O ex-atleta olímpico que trabalha lado a lado com os presidentes do Brasil

Fernando Santos
Colaboração para o UOL
Nissan/Divulgação

Aos 82 anos, o coronel Wilson chega diariamente às 7h30 para trabalhar no gabinete especial da Presidência da República para as Olimpíadas do Rio, iniciando sua rotina que inclui nadar 1.500 metros no intervalo para o almoço, fazer musculação e até um pouco de caminhada.

"Entro cedo para poder ser liberado antes e praticar os meus exercícios", conta José Wilson Pereira, coronel de patente e atleta de duas Olimpíadas, tendo competido no pentatlo moderno.

Como a grande maioria dos atletas olímpicos brasileiros, o coronel Wilson, como é conhecido e prefere ser chamado, não ganhou medalha olímpica. Em Roma-1960, ele ficou em 50º lugar na prova individual e em 13º por equipes.

Quatro anos depois, em Tóquio, mostrou uma boa evolução com o 28º lugar. Antes, já havia conquistado duas medalhas de prata em Jogos Pan-Americanos. Mas a premiação olímpica nunca lhe fez falta.

“É um grande erro colocar a medalha como o principal objetivo de um atleta”, diz. “Claro que todos querem ganhar, que a medalha é importante, mas o fundamental para o esporte é sua formação, servir de ferramenta para a educação da população".

Por isso, o ex-atleta acredita que o país precisa mudar sua política do esporte. “Eu daria outro rumo, não se pode investir apenas no esporte de alto rendimento. A prioridade não pode ser a medalha, mas ter o esporte para formar cidadãos, gente honesta. Não se trata apenas de lutar para ganhar sempre, porque no esporte ganhar e perder faz parte. A conquista individual não pode ser o objetivo final.”

Trabalhando atualmente em Brasília na mais alta cúpula do poder no país, o coronel Wilson já serviu diretamente o ex-presidente Lula, a presidente afastada Dilma Rousseff e agora o presidente interino Michel Temer. Segundo ele, a mudança recente no comando não irá interferir no que acredita que será o sucesso dos Jogos do Rio.

“Não mudou nada. O presidente Temer tem dado total aval. Houve troca de ministro do Esporte, é verdade, mas a maioria dos técnicos permanece.

No Governo Federal, o coronel Wilson ocupou diversos cargos no Ministério da Integração Nacional e na Secretaria Nacional da Defesa Civil. Sua especialidade: ações de prevenções a tragédias e calamidades.

 No caso do Rio, ele acredita que medidas extremas não serão necessárias, apesar de diversos  na se  saúde, na educação, na mobilidade urbana e a decretação do estado de calamidade pública pelo governo estadual.

“Tudo está sendo bem planejado, inclusive com a segurança, acredito que não haverá nenhum problema. O Brasil está acostumado a realizar grandes eventos, foi assim com a Copa do Mundo, a visita do papa Francisco. Os planos de prevenção existem, mas vai correr tudo bem”, afirma.

Hoje, o coronel Wilson é um dos responsáveis pela organização do revezamento da Tocha Olímpica, que percorre o país. Ele foi um dos primeiros a conduzir a tocha, logo após a chegada a Brasília, em maio.

A ligação com o esporte e com os Jogos Olímpicos vem de longe. Ainda criança, ele aprendeu a nadar, no rio que banha a cidade onde nasceu no interior cearense, em Araçoiaba. Ali começaria sua carreira no pentatlo moderno, como revelado no livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", da professora Katia Rubio, que resgata a história dos 1.796 esportistas do país que participaram dos Jogos Olímpicos.

A carreira militar o levou para o Rio de Janeiro. Como bom nadador, foi convidado a integrar a equipe de pentatlo moderno do Exército. "Na época, o mais importante era saber nadar. E sempre fui um bom nadador", lembra o coronel Wilson, que chegou a bater o recorde mundial na prova de natação do pentatlo moderno, até hoje um esporte pouco conhecido.

"Era na verdade um esporte praticado muito mais por militares, por ser caro, devido aos cavalos, mas era possível utilizar a cavalaria do Exército. Hoje, já está mais difundido, inclusive com a medalha de bronze da Yane Marques nas Olimpíadas de Londres".

Natação, equitação, tiro, esgrima e corrida compõem as cinco provas do pentatlo moderno. Hoje octogenário, o coronel Wilson não compete mais. Dedica-se ao convívio com sua mulher, com quem está casado há 58 anos, aos três filhos, às suas braçadas diárias na piscina e ao reencontro com os muitos alunos que ensinou quando treinou as equipes de natação do Tijuca e do Minas Tênis Clube.

"Até hoje ainda nos reunimos, temos um grupo chamado Old Swimmers (Velhos Nadadores) e fico muito feliz por ter ajudado na formação não só de atletas, mas de médicos, dentistas, engenheiros".

As Olimpíadas disputadas há mais de 50 anos ainda estão vivas em sua memória. "É um ambiente agradável, de muita amizade, cordialidade e companheirismo".

Sua maior lembrança não é de um campo de provas. "Eu me emocionei na abertura, no acendimento da pira olímpica em Tóquio. Ela foi acesa por um japonês (Yoshimori Sakai), que havia nascido em Hiroshima justamente no dia (5 de agosto de 1945) da explosão da bomba atômica. Aquilo foi um verdadeiro exemplo do espírito de confraternização e de paz dos Jogos Olímpicos".

Popperfoto
Acendimento da pira olímpica em Tóquio-1964 ainda está na memória de coronel Wilson