! Ministro do Esporte: Há muita desinformação e até má-fé contra Olimpíada - 05/07/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Ministro do Esporte: Há muita desinformação e até má-fé contra Olimpíada

Daniel Brito

Do UOL, em Brasília

A turbulenta reta final da preparação para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016 pode ser fruto de desinformação ou até de má fé de algumas pessoas, alerta o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, que assumiu o cargo há pouco mais de um mês. Em entrevista exclusiva concedida ao UOL na tarde da última quinta-feira (30), em seu gabinete, em Brasília, ele afirma que boatos podem ocasionar um cenário assustador que não corresponde com a realidade.

Picciani, 36 anos, falou por quase uma hora sobre futebol, Rio-2016 e política com a reportagem. Disse que não deve fidelidade à presidente Dilma, que o apoiou quando esteve na liderança do PMDB na Câmara dos Deputados. Contou que confia na equipe na qual está se cercando. Seus auxiliares são alvo de polêmica porque muitos deles figuraram no noticiário policial, como secretário de futebol, Gustavo Perrella, dono de um helicóptero apreendido com quase meia tonelada de cocaína. 
 
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
 

"Os boatos sobre Rio não retratam a realidade"

Acho que há muita desinformação das pessoas em relação à Olimpíada. Pode haver em certos casos algum tipo de má-fé, mas em sua grande maioria é fruto de falta de informação. As pessoas acabam ouvindo um boato ou uma informação que não necessariamente retrate a realidade, se assustam com isso e ajuda a propagar este sentimento. Não que o Rio não tenha problemas. O Rio tem problemas, como outras grandes cidades têm, como o Brasil tem, e eles precisam ser enfrentados, não podem ser escondidos ou subestimados. A gente tem que aproveitar a oportunidade para buscar soluções. Ninguém nunca disse que as Olimpíadas resolveriam todos os problemas do Rio de Janeiro, mas ela pode ajudar a desenvolver a cidade.
 

Vaias a Temer no Maracanã não serão o "fim do mundo"

Isso é uma questão muito imprevisível. A gente torce para que não aconteça. Mas dizia Nelson Rodrigues que no Maracanã se vaia até minuto de silêncio. Então, também não é nenhum fim do mundo alguém ser vaiado, como também não é sinônimo de algo absolutamente positivo ser aplaudido. É uma manifestação individual que pode ocorrer e as pessoas têm a liberdade de decidir o que fazer.
 

"Há alarmismo em relação ao zika"

Acho que, de certa forma, o impacto do zika vírus nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos está superestimado. Primeiramente, o Brasil não é o único país do mundo com o zika vírus, existe em 60 países. Há um certo alarmismo em relação ao zika. Do ponto de vista concreto, nós tivemos uma redução de sete mil casos notificados em janeiro de contaminação pelo mosquito Aedes Aegypti no Rio de Janeiro para 700 casos em maio. Uma redução de 90%, esperamos que em agosto praticamente não tenha. 
 

PMDB e o culpado pelo Estado de calamidade pública do Rio

Acho que não é uma questão do PMDB. O Rio sofre, assim como todo Brasil, os efeitos do terceiro ano de crise econômica. Reduz receita, reduz emprego. O Rio de Janeiro teve uma especificidade que foi a indústria do petróleo. Infelizmente, a economia do Estado do Rio é muito dependente deste setor. Alguns meses atrás, chegamos a ver petróleo abaixo dos US$ 30 [R$100] que era um valor nominal do final da década de 1990. Com isso, o Estado perdeu uma parte significativa de suas receitas. A isso se deve [a calamidade pública]. O que eu acho é que o governo do Estado dirigido pelo PMDB, hoje sendo dirigido pelo governador Dornelles [Francisco Dornelles], que é do PP, mas junto com o PMDB, deve fazer um esforço grande de ajustamento. Talvez devesse ter feito um ajustamento mais forte em 2015 já visualizando o agravamento da crise. Mas não houve ação do governo do PMDB que tenha levado a essa situação. Ao contrário, os governos do PMDB reergueram o Estado depois de décadas de esvaziamento econômico. Recuperou a autoestima do Rio de Janeiro. Agora vai tentando superar, junto com o Brasil, esta crise.
 

"A CBF precisa se modernizar" 

Eu não costumo tratar das questões fulanizando: fulano num sei o quê. Acho que a CBF, assim como o esporte, precisa se modernizar, ser mais transparente na sua gestão, ter uma melhor compliância, ser mais eficiente, independentemente dos nomes. Quem tiver algum tipo de problema, que responda por seus atos. Que a Justiça, ao final do julgamento, condene quem tiver de condenar e absolva quem for inocente. É o que eu penso. Mas, de um modo geral, a CBF e o esporte brasileiro precisam se tornar cada vez mais eficientes. Há boas iniciativas, que têm dado certo e precisam ser cada vez mais difundidas. 
 

Como escolheu os colegas de equipe

Primeiro, todos esses fatos já foram esclarecidos pelas pessoas nas instâncias apropriadas. Com relação aos secretários, eles não têm neste momento nada que pese contra eles em nenhum lugar. Esclareceram plenamente. Não me cabe julgar. Não sou juiz, não sou promotor, não sou policial. Não investigo, não acuso e não julgo. Respeito a decisão e o trabalho daqueles que têm o papel de fazer isso e fizeram. As pessoas tiveram a oportunidade de se defender e conseguiram comprovar o que precisavam comprovar. No ministério, eles têm colaborado tecnicamente para o Ministério, tenho plena confiança no trabalho desenvolvido pela equipe, que está em formação. Ainda estamos em formação, não é fácil formar equipe no serviço público. Nossas condições para concorrer com a iniciativa privada são muito limitadas e a gente tem tentado fazer um esforço para montar uma equipe que a gente tenha confiança técnica e seja afinada com os conceitos que a gente quer implementar daqui para frente, sobretudo no trato do legado, nas bandeiras do esporte para o futuro.
 

Não há fidelidade ao governo Dilma

Não fui eleitor da presidente Dilma. Isso é um fato público, eu participei da coordenação da campanha do Aécio Neves. Depois, já eleito, fui eleito líder do PMDB na Câmara, a maioria da bancada apoiava, fazia parte base de sustentação do governo. Defendia que se buscasse dar governabilidade ao país para que medidas importantes para o enfrentamento da crise pudessem ter respaldo político. Tentei ajudar o governo da presidente Dilma e do vice-presidente Temer, que foi eleito. Mas fidelidade, não. Nunca tive esta relação com a presidente, muito embora, do ponto de vista pessoal, tenho a maior deferência à presidente Dilma e todo o respeito. Da minha parte não tenho nada para criticá-la ou mostrar algo que desabone sua conduta pessoal.
 

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