá mexendo, mas não era branco, era um preto que ele tinha. Não sei de onde surgiu esse celular dele.

Busca pelo Islamismo veio após fim de namoro

Não sei o que aconteceu, ela (ex-namorada) desmanchou com ele, ele entrou nessa "doideira" de entrar nessa religião, foi a partir daí. Ele só orava, ficava de 1 em 1 hora, 2 em 2 horas, nunca vi muito porque entrava 7h no serviço e voltava só 13h. Aí não tenho muito contato assim. Aí o tal do Ramadã, regime que fazem da 5h até 18h até o por do sol, ele faz tudo direitinho. Ela desmanchou com ele. Foi a partir de quando desmanchou (que ele aderiu ao Islamismo). Não sei se foi decepção, ele entrou nesse negócio de estar orando, falar que era muçulmano. Eu não conhecia a religião.

Primeira apreensão

Ele achou que ia para Saquarema, porque antes, 15 dias antes, tinha batido a Polícia Civil que levou ele até Saquarema, levou computador, celular dele. Aí chegou lá, uma hora ele voltou e disse que era só coisa de religião dele. Voltaram rindo, devolveram ele. Policiais falaram que iam entrar na religião dele que era muito boa. A gente falou: "Alisson fez lavagem cerebral nos policiais". Aí acalmou tudo.

Medo de represália após liberação

Eu tenho medo de represália, tenho medo de quando voltar. Do jeito que o povo fala, povo está falando, se chegar aqui, vão matar ele. Tenho medo, apesar de que ele não sai na rua. Vem aqui e matam ele na minha casa. Me passa pela cabeça toda hora, quase não durmo.

Topo