Brasileira vê capacete como exemplo de machismo no boxe e mostra chateação
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Obrigatórios desde as Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, os capacetes serão abolidos na disputa do boxe da Rio-2016. No entanto, apenas no torneio masculino a Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador) deixará de lado a proteção que é um dos símbolos de disputas amadoras da modalidade. O feminino só testará a novidade depois dos Jogos, e isso serviu como mote para uma brasileira reclamar do machismo na condução do esporte.
(Esta reportagem faz parte do Especial #QueroTreinarEmPaz. Quando decide praticar esporte quase toda mulher enfrenta uma série de dificuldades que não deveriam existir. Dificuldades que homens não enfrentam. Se você, só porque é menina, já teve problema para praticar esporte, conte sua história nas redes sociais usando a hashtag #QueroTreinarEmPaz)
“Dentro do treinamento é tudo igual. O que os meninos fazem a gente faz. Se o treinamento for com eles, a gente faz. Infelizmente, a única diferença é que a Aiba muitas vezes faz as coisas com o masculino, vê se vai dar certo e depois faz no feminino”, reclamou Adriana Araújo, 34, boxeadora que obteve medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012.
A extinção da obrigatoriedade do capacete foi apenas uma medida tomada pela Aiba para aproximar o boxe olímpico, que é amador, das disputas profissionais da modalidade. Depois dessa decisão, anunciada oficialmente em março, a entidade admitiu a participação de atletas profissionais nas lutas da Rio-2016.
“Infelizmente, o fato da mulher fica sempre em segundo. Estou sabendo que a partir de 2017 vão tirar o capacete para as mulheres também”, lamentou Adriana. “A política do esporte sempre tem dessas coisas: primeiramente os homens, e depois as mulheres. Infelizmente”, completou.
Na campanha de Londres-2012, Adriana tornou-se a primeira boxeadora brasileira a vencer um combate em Olimpíadas. Além disso, o bronze obtido por ela findou um jejum do país, que não conseguia um pódio na modalidade em Jogos desde Servílio de Oliveira, em 1968. Os atletas nacionais encerraram a edição passada do megaevento com três medalhas – os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão também foram laureados.
“Não só no Brasil, mas mundialmente o boxe feminino tem crescido. Tenho 16 anos de experiência e cansei de ver poucas atletas em Mundiais. Hoje, só na minha categoria, são mais de 70 em Mundiais. Antigamente eram 20”, completou Adriana.
A medalhista de bronze de Londres-2012 disputa a categoria leve (até 60kg). A estreia dela na Rio-2016 está prevista para o dia 12 de agosto.