Olimpíadas 2016

"Nossa arena foi entregue cheia de lixo", diz chefe da vela do Brasil

Sergio Moraes/Reuters
Torben Grael faz críticas à poluição da Baía de Guanabara imagem: Sergio Moraes/Reuters

Guilherme Costa e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não há outra modalidade em que se fale tão pouco de esporte. A dez dias do início da Rio-2016, o assunto principal na vela ainda não é a preparação dos atletas, o nível dos rivais ou a chance de medalhas. Na equipe brasileira, o tema que domina perguntas e respostas em todas os contatos entre atletas e jornalistas ainda é a poluição na Baía de Guanabara, onde as competições serão realizadas nos Jogos Olímpicos deste ano. A despoluição de pelo menos 80% do local era promessa do Brasil quando se candidatou a receber o megaevento esportivo, mas não chegou nem perto de ser atingida.

“Nossa arena foi entregue cheia de lixo”, lamentou Torben Grael, 56, dono de cinco medalhas olímpicas e atual coordenador-técnico da vela brasileira. “Você tem de tentar evitar, mas nem sempre é possível. Tem lixo que fica à meia altura na água e que você não vê direito. Às vezes tem algo na divisa de maré e é difícil passar sem pegar alguma coisa. É esperar que dê tudo certo, como por acaso aconteceu nos dois últimos eventos-teste”, completou.

No entanto, Torben evitou o quanto pôde o assunto sujeira da Baía de Guanabara: “Eu não vou entrar no tema do lixo. Por favor. Vou falar sobre a equipe, e se não houver outro assunto eu não vou falar mais. A gente falou sobre lixo desde que o Rio foi escolhido como sede dos Jogos e até antes. A gente falou ostensivamente quando ainda era possível fazer alguma coisa. Agora é inútil falar de lixo”.

O tema também gerou algum incômodo entre os próprios atletas brasileiros. “Um pouco. De fato, é um esporte tão bonito, com estratégia, tática, equipamento, comunicação a bordo e uma série de variáveis muito interessantes. As pessoas poderiam conhecer mais e perguntar mais sobre o esporte e menos sobre a Baía, que é um ponto importante, que deve ser cuidada”, ponderou Isabel Swan, 32, da classe Nacra 17.

“Tem sujeira? Sim, muita. Estamos longe do ideal. Mas creio que seja bem menos do que se fala. A sujeira está muito em outras regiões da Baía, não nas raias de competições. O caos já passou, aquele susto. Todos já estão treinando aqui há algum tempo e se acostumaram. Hoje, a preocupação maior é com chuva e vento. É nisso que estamos focados. Já fui velejar na Europa e tinha que ficar tirando alga do barco. Claro que a poluição é pior, mas daremos um jeito”, adicionou Ricardo Winicki, 36, conhecido como Bimba, que disputa a classe RS:X.

Entre os atletas brasileiros que vão disputar competições de vela na Rio-2016, a mais contundente ao falar do tema Baía de Guanabara foi Martine Grael, 25, da classe 49er FX. “É vergonhoso. Temos um pouco de vergonha, e lidar com isso é complicado. Saímos para velejar nas melhores raias do mundo e temos que ver essa sujeira aqui”, ponderou.

A parceira dela, Kahena Kunze, 25, preferiu usar a Baía como exemplo das oportunidades que o Brasil perdeu para além dos Jogos Olímpicos: “Entregaram muita coisa e muita estrutura para os Jogos, mas eu fico perguntando: e para o país? O que melhorou em saúde, educação? Qual o verdadeiro legado disso? Me preocupa muito o pós-Jogos. Deveríamos pensar mais nisso também”.

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