Por que a 2ª colocada foi quem mais celebrou em prova de natação nos EUA?
Guilherme CostaDo UOL, em Omaha (EUA)
Leah Smith, 21, ainda conversava com jornalistas no Centurylink, estádio situado em Omaha (Estados Unidos), e um grupo de adolescentes já se aglomerava num canto da área reservada à imprensa. A festa dos garotos começou assim que os microfones foram desligados, e nadadora externou ainda mais a emoção que já havia deixado evidente ao sair da piscina – ela obteve uma das vagas dos Estados Unidos nos 400 m livre dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. A cena era de alegria, mas escondia um detalhe relevante: Smith havia perdido a prova. Afinal, por que alguém celebra tanto por chegar no segundo lugar?
Primeiramente, é claro, era uma questão de classificação. Os Estados Unidos podem inscrever até dois atletas por prova individual da natação na Rio-2016, e a seletiva disputada em Omaha é a única janela para formação desse time. A despeito de não ter vencido, portanto, Smith conseguiu a vaga olímpica.
A festa em torno da nadadora, contudo, também tem relação com quem venceu a prova. A disputa dos 400 m livre foi dominada amplamente por Katie Ledecky, 19, recordista e campeã mundial da distância.
Desde Londres-2012, quando obteve o ouro olímpico nos 800 m livre, Ledecky ascendeu ao posto de grande nome da natação feminina no planeta. É nas provas de distâncias mais longas – os 400 m livre, por exemplo – em que essa supremacia fica mais evidente.
O domínio de Ledecky criou uma situação insólita em Omaha. A nadadora abriu larga vantagem desde o início dos 400 m livre, mas o público que estava no Centurylink vibrava a cada batida dela na parede. Era como se houvesse uma disputa acirrada, mas não entre duas atletas. Ledecky brigava apenas com a linha imaginária do recorde mundial – 3min58s37, que ela mesma estabeleceu em 2014.
Durante grande parte da prova, Ledecky esteve à frente do recorde. Nos últimos metros, porém, a linha imaginária acabou vencendo. A primeira colocada terminou o percurso em 3min58s98, e a maior prova do patamar que ela estabeleceu é que a última batida na parede foi a menos celebrada pelos torcedores.
“Só disse para ir lá, nadar e me divertir. Foi o que tentei fazer. Só queria bater antes na parede”, disse Ledecky.
Leah Smith cumpriu a prova em 4min00s65. Foi uma distância considerável para Ledecky, é verdade, mas uma vantagem superior a seis segundos para a terceira colocada na seletiva (Cierra Runge, que fez 4min07s04) e quase três segundos mais veloz do que a holandesa Sharon van Rouwendaal fez no vice-campeonato mundial da prova em Kazan-2015 (4min03s02).
“Sou mais velha do que a Katie, mas desde que ela venceu os 800 m livre em Londres e levou a natação feminina a outro nível, acho que todo mundo se inspirou. Ela mostrou que nós podemos derrubar muitas barreiras”, elogiou Smith.
“Os 400 m livre são uma corrida longa, mas de sprint. Leah, eu acho, encara a prova muito como eu vejo. Ela ataca e consegue se manter. Eu acho que temos estilos bem similares, e que esse é o estilo para nadar essa prova”, completou Ledecky.
Antes do início da seletiva norte-americana de natação, Ledecky recebeu elogios de Michael Phelps, maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos. O norte-americano, que também compete em Omaha, enalteceu justamente a soberania da compatriota em âmbito mundial. O assédio em torno dela ratifica exatamente o status proveniente desse domínio – algo que o rosto de menina de 19 anos quase consegue esconder.
A maior vitória dos 400 m livre, portanto, não foi a de quem terminou a prova na frente. Ledecky segue sendo o maior nome do planeta na distância, mas ganhou uma concorrente. A festa de Leah Smith foi a maior prova disso.