Potência, natação dos Estados Unidos acaba seletiva com desempenho em xeque

Guilherme Costa
Do UOL, em Omaha (EUA)
Al Bello/Getty Images/AFP
Michael Phelps estará em três provas individuais, mas a natação dos EUA está cheia de dúvidas para a Rio-2016

A natação dos Estados Unidos acumulou 31 medalhas (16 ouros, nove pratas e seis bronzes) nas Olimpíadas de 2012, em Londres. O número representa mais do que o triplo da quantidade de pódios da China, segunda colocada na modalidade, e fez das piscinas as principais fontes de láureas para os norte-americanos nos Jogos. Para um país que aposta tanto no esporte, portanto, a seletiva nacional disputada em Omaha até o último domingo (03) deixou um enorme ponto de interrogação. Em meio a um processo de renovação, a natação dos Estados Unidos tem de lidar com grande desconfiança para a Rio-2016.

O principal motivo disso é a comparação com países. Resultados obtidos no classificatório colocaram “apenas” 22 norte-americanos entre os três melhores do mundo em 2016. Conor Dwyer (200 m livre) fez na seletiva o nono tempo da temporada, mas havia registrado anteriormente a segunda marca mais rápida do planeta no ano. São 23, portanto, os nadadores dos Estados Unidos que chegarão à Rio-2016 entre os três primeiros do ranking mundial de suas provas.

A lista não considera os seis revezamentos. No entanto, ainda que conseguissem aproveitamento perfeito nas provas coletivas, os norte-americanos precisariam de um rendimento igualmente livre de falhas entre os nadadores favoritos e dependeriam de ascensões de última hora para igualar o desempenho de Londres-2012.

“Uma das coisas que nós temos feito bem, melhor do que qualquer um, é melhorar da seletiva até os Jogos. Estou confiante de que poderemos fazer isso de novo. Temos um grande plano para as Olimpíadas”, disse o confiante Bob Bowman, técnico de Michael Phelps e da equipe masculina da USA Swimming, entidade responsável pela natação em âmbito nacional.

A questão do desempenho foi tema recorrente em entrevistas coletivas de técnicos e atletas durante toda a semana. A enorme de quantidade de vezes em que o tema foi abordado pela imprensa norte-americano dá uma boa medida do quanto as pessoas no país estão preocupadas com a queda de rendimento.

Esses questionamentos atingem até mesmo os nadadores mais badalados. Michael Phelps, 31, saiu de Omaha dizendo estar frustrado com os tempos feitos na seletiva. “Foi uma campanha medíocre”, resumiu Bowman. O maior nome da natação feminina, Katie Ledecky, 19, também fez um classificatório bem inferior a seus melhores tempos.

A seletiva teve 26 provas. Em 18, o tempo do vencedor foi mais rápido do que havia registrado o melhor nadador da classificação norte-americana para 2012. Contudo, além de ter ficado estagnado em pelo menos oito disputas, o país teve uma curva de evolução inferior a alguns de seus principais rivais na modalidade.

“Eu não tenho uma boa explicação para isso”, ponderou David Marsh, técnico responsável pela natação feminina. “Tenho algumas ideias, mas ainda não estou pronto para externá-las”, completou Bowman.

A seletiva disputada em Omaha definiu 45 nadadores que representarão os Estados Unidos na Rio-2016. O grupo terá um contingente de 30 estreantes em Jogos – foram 28 em Londres-2012. Ryan Lochte (400 m medley), Matt Grevers (100 m costas), Missy Franklin (100 m costas) e Tyler Clary (200 m costas), atuais campeões olímpicos, não poderão defender seus títulos.

“Às vezes você precisa da informação desse tipo de competição [como a seletiva] para saber o que fazer. Se você não coloca a quarta marcha, não vai chegar ao Rio. Simplesmente não vai se classificar”, ponderou Marsh.

O caso de Grevers é emblemático. Se tivesse repetido na seletiva o tempo que rendeu a medalha de ouro em Londres-2012, o nadador teria sido o primeiro colocado na classificação para os Jogos deste ano.