Olimpíadas 2016

Segurança causa saia-justa entre Rio-2016 e governo por imagem dos Jogos

Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, deu entrevista na quinta-feira para falar da prisão do grupo suspeito de terrorismo imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

A atuação do governo federal na segurança dos Jogos tem causado uma saia-justa com o Comitê Organizador Rio-2016. Há uma preocupação de que ações ostensivas podem ter impacto de forma negativa na imagem da Olimpíada e assim ter afastado o público. A crítica ocorre até dentro de setores do próprio governo.

A Olimpíada acontecerá precedida por uma série de notícias ruins: falência do Estado do Rio, zika, aumento de violência na cidade olímpica. E o Rio-2016 já administrava essas crises de imagem que chegaram a gerar a devolução de 50 mil ingressos só após o anúncio da calamidade no governo estadual. Na avaliação do comitê, uma das imagens mais negativas foi o protesto de policiais com faixas dizendo "Bem-Vindo ao Inferno" no aeroporto.

Paralelamente a tudo isso, o governo federal iniciou uma campanha antiterrorismo com estardalhaço na mídia. Primeiro, na última sexta-feira, o Ministério da Defesa anunciou o reforço de todo o plano de segurança para a Olimpíada após o atentado terrorista em Nice, na França. Não houve nenhum aviso da mudança ao comitê Rio-2016 e ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Naquele mesmo dia, houve uma reunião para alinhar a comunicação entre as partes, que tinha ficado frouxa após a troca de governo.

Depois da mudança de planos, o governo anunciou a deportação de um suposto terrorista e estar monitorando uma lista de suspeitos. O ministro da Justiça, Alexandre Moraes, tem dado entrevistas falando sobre diversas medidas antiterrorismo, ainda que minimize o risco. 

Além disso, os organizadores dos Jogos estão incomodados com as simulações de operações de segurança no Rio de Janeiro como a ocorrida no domingo, no Maracanã. Entendem como excesso de exibição de força. Essa opinião é compartilhada por setores do Ministério da Justiça que avaliam que a Defesa está exagerando ao tratar os Jogos Olímpicos do Rio como uma guerra, e não um evento festivo.

No episódio do suposto grupo terrorista, o comitê Rio-2016 foi avisado ainda de manhã pelo Ministério da Justiça de que haveria um anúncio importante sobre segurança. A partir daí, junto com o COI, passou a monitorar o efeito na venda de ingressos após a entrevista do ministro da Justiça. Até o meio da tarde, a notícia não tinha dito impacto nas vendas, na avaliação. Mas um dos motivos era que foi feita uma maciça campanha de divulgação pública em mídias. 

Não há um avaliação interna no comitê se houve excesso do governo na ação antiterrorista porque os detalhes de segurança nacional só são conhecidos pela Polícia Federal. É certo, no entanto, que a imagem de Moraes falando de terroristas em coletiva ao vivo não ajuda a imagem dos Jogos. As prisões de quinta-feira vazaram porque uma mulher de um dos acusados divulgou o mandado de prisão no Facebook. 

A prova de que o Comitê Rio-2016 está tentando minimizar o assunto segurança fica clara em declaração dada pelo diretor-executivo de esportes da entidade, Agberto Guimarães, ao UOL, nesta quinta-feira, dentro do centro de imprensa do Parque Olímpico. “Se me preocupar com segurança, não faço os Jogos”, disse. “Sei que esse é um tema sensível, mas temos autoridades competentes e capazes para lidar com isso”.

Ex-corredor de 800 m e 1.500 m, Agberto teve como auge da carreira esportiva um quarto lugar nos Jogos de Moscou, em 1980. Naquela época, no auge da Guerra Fria, o evento esportivo foi marcado por um boicote liderado pelos Estados Unidos – 61 países deixaram de competir. As Olimpíadas ainda conviviam com os efeitos de um ataque do grupo palestino Setembro Negro, que matou 11 membros da equipe de Israel em Munique-1972. Agberto usou esses exemplos para tentar passar uma imagem de segurança à realização dos Jogos no Rio.

"Nas Olimpíadas em que eu estive, como atleta ou com outras funções, sempre houve essa preocupação com o assunto segurança. Mas também sempre existiu um trabalho muito forte para evitar que isso comprometa a grandiosidade do evento, e eu tenho certeza que vai ser assim também aqui no Rio de Janeiro".

Venda de ingressos inferior à Londres-2012

Alex Ferro/Rio 2016/Divulgação
Rio-16 tem 1,4 milhão de ingressos disponíveis imagem: Alex Ferro/Rio 2016/Divulgação

Por enquanto, a venda de ingressos para os Jogos é inferior à Olimpíada de Londres na mesma época. Ainda há cerca de 1,4 milhão de entradas disponíveis de um total 7 milhões, isto é, 20% --há ainda uma contingência de 300 mil. No começo do evento, Londres-2012 tinha negociado mais de 90% de seus bilhetes.

O percentual de estrangeiros entre os compradores de ingressos da Olimpíada de 2016 gira em torno de 20%, número considerado esperado no comitê.

Já em relação à operação da segurança em si, o Comitê Rio-2016 está satisfeito, embora identifique algumas falhas. Uma delas foi a falta de raio-X nas entradas nos primeiros 15 dias de operação dos Jogos, o que foi causado por atraso do governo federal na contratação de empresa. O outro equívoco foi a falta de policiamento e checagem de credenciais na Vila de Mídia.

* Colaborou Guilherme Costa

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