Olimpíadas 2016

Por testosterona, brasileira avalia disputa com Semenya como "desigual"

Marília Jacobson/Divulgação
Flávia de Lima, que disputará a prova de 800 metros na Rio-2016, participa de evento com corredoras amadoras imagem: Marília Jacobson/Divulgação

Juliana Alencar

Do UOL, em São Paulo

Única brasileira na prova de 800 m na Rio-2016, a paranaense Flávia de Lima, 23 anos, vê desigual a disputa com a sul-africana Caster Semenya, favorita ao ouro na competição e detentora de melhor marca do ano, 1min56s48.

Em 2009, após assombrar o mundo com o título mundial da prova, a sul-africana precisou se submeter a testes e exames de gênero por mostrar níveis elevados de testosterona. Ficou comprovado que Semenya sofre de hiperandroginismo, uma deficiência crossomática que resulta na maior produção do hormônio e na ausência de útero e ovários. Na prática, essa deficiência faz com que a atleta tenha um nível de testosterona mais alto que outras competidoras, o que, supostamente, lhe daria mais vantagem esportiva. 

Devido ao caso, a sul-africana foi suspensa preventivamente das competições internacionais por quase um ano. A Iaaf (Associação Internacional de Federações do Atletismo) pediu mais uma série de exames no período e, em agosto de 2010, “aceitando as conclusões de um júri de peritos médicos”, autorizou a jovem a voltar às disputas “com efeito imediato”. Os detalhes do exame, no entanto, são mantidos em sigilo até hoje pela Iaaf. O caso ainda gera polêmicas e controvérsias entre as rivais de Semenya, como acontece com a atleta brasileira.

"A gente entra desigual. Na minha opinião, deveria existir uma regra com limite de hormônio masculino. Mas como o dela é natural, é complicado debater essa questão", avaliou Flávia ao falar da rival.

Tiziana Fabi/AFP
Caster Semenya teve de fazer testes de gênero para provar que é mulher imagem: Tiziana Fabi/AFP

A Iaaf chegou a criar um limite máximo nos níveis de testosterona das atletas (10 nmol/l). As mulheres, que ultrapassassem esse nível, teriam que tomar hormônios para que eles sejam reduzidos aos impostos pela norma. No entanto, em julho de 2015, a Corte de Arbitragem do Esporte (CAS) reverteu essa decisão, após processo da corredora indiana Dutee Chand, que estava preparada para competir nos Commonwealth Games em 2014 até que seus altos níveis de testosterona foram descobertos.

Os advogados de Chand insistiram que ela não pode ser culpada por suas vantagens genéticas. Eles também argumentaram que essa lei discrimina as mulheres, pois homens não têm que passar por testes para avaliar seus níveis naturais de testosterona. O CAS pediu para a Iaaf comprovar cientificamente esse ganho de desempenho e suspendeu a legislação de hiperandroginismo por dois anos.

Rio será testes de nervos para 2020

Bronze na prova no Pan de Toronto, Flávia quer aproveitar a Rio-2016 como um "teste de nervos" de olho nos Jogos Olímpicos de Tóquio. "Vai servir para eu lidar com uma adrenalina diferente. O nível da competição é diferente do que eu estou acostumada, a adrenalina é o outra e o nervosismo que eu nunca tive eu posso ter", avalia. "A alegria de ter obtido índice olímpico eu já vivi, hoje eu quero um bom desempenho lá, quem sabe melhorar a minha marca. Mas o meu foco principal é 2020".

Na semana passada, Flávia de Lima seguiu com a equipe de atletismo para o Rio, onde continuará a preparação para a prova. "Agora vou entrar na reta final, em busca das melhores condições físicas para a competição".

Família está mais nervosa que a atleta

Flávia de Lima participou de um evento com corredoras amadoras promovido pela fornecedora de materiais esportivo que lhe patrocina, em São Paulo. Namorada há dois anos do ex-atleta Cézar Augusto, Flávia conta que a família está mais ansiosa que ela para a competição e que o companheiro tem tido papel fundamental na preparação para os jogos.

"Ele é mais responsável que eu. Quando eu vou visitá-lo no Paraná, ele fica preocupado com o horário de dormir, com o que eu como... Não deixa eu comer nada fora do limite, fugir da dieta do atleta", afirma ela, que aponta que a contribuição também é na questão da psicológica. "Quando eu tenho um problema, é para ele que eu conto. Ele sempre me escuta, apoia". 

Vaidosa, Flávia diz que só abre mão de maquiagem na hora das competições. "A maquiagem derrete quando a gente sua", justifica. "Mas eu sempre procuro fazer algo diferente no cabelo, cuido das unhas, coloco uma roupa  mais legal. Dá para ser preocupar com isso, sim", encerra. 

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